Guia da Semana

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Nos últimos meses, muitos têm me perguntado a minha opinião sobre o andamento da cena carioca. Sobre os espetáculos que tenho visto, do que tenho gostado, do que não gostei, do que achei fraco e, principalmente, da interpretação dos atores. Confesso que acho a tarefa de criticar o trabalho alheio um tanto delicado. Afinal, o esforço empregado na realização de um espetáculo é tamanho e, como tal, deve merecer o nosso respeito. Algo de bom é sempre possível tirar de qualquer trabalho.

Cada dia que passa, divirto-me menos assistindo a um espetáculo por conta de que deixei de ver com os olhos de público e passei a ver como crítico, ator e escritor. Isso dificulta as coisas, pois parte da diversão está em se entregar sem regras ou amarras e - muito menos - preconceitos ao trabalho proposto.

Quando analiso a cena carioca vejo que muita gente boa tem marcado presença. Além daqueles que são unanimidades como os diretores Aderbal Freire Filho, João Fonseca e João Falcão, tem muitos nomes que devem se firmar nos próximos dez anos. Gente nova e nem tão nova que iniciaram há pouco tempo ou que reinventaram suas carreiras.

Da atual safra, destaco sete nomes que devemos ouvir por um bom tempo e que se continuarem a fazer as escolhas certas, deixarão sua marca no teatro carioca.

Rodrigo Pandolfo - O primeiro da lista é, sem dúvida, Rodrigo Pandolfo, um jovem ator que vem brilhando em O Despertar da Primavera, no papel de Moritz. Foi indicado ao Shell de melhor ator no ano passado por Cine-teatro limite. Ator na essência, possui uma paixão e uma entrega que pouco tem se visto nos últimos anos. Tive a oportunidade de vê-lo em cena, pela primeira vez, num espetáculo de formatura de uma universidade do Rio. A peça chamava-se Valentin e Rodrigo já era o grande destaque. Preparem-se, pois para este ator não existem limites e, com certeza, o veremos por muito tempo.

Guilherme Leme - Ator de longa data, talentoso, experiente e arrojado, tem se destacado na função de diretor. Com uma direção e uma concepção bem cuidada, tem realizado excelentes trabalhos como A Forma das Coisas, O Estrangeiro e Shirley Valentine. Esta capacidade de se reinventar e abraçar uma nova função garante um olhar mais maduro e interessante aos desafios recentes que se lançou. Novos trabalhos devem estrear em breve nos teatros cariocas.

Rodrigo Nogueira - Ator e escritor, com larga profusão teatral, Rodrigo vem se destacando mais como escritor do que como ator. Além de ser um dos colaboradores da trama de Bela, A Feia, assina o texto da peça Play, na qual também atua e que está indicado ao Prêmio Shell deste ano de melhor texto. Profissional articulado, transita entre todos os gêneros e está sempre envolvido em algum projeto, seja na TV ou no teatro.

Aurora dos Campos - Quando se fala em cenografia, tem se ouvido muito o nome de Aurora dos Campos, indicada ao Shell do ano passado por seu primeiro trabalho em A Forma das Coisas. Assinou recentemente os cenários de O Estrangeiro, Shirley Valenine e La Musica. Aurora é brilhante na simplicidade da forma e em cenários conceituais. Seu trabalho é para ser visto e apreciado. Um nome que não pode faltar.

Mateus Solano - Nome em voga nas principais rodas por conta de seus trabalhos recentes na TV. Mateus é um ator que vem se destacando e ocupando um espaço no Olimpo das grandes estrelas. Assim como Pandolfo, nasceu para ser grande. De formação teatral consistente, é um ator como poucos. E com certeza deverá ter garantido seu espaço, tanto na TV quanto no Teatro.

Pierre Baitelli - Este é um ator que tem sido uma surpresa. Cara de anjo, perfil sedutor, o que parecia ser mais um rostinho bonito tem se mostrado um ator talentoso. Pierre está em cartaz, assim como Pandolfo, em O Despertar da Primavera vivendo o protagonista Melchior. Um excelente ator em cena e que aos poucos vai cavando suas oportunidades. Esteve na minissérie Capitu e agora se prepara para viver um vilão gay na minissérie Cinquentinha, de Aguinaldo Silva.

Armando Babaioff - O último da nossa lista, e não menos importante, é o pernambucano Armando Babaioff, que tem feito um excelente trabalho no teatro. Esteve em cartaz no ano passado com o Santo e a Porca, que lhe valeu uma indicação ao Prêmio APTR de melhor ator coadjuvante e brilhou na turnê em Portugal com o musical Gota D'Água, no papel de Jasão. É um dos atores que optou por uma carreira séria e bem construída e em breve estará em cartaz com o espetáculo Na Solidão dos Campos de Algodão, com direção de Caco Ciocler, que produz e atua.

É claro que existem muitos outros nomes em efervescência na cena carioca. Gente que tem encontrado o tom certo de suas carreiras e que por isso repercute nas escolhas e trabalhos que realizam. E que, provavelmente, farão parte de uma outra lista, em um outro momento.

Os sete de que falo têm um diferencial que os tornam únicos e por isso devem ser vistos e aplaudidos, por mim, por vocês, por todos nós.

Quem é o colunista: Alexandre Pontara.

O que faz: Paulista, radicado no Rio, Alexandre Pontara é uma mistura de ator, dramaturgo e produtor cultural.

Pecado gastronômico: Bolo Negro e Tiramissú de Chaika.

Melhor lugar do Brasil: Paraty.

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Atualizado em 6 Set 2011.