Guia da Semana

Foto: Sergio Baia


Brincalhão - e um tanto sarcástico - Rafael Cardoso, 23 anos, de nada lembra Klaus, o menino indeciso dividido entre duas paixões juvenis, seu personagem na novela Beleza Pura. De adolescente franzino a homem sarado, em cenas quentes e ousadas, é assim que ele será visto nas telas no final de outubro, no filme Do começo ao fim, do diretor Aluizio Abranches. Na obra, que teve o trailer divulgado na internet e que causou o maior burburinho, ele interpreta o homossexual Thomás, que se apaixona pelo meio irmão. Seguindo a maré de personagens polêmicos, Rafael viverá Eduardo, na minissérie Cinquentinha, de Agnaldo Silva, um jovem de 18 anos que se apaixona pela avó do melhor amigo.

Em um papo com o Guia da Semana, Rafael fala sobre o início de sua carreira, conta - entre outras histórias - que instalou alarme de segurança na Escola de Atores de Porto Alegre para conseguir fazer aulas de graça, e revela que não fez nenhum laboratório específico para interpretar um homossexual na película Do começo ao fim.

Guia da Semana: Como você começou na carreira de ator?
Rafael Cardoso: Comecei em Porto Alegre, aos 16 anos, quando estudei na Escola de Atores de lá. Na época eu nem tinha grana para pagar a escola, eles me acolheram. Meu pai tem uma empresa de alarmes e e eu fiz uma instalação lá para eles me deixarem estudar de graça. Fizemos uma troca (risos). Fiz alguns trabalhos publicitários e a convite de um produtor da Globo, que me conheceu quando eu fazia participações na RBS, fui para o Rio de Janeiro para fazer um teste na oficina de atores da emissora. Fiquei por um ano na oficina, fiz pequenas participações em seriados, novelas e na Turma do Didi. Depois voltei para Porto Alegre, para participar da minissérie Pé na Porta, da RBS, e em seguida voltei para o Rio, para fazer Beleza Pura. Ao mesmo tempo, realizei os testes para o filme (Do começo ao fim), que começaram antes da novela. Em um ano fiz três testes para o filme e quando terminou a novela, comecei a filmar, o que durou até o final de 2008.

Guia da Semana: Como foi interpretar Thomás (no filme Do começo ao fim)?
Rafael Cardoso: É o primeiro homossexual que eu interpreto. Foi desafiador na verdade, é um personagem polêmico, complexo, cheio de conflitos. Na verdade foi um presente para mim, porque quanto mais conflitos tiver, mais instigante para o ator. Lógico que foi difícil, não vou dizer que foi fácil, mas foi bem proveitoso, aprendi muito todos os dias que a gente ensaiava.

Guia da Semana: Você fez laboratório?
Rafael Cardoso: Não fiz nada especifico, eu tenho vários amigos homossexuais, inclusive um deles já teve uma história parecida, viveu algo com um meio irmão. Essa história acontece mesmo, não é mera ficção. Eu e minha mulher temos vários amigos gays, não é uma coisa nova para mim, estou bem acostumado.

Guia da Semana: Assistiu algum filme? Se espelhou em alguém?
Rafael Cardoso: Eu me lembrei muito do Gael Garcia Bernal no filme Má Educação, do Almodóvar. Ele não tem lembranças desse amor transcendente, mas eu me lembrei muito da interpretação dele. Tem também um livro que eu li, As Avós, de Doris Lessing, que trata de valores, assim como o filme. Eu acredito que o importante é seguir a ideia que você tem de alegria, de ser feliz.

Guia da Semana: Agora que a maioria das pessoas sabe que você vai viver um homossexual no cinema, você passou a ser assediado por homens?
Rafael Cardoso: Mais ou menos. Quando a gente sai, rola um interesse por saberem que eu interpretei um gay, mas nada de mais. É mais curiosidade sobre o filme, não xaveco, é mais sobre o filme mesmo.

Guia da Semana: Depois que o filme estrear esse assédio pode aumentar. Você está preparado para isso?
Rafael Cardoso: É, pode aumentar, mas não tem problema nenhum, estou preparado. (risos)

Foto: TV Globo / Rafael França


Guia da Semana: Já tinha passado por sua cabeça interpretar um homossexual?
Rafael Cardoso: Eu quero fazer de tudo um pouco. Tem personagens que só quando eu tiver mais velho eu vou conseguir fazer, mas eu quero interpretar de tudo.

Guia da Semana: Qual foi sua maior dificuldade nas cenas? Teve vergonha nas cenas de beijos?
Rafael Cardoso: A gente se preparou para aquilo, se fosse para fazer meia boca eu nem faria o teste. Quando me propus a fazer tentei esquecer o lance de ser um envolvimento gay. Não tenho preconceito, tentei levar na boa, quando você se propõe a fazer não pode pensar em mais nada, tem que levar adiante, ali você é o personagem.

Guia da Semana: Como era sua relação com João Gabriel (que interpreta o Francisco, o meio irmão)?
Rafael Cardoso: Nos conhecemos nos teste, viramos amigos.

Guia da Semana:O que sua namorada e seus amigos acharam do personagem? Ela ficou com ciúmes?
Rafael Cardoso: Não, minha namorada não ficou com ciúmes, e meus amigos me apoiaram muito. Até achei que pelo fato de ser gaúcho, ser do Sul, um lugar que é muito conservador, alguém fosse falar alguma coisa, mas não, meus amigos todos elogiaram meu trabalho.

Guia da Semana: Como foi trabalhar com Julia Lemmertz e Fábio Assunção?
Rafael Cardoso: Eu não tinha trabalhado com eles ainda, foi muito legal. A Julia é muito querida, gente boa, virou uma mãezona mesmo.

Guia da Semana:Muitos atores se recusam a interpretar gays com medo de ficarem estigmatizados. Você não pensou em declinar do convite? Tem medo de ficar rotulado?
Rafael Cardoso: Eu sou muito seguro com o que eu quero, do que eu sou. Eu não tenho problema nenhum em ser lembrado como o ator que interpretou um gay em tal filme, mesmo porque eu não quero parar por aí, não vai ser o ultimo gay que vou fazer. Se ficar conhecido por esse filme, que bom! Quer dizer que o personagem foi bacana.

Foto: Sergio Baia


Guia da Semana:Na minissérie Cinquentinha você irá se apaixonar pela avó de um amigo. Qual a história entre eles?
Rafael Cardoso: Meu personagem é o Eduardo, um garoto carioca de 18 anos, melhor amigo do neto da Marília Gabriela, e eles se encontram em determinado momento e rola um 'opa'. Eles vão se envolver, vai ter uma história aí.

Guia da Semana: Como foi gravar essas cenas com a Marília Gabriela?
Rafael Cardoso: A Marília é uma pessoa gente boa demais, bacana. Eu nunca tinha trabalhado com ela, mas era fã, uma mulher inteligente para caramba. Está sendo muito gostoso, é um aprendizado, uma troca muito boa.

Guia da Semana: O que você acha desse tipo de relação?
Rafael Cardoso: Eu acho normal, não tem idade para se sentir atraído por alguém. Não é demagogia, você pode achar a pessoa interessante, não é impossível de acontecer. Conversar com uma pessoa e se apaixonar por ela, pelo o que ela é, e não pelo estereótipo. Essa coisa que a gente tem hoje de se apaixonar pela beleza, pelo cara sarado, não é só isso, a pessoa é interessante e bonita pelo o que ela é, não só pelo que é por fora.

Guia da Semana: Já se relacionou com mulheres mais velhas?
Rafael Cardoso: Eu não tive nenhuma relação duradoura, já aconteceu de ficar, mas nada muito sério. Não rolou porque não aconteceu mesmo. Mas acho que esse tipo de relação não tem problema nenhum, quando a gente é maior de idade cada um é dono do seu nariz, faz o que quiser.

Guia da Semna:Tem momentos que você mistura o sotaque gaúcho com o carioca?
Rafael Cardoso: (risos) Na hora que vou interpretar, tento não colocar o sotaque gaúcho, aí já estudo com o sotaque que eu vou falar. Procuro me policiar, mas sempre foge, não tem como! Nós estamos em um processo que tem atores de todos os lados, e vira uma miscigenação de sotaques. Eu não encano com isso, tento não me policiar, mas presto atenção, por que se eu deixar, vem o gauchês com força!

Guia da Semana: O que gostaria de interpretar agora?
Rafael Cardoso: Tem tanto personagem que quero fazer que não dá nem para eu falar todos para você aqui!

Atualizado em 10 Abr 2012.