Guia da Semana

Sexta-Feira: A Noite do Aquário, uma das montagens do projeto
Foto: Lenise Pinheiro

Fechando a trilogia sobre a Praça Roosevelt iniciada com Transex e seguida de A Vida na Praça Roosevelt, Os Satyros apresentam E Se Fez a Praça Roosevelt em Sete Dias. O grande diferencial do projeto é que, no lugar de uma única montagem, o grupo convidou sete autores para que cada um escrevesse uma história ambientada na praça. "É a única trilogia em nove partes", conta divertido o ator e dramaturgo Alberto Guzik.

O resultado da empreitada são sete espetáculos - cada um encenado em um dia da semana - que mesclam autores, diretores e atores vindos de grupos e carreiras totalmente diversos - bem ao gosto do caráter irreverante e agregador do grupo.

O dramaturgo Mário Bortolotto, por exemplo, do grupo Cemitério dos Automóveis, é o autor da montagem Domingo: Uma Pilha de Pratos na Cozinha, seguido de Mário Viana (segunda), Alberto Guzik (terça), Marici Salomão (quarta), João Silvério Trevisan (quinta), Sérgio Roveri (sexta) e Jarbas Capusso Filho (sábado).

As origens
A relação dos Satyros com a Praça Roosevelt é antiga. Em 2000, o grupo teatral fundado por Ivam Cabral e Rodolfo Garcia Vasquez instalou-se no local, que estava completamente degradado. A área era considerada um dos locais mais violentos da cidade, ponto de encontro de travestis, prostitutas e traficantes.

A chegada dos Satyros revitalizou a região, que hoje conta com espaços de outros grupos teatrais, como Os Parlapatões, e tornou-se ponto de encontro de artistas, jornalistas e boêmios, que convivem com os antigos ocupantes da região.

Além das duas primeiras montagens da trilogia sobre a Praça Roosevelt, o grupo é conhecido por movimentar a cena teatral paulistana com montagens como a polêmica Filosofia na Alcova e Inocência, que levou o prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) de 2006 de melhor espetáculo.



O caldeirão de autores, diretores, experiências e propostas cênicas criado pelos Satyros acabou criando um retrato dos personagens que circulam pelo local: estão lá os michês, os garotos de programa, os desesperançados, os excluídos. "É uma característica da praça receber pessoas com opções sexuais, artísticas e etílicas diferentes, e isso acabou se refletindo nas montagens, ainda que os autores não tenham lidos os textos um dos outros", conta Fernanda D´Umbra, diretora de Quarta-Feira: Impostura.

Gustavo Haddad
Foto: Divulgação
As histórias misturam ficção e realidade para compor um painel diversificado da praça, trazendo à tona acontecimentos muitas vezes desconhecidos do grande público. Roveri, por exemplo, autor de Sexta-Feira: A Noite do Aquário, usa como gancho a primeira apresentação de Elis Regina em São Paulo - que aconteceu na Boate Djalma, na Praça Roosevelt - para contar o drama de uma mulher que vem para São Paulo procurar o marido, que trabalhava na construção do Edifício Copan.

Já Alberto Guzik inspirou-se livremente no estilista argentino Patrício Bisso ao criar Terça-Feira: Na Noite da Praça. Por meio de quatro monólogos, a montagem conta diferentes versões sobre a história de um estilista que se vê envolvido em um escândalo ao ser pego na praça com um garoto de programa. "A história é ancorada em um fato real, mas é fictícia, já que não fiz qualquer pesquisa sobre o episódio quando escrevi", conta Guzik.

Outro destaque é o monólogo Quinta-Feira: Hoje É Dia do Amor. No papel de um michê de luxo, o ator Gustavo Haddad, que viveu o personagem Agnaldo, na novela Cidadão Brasileiro, representa o tempo todo completamente nu e amarrado a uma cruz, enquanto evoca trechos bíblicos e tenta desconstruir o sentido da dor.

Bortolotto, D´Umbra e Leonardelli, em Quarta-Feira: Impostura
Foto: André Stéfano

Os elencos reúnem atores do Satyros, com Ângela Barros, e de outros grupos que agitam a cena teatral paulista, como o Tapa, Cemitério de Automóveis e Os Fofos Encenam.

"É interessante juntar esta gama de profissionais em torno de um tema profundamente ligado a um símbolo de resistência da cidade. Foi justamente a força do teatro que reverteu o processo de degradação em que a praça se encontrava", finaliza Mário Viana, autor de Segunda-Feira: O Amor do Sim. Os espetáculos acontecem sempre às 19h e ficam em cartaz até 30 de junho.


Confira os detalhes de cada uma das montagens:

Domingo: Uma Pilha de Pratos na Cozinha

Segunda-Feira: O Amor do Sim

Terça-Feira: Na Noite da Praça

Quarta-Feira: Impostura

Quinta-Feira: Hoje É Dia do Amor

Sexta-Feira: A Noite do Aquário

Sábado: Assassinos, Suínos & Outras Histórias na Praça Roosevelt

Atualizado em 6 Set 2011.