Guia da Semana

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A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Esse é o dilema que chega aos palcos junto da peça Mente Mentira a partir de domingo, dia 15, no Teatro Raul Cortez, em São Paulo. Considerada a obra-prima do premiado autor norte-americano Sam Shepard - ganhador em Cannes com Paris, Texas -, a montagem mescla humor, drama, suspense e aborda assuntos polêmicos como a violência doméstica e valores das relações familiares.

Dirigida por Paulo de Moraes, ganhador do prêmio Shell de melhor direção por Toda Nudez Será Castigada, a reprodução fiel do texto original Lie of the Mind marca a primeira produção teatral do ator Malvino Salvador, que também atua como o protagonista ao lado de Fernanda Machado.

Enredo consciente

Duas famílias com dilemas variados são o centro da narrativa; elas são afetadas pelo fim do casamento de seus filhos Jake e Beth, vividos por Malvino e Fernanda. Na trama, a protagonista é uma atriz iniciante na profissão e desperta a desconfiança no marido, que revela sua insegurança ao irmão. Incentivado, Jake coloca seu ciúme doentio para fora e bate na esposa, deixando-a hospitalizada. Aparentemente conturbada e afetada psicologicamente devido às agressões, Beth passa a confundir o cunhado com o marido. A partir desse momento, o ritmo se intensifica e o suspense se instala em cena.

Entrelaçado por momentos de tensão, romance e questionamentos acerca da vida, o espetáculo tem a intenção de levar o espectador a, em alguns casos, se identificar com situações vividas pelos personagens. Segundo Malvino Salvador, o enredo estimula a percepção do público perante assuntos importantes. "Estava à procura de um texto instigante, que me provocasse reflexão, questionamentos e, ao mesmo tempo, fizesse com que me divertisse com ele. Encontrei todos estes componentes em Mente Mentira. Quis compartilhá-lo com o público".

Estreante

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Tendo a oportunidade de produzir pela primeira vez um espetáculo teatral, Malvino tomou a decisão de levar o texto aos palcos brasileiros em 2007. Impulsionado a empreender, o ator se diz totalmente dedicado às funções operacionais da peça e também não se desprende do lado cênico, afinal, é um dos protagonistas. "Amo atuar e encontrei uma maneira de unir o útil ao agradável. Tenho de me dedicar para que a engrenagem da produção esteja funcionando corretamente. Dá trabalho, mas é gratificante ver tudo dando certo", afirma.

Sobre o fato de ser um galã global, Malvino não entende a visibilidade de seus papeis na TV enquanto reflexo na sua atuação no tablado. "Essa ideia nunca passa pela minha cabeça na hora de compor a personagem. Tento entender quais são as inquietações e motivações de cada personalidade, para que possa expressar as emoções mais verdadeiras e realizar uma composição coerente", ressalta.

Na pele de Jake, o ator alterna em cena momentos de emoção, fragilidade e violência. Para isso, a preparação foi intensa. "Se estivéssemos fazendo uma comédia com o objetivo de provocar gargalhadas, seria mais fácil atrair o público. Procuro embasamento com o máximo de informação que puder extrair através das pesquisas para a construção da personagem. A partir desse estudo, construo um gráfico emocional que dá base para estar em cena".

Violência à tona

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A protagonista na peça mostra a complexidade do ser humano sobre o que pode ser fantasia ou realidade, quando disfarçamos secretos desejos. Fernanda Machado conheceu o texto quando estudava teatro e, ao receber o convite de Malvino, não pensou duas vezes antes de aceitar. "Ele me apresentou a ideia em 2007. Achei muito corajoso da parte dele, uma produção grande. Lidar com um texto tão bom e atores ótimos no elenco é difícil. Sou fã e admiradora dessa atitude dele", afirma.

Quanto à construção de sua personagem, Fernanda confessa ser esse o grande desafio de sua carreira até o momento. "É a personagem mais difícil de toda a minha trajetória. Me exigiu muito. Ela ocupa a função de um anjo na peça, uma mulher no auge da juventude e da beleza que sofre uma agressão do próprio marido. De repente, vê todos os sonhos dela destruídos, o amor perdido, a vaidade acabada. Ela precisa reaprender a viver".

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Diante de um dos temas abordados no espetáculo, a violência doméstica, Fernanda ressalta que a discussão e o assunto não poderiam vir em melhor hora. "É um drama muito concreto, palpável. A pessoa que ela mais amava quase a matou, isso é um tema muito propício. Quantas mulheres sofrem agressão do marido? A partir disso, ela passa por uma reconstrução e volta para a família. Reaprende tudo e junta os cacos que sobraram, mas ela se sente amarrada e não consegue sair disso", salienta.

Famosa por papeis em novelas da TV Globo e longas como Tropa de Elite, a atriz credita tudo o que conquistou até hoje aos palcos. "Tudo que sou hoje e fiz, devo ao teatro. Ele sempre me abriu portas. No palco não atingimos o público que a TV consegue, porém, o tablado é o maior teste do ator. No palco não tem essa de truque, montagem, ouvir o diretor dando toques. É a arte do ator. São duas horas mostrando a sua arte", orgulha-se.

Serviço:
Local: Teatro Raul Cortez (antigo Teatro Fecomércio)
Preço: R$ 60,00 (sexta e domingo) e R$ 70,00 (sábado).
Data: 15 de agosto a 12 de dezembro de 2010.
Horário: Sexta e sábado, 21h30; domingo, 19h.

Atualizado em 6 Set 2011.