Foto: Getty Images |
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Inevitável fugir da famosa análise de fim de ano que sempre fazemos. Quem passou ou entrou em nossas vidas, o que eu consegui, o que eu conquistei, o que eu fiquei devendo para os outros e, principalmente, pra mim mesmo.
Ano passado - e quando falo isso parece algo tão longe, sendo que só passou um mês do novo ano - mencionei que iria, nas próximas colunas, associar um pecado capital por vez. Claro que da lista quando penso em festas de fim de ano o que se encaixa mais é a gula. Principalmente quando lembro que passei ao lado da minha mãe, afinal todos devem concordar que comida de mãe saliva qualquer boca só de lembrar.
O fato é que não vou pelo óbvio, discorrer sobre quitutes e comidas típicas dessa época. Quero falar de uma outra gula.
Na última coluna quando a preguiça era a bola da vez mencionei a minha preguiça de gente. Aquelas pessoas que facilmente te cansam. E quando pensei em falar de gula, pensei em discutir a gula por conhecimento. Essa não engorda, não aumenta o colesterol e nem te força a fechar a boca. Muito pelo contrário.
Começo de ano sempre traz aquela sensação de recomeço, de vida nova. Ainda que seja só a passagem de mais um dia no calendário, a simbologia de um ano que se inicia para muitos é uma forma de mudar hábitos antigos e colocar como meta uma nova forma de encarar a vida. Drummond já eternizou muito bem isso.
Na televisão sempre nessa época surgem campanhas publicitárias emotivas, com muitas famílias felizes, pessoas de todas as raças de mãos dadas, o mundo parece perfeito. E uma delas, de um banco, colocou como tema: "2000 INOVE". Isso ficou na minha cabeça.
Cansado de tanta futilidade - e nem sei se isso tem a ver com a chegada de mais um aniversário e com a rabugice que inevitavelmente a idade me traz - tirando a presunção em me achar uma pessoa super-interessante, cansa tanta bobagem que somos obrigados a engolir e pessoas rasas ao nosso redor.
Certamente vou usar a frase do banco nos próximos brindes com os amigos. Quero, ainda que modestamente, incitar o espírito de inovação. Vamos nos alimentar de coisas boas. Encarar um livro que há anos a gente ensaia ler, ir mais ao teatro, ao cinema, conhecer museus. O papinho de que a cultura é elitista não cabe para quem mora numa cidade como São Paulo. Chega até a ser ridículo pensar nisso.
Outro dia li num blog a frase: "A gula é uma fuga emotiva, um sinal de que alguma coisa nos está a devorar".
Vamos assumir a gula da mudança. Tornarmos pessoas mais interessantes. Naquela listinha típica de promessas feitas quando pulamos as ondinhas pode incluir ao lado do regime, a engorda do conhecimento. Não espere acabar o carnaval, abra o jornal, os guias culturais já estão cheios de opções, escolha a sua, saia da mesmice, leia novas colunas (risos). Em suma, INOVE em DOIS-MIL-E-NOVE.
Leia colunas anteriores de Guilherme Gonzalez:
? "O preguiçoso é um relógio sem corda"
? "Eu me esforço para ser invejado, não para invejar"
? Todos querem ser a Amy

O que faz: ator e produtor, um dos fundadores da Cia Teatro de Janela.
Pecado gastronômico: Comida da mãe.
Melhor lugar do Brasil: Ilha do Marajó.
O está ouvindo: Marina de la Riva
Fale com ele: [email protected]
Atualizado em 6 Set 2011.