Guia da Semana

No dia 25 de dezembro, chega aos cinemas o novo filme de Ridley Scott: Êxodo - Deuses e Reis. O nome de Scott, para os mais saudosos, traz algumas boas lembranças: Alien, O Oitavo Passageiro, Blade Runner, Gladiador... Mas os mais jovens poderão ter dificuldade em lembrar o último grande sucesso do diretor: Hannibal – lançado 13 anos atrás.

Não que o cineasta não tenha se esforçado: de 2001 para cá, ele lançou nada menos que dez longa-metragens. O último foi O Conselheiro do Crime (2013), um thriller confuso sobre tráfico de drogas com Michael Fassbender, Penelope Cruz, Brad Pitt, Cameron Diaz e Javier Bardem.

Scott, hoje com 75 anos, começou sua carreira na publicidade (depois de uma breve passagem pela BBC de Londres), fazendo comerciais que ficaram mundialmente famosos: os de uma marca de pães, com um clima familiar pós-guerra e trilha sonora clássica, e o do primeiro computador Mackintosh, com uma cena inspirada no romance 1984 de George Orwell.

A sensibilidade estética desenvolvida nesses anos se tornaria sua marca registrada: ele desenharia, pessoalmente, a maior parte dos seus storyboards, incluindo os de seu primeiro sucesso no cinema: Alien, O Oitavo Passageiro. O longa estourou nas bilheterias em 1979 e transformou para sempre o gênero de ficção científica com um orçamento mínimo de apenas US$ 11 milhões. O problema é que, depois dele, Scott nunca mais faria um filme tão barato.

Robin Hood (2010), por exemplo, poderia ter sido um sucesso com seus US$ 216 milhões arrecadados ao redor do mundo, se o filme não tivesse custado astronômicos US$ 200 milhões. Prometheus (2012), que custou US$ 130 milhões, foi uma decepção ainda maior: o filme marcava a volta do diretor à ficção científica e foi muito esperado pelos fãs, mas o resultado, apesar de visualmente impactante, simplesmente não convenceu o público nem a crítica. Faltou roteiro, faltou sentido, sobrou dinheiro.

Ilustração do storyboard de Alien, por Ridley Scott

O padrão de altos orçamentos (gastos, se não com os efeitos, com um elenco sempre estelar) não apenas dificulta a viabilidade dos trabalhos de Scott, como também parece ofuscar a qualidade dos roteiros e do próprio conceito dos seus filmes – o público, afinal, está sedento por histórias envolventes e humanas e, não necessariamente, por atores famosos.

Pensando por esse lado, Êxodo pode ser mais um tiro no pé do diretor (será que ainda sobrou algum dedo?). Isso porque Scott admitiu que este foi, provavelmente, o filme mais caro de sua carreira. E não é por menos: os efeitos especiais estão presentes em praticamente todas as cenas, engrandecendo o cenário egípcio, os exércitos e as pragas bíblicas.

Por outro lado, se o roteiro e as atuações de Christian Bale, Joel Edgerton e Aaron Paul convencerem, o longa tem a chance de resgatar a credibilidade do diretor - afinal, uma das maiores bilheterias deste ano foi outra superprodução bíblica: Noé, de Darren Aronofsky. Dedos cruzados para Scott.

Por Juliana Varella

Atualizado em 17 Nov 2014.