Guia da Semana

Ao assistir a um filme, você dificilmente sabe como ele foi feito e muito menos como foi o clima nos bastidores. Algumas vezes, os créditos finais presenteiam os fãs com um ou outro “flagrante” descontraído durante as gravações. Mas o que acontece no dia-a-dia?

Acompanhando diretores, atores e toda a equipe necessária, descobrem-se muitas histórias, sentimentos e momentos. São brigas, tombos, concentração, técnica, aprendizagem, contato com novas pessoas, toda uma vida acontecendo por trás das câmeras.

Murilo Assis é câmera e, para ele, o essencial é ter bons relacionamentos: “há uma primeira reunião geral e nela você faz amizades. Com o tempo, ganha mais experiência técnica e pessoal”. Murilo conta que são comuns as brigas nos bastidores, e dá a dica: “é importante falar com todo mundo e tentar pegar um pouco do gosto de todos para fazer um trabalho no qual todo mundo saia satisfeito”.

Famosa por seu trabalho como atriz de teatro, filmes e televisão (como nas novelas “Esperança” e “Páginas da Vida”), Lígia Cortez afirma que, no cinema, a equipe é muito bem dividida: “há profissionais de luz, câmera, direção de arte, fotografia, treinamento do ator, som, comida para a equipe, produção... É muita gente!”. Mas na hora de filmar, conta, todos devem estar focados.

A atriz conta que as cenas nem sempre são gravadas na ordem do roteiro. “Às vezes, a primeira cena filmada é a penúltima do filme, e daí vai para a última e depois para a primeira e tem que tomar cuidado para não confundir a personagem”, confessa. Segundo ela, o diretor é a pessoa que reúne toda a equipe numa mesma linguagem de criação e determina a atmosfera do ambiente.

O documentarista Evaldo Mocarzel considera o contexto tão importante em seus filmes quanto o que acontece à frente das câmeras. “Em ‘À Margem da Imagem’, sobre moradores de rua, eu coloquei uma segunda câmera nos bastidores para mostrar as contradições da equipe - por exemplo, brigando por comida. Na hora de montar o filme, porém, as pessoas não autorizaram usar essas imagens, então, da mesma forma que eu estava tentando respeitar o direito dos moradores, eu tive que respeitar o da equipe”, revela.

Depois disso, Mocarzel exibiu o documentário para os moradores de rua, sem-teto e catadores de materiais recicláveis. Todos haviam participado do filme, e foi de suas críticas, ouvidas nos bastidores, que ele resolveu filmar “À Margem do Lixo” e “À Margem do Concreto”, formando uma trilogia.

Para o diretor, essa flexibilidade é a chave para um bom documentário. “Eu chamo documentários de arquitetura do inesperado, porque é uma linguagem que deve ter um elemento surpresa. Você não sabe todas as respostas e isso é sempre muito importante pra dar frescor e vivacidade ao filme”, explica.

Surpresas à parte, o cineasta revelou também que as trapalhadas são frequentes nos bastidores. Ele, por exemplo, já se “estabacou” no chão e dormiu durante a gravação, e o fotógrafo não deixou escapar nada.

Entre brigas e diversão, concentração e brincadeiras, a única regra é que o clima por trás das câmeras precisa ser bom para que o trabalho flua. Assim como dentro dos filmes, fora deles existem histórias de vida e personagens, que se relacionam e acrescentam um pouco de si mesmos ao resultado final.

Por Marina Bianchi, aluna do 1º semestre do curso de jornalismo da ESPM

Atualizado em 12 Abr 2014.