Depois de fugir da Europa para o Uruguai durante a 2ª Guerra Mundial, Jacob Kaplan construiu uma vida tranquila. Com 76 anos, a preocupação da família em relação a sua idade o lembra diariamente da rotina, muitas vezes enfadonha, da velhice. Por trás das rugas, o passado revela um tempo em que, como todo judeu, fez o que pôde para se esvair do assombroso regime nazista. A oscilação entre passado e presente da personagem é o centro da trama de "Sr. Kaplan", comédia dramática uruguaia que chega ao Brasil no próximo dia 26 de fevereiro.
Os dias melancólicos chegam ao fim quando Kaplan encontra a oportunidade de viver uma aventura como nos tempos da guerra. Convencido de que um ex-nazista pode estar escondido na pacata cidade em que vive, ele parte em uma "missão" para desmascarar o suposto vilão. Lançado no mesmo ano em que a libertação de Auschwitz completa sete décadas, é difícil desvincular o filme do fato. A barbárie, entretanto, é apenas o contexto do longa de Alvaro Brechner.
Qual é o verdadeiro objetivo de Kaplan? Representar os seus iguais pela perpétua busca da justiça ou mostrar para si mesmo que ainda resta vida dentro de si? Dada a questão, o que prevalece é uma deliciosa crônica narrada pelos tristes e até ingênuos olhos da velhice.
O drama é dosado pela comédia, ora delicada, ora com bons toques de sarcasmo. Figuras e impasses vão surgindo na jornada, conferindo tom e fôlego à trama. "Sr. Kaplan" mostra que é possível trazer um lado menos sombrio de um tema retratado à exaustão. Basta, apenas, um pouco de leveza.
Por Ricardo Archilha
Atualizado em 3 Fev 2015.