Guia da Semana

Aos 67 anos e com quase 30 longas-metragens no currículo, Steven Spielberg é um dos diretores mais importantes na história do cinema e um dos produtores mais prolíficos também. Entendê-lo significa compreender os anos 70 e, com eles, a louca transição entre a Hollywood clássica e o cinema contemporâneo.

+ Confira 13 filmes para entender a Geração Y
+ Conheça os bastidores de cenas clássicas do cinema
+ Veja 8 filmes essenciais para entender Roman Polanski

Até a década de 70, a noção de filme “de diretor” não tinha a força que tem hoje. Na maioria dos casos, quem mandava nos roteiros, elenco, locações e até na edição eram os produtores – o que resultava numa quantidade enorme de filmes padronizados, seguindo gêneros muito bem delimitados.

Com a chegada da TV em cores, esse modelo começou a dar sinais de cansaço e uma nova leva de diretores assumiu as bilheterias – um time que estudara a fundo o cinema e que sabia o que acontecia não apenas no “set”, mas também na pré e na pós-produção. Spielberg surgiu nesse momento, ao lado de George Lucas, Martin Scorsese e Francis Ford Coppola.

Os estúdios, que até esse momento controlavam também a distribuição, passaram a terceirizar o processo, permitindo que grandes filmes fossem exibidos em quase todas as salas do país - o que tornou as estreias de alguns deles verdadeiros eventos.

Arrasa-quarteirão!

Tubarão, de Steven Spielberg

O primeiro grande sucesso de Spielberg, Tubarão, foi também o primeiro de uma nova tendência de blockbusters, filmes de grande orçamento acompanhados de uma pesada campanha de marketing e, consequentemente, com lucros astronômicos.

Daí para a frente, foi um sucesso atrás do outro: Contatos Imediatos de Terceiro Grau, E.T. – O Extraterrestre, a franquia Indiana Jones... Spielberg ainda produziu muitos dos sucessos juvenis da década, como Gremlins, Os Goonies e De Volta Para o Futuro.

Além do próprio conceito de blockbuster, o diretor inaugurou ainda uma tendência que se tornaria essencial no cinema americano: o merchandising, com personagens e cenas inteiras sendo pensadas para gerarem produtos antes e depois do lançamento (numa experiência extra-filme se extenderia a brinquedos temáticos em parques de diversões, CDs, bonecos, spin-offs de TV e infinitos outros objetos de culto).

Sua marca, portanto, acabou influenciando toda a juventude oitentista e os cineastas dessa época, que abraçaram o conceito de blockbuster com unhas e dentes (pense em Michael Bay), se debruçaram sobre traumas familiares como ele (veja Tim Burton) e até se apropriaram de traços estilísticos do diretor (como os polêmicos flashes de luz de J. J. Abrams).

Hitchcock?

Como verdadeiro “nerd” da história do cinema, Spielberg admite que suas influências são amplas: vão de Ingmar Bergman e John Ford ao contemporâneo George Lucas, passando pelo mestre do stop-motion Ray Harryhausen e pelo ícone do suspense Alfred Hitchcock.

De Bergman, conseguimos perceber o peso dos close-ups. De Ford, ressoa todo o gênero faroeste em obras que lidam com “jornadas”, como Indiana Jones ou Inteligência Artificial. Harryhausen influenciou diretamente os dinossauros de Jurassic Park e os esqueletos em Indiana Jones.

Além da Eternidade, de Steven Spielberg

Mas Hitchcock... Hitchcock está nos detalhes. Spielberg frequentemente aponta o diretor como uma de suas principais referências (sem nunca ter conhecido pessoalmente o ídolo), mas as citações na tela são pontuais. Podemos vê-las, por exemplo, nos enquadramentos de cena (a perseguição do avião em Intriga Internacional, de Hitchcock, é evocada em Além da Eternidade) e nos longos planos-sequência que partem do ambiente e culminam no rosto do personagem.

Você sabe que está assistindo a um Spielberg quando...

Por essas e outras, os filmes de Spielberg são uma verdadeira “aula” de cinema. E, se percebemos quase inconscientemente que estamos vendo um filme dirigido (ou mesmo produzido) por ele, é porque ele, de fato, tem controle sobre sua obra.

Saiba quais são os principais traços de estilo que marcam sua filmografia:

Flashes de luz

Contatos Imediatos do terceiro grau, de Steven Spielberg

Spielberg não pensa duas vezes antes de ofuscar a visão do espectador – o efeito, que gera um clima de suspense ou fantasia, é o que importa.

Relações problemáticas com os pais

Indiana Jones, de Steven Spielberg

Eles podem ser ausentes, insensíveis, irresponsáveis ou até divertidos, mas sempre são um trauma na vida dos filhos.

Crianças em perigo

Jurassic Park, de Jurassic Park, de Steven Spielberg

Filmes infantis nunca mais foram os mesmos depois de Spielberg. O diretor tirou os pequenos do papel de coadjuvantes e os botou como parte da ação de seus grandes filmes.

Trilha sonora de John Williams

O que seria desta cena de Tubarão sem a narrativa musical? A parceria entre o compositor e o diretor gerou temas que entraram para a história do cinema. Na lista também estão filmes como Jurassic Park, E.T., Indiana Jones, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, para citar alguns.

A expressão de surpresa

Jurassic Park, de Steven Spielberg

Você não está vendo o dinossauro... Você está vendo a reação a ele. Esse tipo de close nos atores reagindo aos eventos que acontecem ao seu redor é recorrente nas produções do diretor.

O espelho

Tintin, de Steven Spielberg

Spielberg adora mostrar seus personagens pelo reflexo, seja em vários espelhos simultâneos, seja em espelhos de carros ou na janela de casa.

Por Juliana Varella

Atualizado em 3 Set 2013.