Guia da Semana

O quadrinista Fabio Yabu, 33, é um case de sucesso no universo dos quadrinhos independentes. Nascido em Santos, litoral de São Paulo, mas morando na capital desde criança, ele começou a se tornar conhecido em 1998, quando, aos 17 anos de idade, abriu seu site e começou a publicar os quadrinhos autorais Combo Rangers, atraindo uma legião de fãs. “Na época, era uma coisa bem simples, em flash, que eu fazia sozinho. Eu nem tinha ideia da dimensão que isso ia tomar”, conta.

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A partir de 2003, Yabu passou a se dedicar a novas criações: a animação "Princesas do Mar" e os livros “Raimundo, Cidadão do Mundo”, “Apolinário, o Homem-Dicionário” e “A Última Princesa”. Sob o pseudônimo de Abu Fobiya, lançou ainda os livros “Branca dos Mortos e os Sete Zumbis”, “Independência ou Mortos” e “Protocolo Bluehand: Zumbis”.

Agora, depois de 10 anos sem publicar nenhuma novidade dos Combo Rangers, Yabu abriu uma página no Catarse.me para arrecadar fundos e trazer de volta às livrarias e bancas os heróis que cativaram tantos jovens no início dos anos 2000. E, claro, os fãs responderam à altura: em menos de duas semanas já foram arrecadados os R$ 40 mil suficientes para tocar o projeto.

Em homenagem ao Dia do Quadrinho Nacional, o Guia da Semana bateu um papo com esse talentoso autor, sobre a realidade atual dos quadrinistas brasileiros. Yabu ainda nos revelou sua lista de HQs obrigatórias para quem quer se aventurar por esse universo. Confira e entrevista abaixo e divirta-se!

Quando você começou a se interessar por quadrinhos? E quando começou a fazer seus primeiros desenhos?
Quando era criança, entre 5 e 6 anos. Lia muito Mauricio de Souza, Disney, quadrinhos infantis. Nessa mesma época fiz meus primeiros desenhos também, acredito. Eu sempre gostei de desenhar. Até fiz faculdade de Publicidade, mas sempre tendi mais para esse lado da criação, da arte. Em 1998, quando eu tinha 17 anos, criei meu site e acabei ganhando leitores fiéis. Na época, era uma coisa bem simples, em flash, que eu fazia sozinho. Eu nem tinha ideia da dimensão que isso ia tomar.

Para quem você desenha?
Os meus quadrinhos são feitos para pessoas de várias idades e gostos. Aos 17 anos, eu já tinha leitores fiéis por conta dos Combo Rangers. Fui amadurecendo e comecei a fazer trabalhos diferentes. E o que acho mais interessante é que, hoje, falo com varias gerações, às vezes na mesma casa. Tenho vários leitores fãs do Combo Rangers que têm filhos fãs das Princesas do Mar.

Como foi sua percepção da resposta do público ao crowfunding do Combo Rangers? Foi o seu primeiro projeto em que você utilizou esse artifício pra arrecadar fundos?
Foi o primeiro e consegui arrecadar o dinheiro necessário para tocar o projeto em apenas duas semanas. Fiquei muito feliz e me sinto muito grato por saber que tanta gente quer que o Combo Rangers volte. Esse foi um trabalho que eu tive que abandonar em 2003 justamente por problemas financeiros. É muito gratificante saber que as pessoas ainda lembram e querem ler novas histórias dos personagens.

Você encontrou seu público na Internet. Você acha que ainda há espaço para os trabalhos impressos tradicionais?
Sim, mas hoje a estrutura mudou. Antigamente, as pessoas conheciam os quadrinhos pelas tiras de jornal, pelas revistas. Hoje, a Internet se tornou o grande veículo propagador; é por ela que os quadrinistas ficam conhecidos. E quando você se torna conhecido na Internet, as pessoas acabam procurando seu trabalho impresso, físico. Isso acontece inclusive em outras áreas, como na música.

Como você enxerga o espaço para quadrinistas no Brasil hoje, principalmente os que trabalham com gêneros diferentes do humor?
Humor faz sucesso por causa das charges e quadrinhos dos jornais, mas acredito que essa fase está passando. Antigamente, os quadrinistas trabalhavam buscando a aceitação da mídia. Hoje, você não precisa mais de uma editora, de um jornal, da TV. Todo mundo pode cavar seu próprio espaço na internet. A gente pode resolver para onde vai. Por causa disso, outros gêneros vêm crescendo, como o mangá, por exemplo, que tem várias adaptações brasileiras.

Com os Combo Rangers, o trabalho de Fabio Yabu ganhou projeção na Internet. Foto: Divulgação

Como você vê a relação da aceitação do trabalho do quadrinista brasileiro no Brasil no exterior?
Tenho certeza que exportamos bem mais do que consumimos. Hoje, as editoras brasileiras não conseguem pagar a mão-de-obra como os americanos conseguem. Há editoras gringas que pagam até 400 dólares por página. Aqui no Brasil, muitas vezes, o artista precisa trabalhar de graça ou por um preço muito baixo. Por isso, acabamos perdendo tantos talentos.

Quais são os seus cinco quadrinhos favoritos?
Eu gosto muito do quadrinho japonês Gen, que conta a história dos sobreviventes da bomba de Hiroshima. É muito bonito. De um gênero mais cabeça, gosto bastante do Sandman. Já de super-heróis sugiro o Cavaleiro das Trevas, que é muito divertido. Também gosto bastante do Calvin & Haroldo, um clássico das HQs de humor. E uma das coisas mais legais que li nos últimos tempos foi Persépolis. Fiquei encantado com o contexto, a história, com tudo.

Quais são os quadrinistas brasileiros de que você mais gosta?
Gosto muito do trabalho do Ivan Reis, que já desenhou o Super-Homem, o Lanterna Verde, vários heróis da DC Comics. O João Montanaro, que tem só 16 anos e faz charges muito bacanas com temas políticos, é outro nome que eu acho notável. Também gosto muito dos desenhos do Jean Galvão, que tem uma pegada de humor, mas com uma sensibilidade incrível.

Por Conceição Gama

Atualizado em 31 Jan 2013.