Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues é um jogo de beat em’ up que, pasmem, é baseado na série Cobra Kai, que serve como continuação do primeiro filme da continuidade original de Karate Kid. Desenvolvido pela Flux Games e distribuído pela Gamemill Entertainment, o jogo coloca os personagens da série em uma história original que vê os dois dojos, Cobra Kai e Miyagi-Do, se enfrentando novamente.
Hora de decidir se vai querer pintar a cerca ou encerar o carro, leitor san. Confira agora nossa análise de Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues!
Bata primeiro. Bata forte. Sem Piedade
A vida é feita de certezas e incertezas, caro leitor. O esperado e o inesperado. Por exemplo, é certo na minha vida que devo pagar meus impostos e o pé que quebrei faz uns anos vai começar a doer quando esfriar. Essas coisas são rotinas, e não surpreendem muito quando acontecem. Agora, é no inesperado que está a alegria das coisas. Veja o caso de Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues. Eu nunca esperaria que a série fosse lançada, para começo de conversa, ainda menos que houvesse um jogo baseado nela.
E principalmente que fosse divertido e bom, visto que jogos adaptados de outras mídias por vezes acabam saindo bem (muito mesmo) abaixo do esperado. Imagine minha surpresa, então, ao ver que esse beat em’ up é bom de verdade. Em todos meus anos nessa indústria vital, poucas vezes vi isso acontecer.
Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues conta uma história original com base no seriado, que vê os dojos Cobra Kai e Miyagi-Do, de Johnny e Daniel respectivamente, se enfrentando baseado no pretexto de que um armou uma emboscada para o outro. A trama se desenrola do ponto de vista de ambos, cada qual com quatro personagens diferentes que podem ser controlados pelo jogador. Para ver o final verdadeiro é necessário jogar de ambos os lados.
Logo de cara, o jogo te pede para escolher qual dojo você deseja começar. Temos o Cobra Kai, focado em dano maior e um estilo de jogo agressivo, e o Myagi-Do, focado em contra-ataques e um estilo mais metódico. Essa dinâmica é interessante, pois transporta para a mecânica de jogo as filosofias que Johnny e Daniel passam para seus alunos na série. Veja bem, amigo leitor, sou um homem ponderado. Calmo, nem um pouco esquentado. Levando em conta minha serenidade, fui logo de cara com meus parceiros do Cobra Kai. Quem se importa com o Miyagi-Do e seu estilo tranquilo? Nada melhor para acalmar os nervos do que jogar com os personagens que socam fogo pra cima.
Aliás, isso me lembra uma coisa engraçada. Ao contrário do que meus bracinhos de gelatina podem te levar a acreditar, leitor, eu pratiquei artes marciais por um bom tempo durante minha juventude. Lá aprendi muitos valores pessoais como respeito e controle, mas até onde me recordo nunca me ensinaram a criar blocos de gelo do ar nem dar voadoras de fogo nas pessoas. Fascinante!
Mas deixemos de lado minha emocionante vida. O estilo de Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues é mais cartunesco, com os personagens tendo acesso a uma série de habilidades como golpes de fogo, chutes de gelo, dano em área, congelamento, até ultimates envolvendo invocar uma cobra gigante que queima a tela toda ou um pássaro que congela tudo (representado pelo famoso chute usado por Daniel no final do primeiro filme).
O combate é surpreendemente complexo, e não recomendado para uso no teclado. Se quer uma experiência mais agradável é necessário uso de controle. Cada dojo conta com 4 habilidades que são utilizadas por todos os personagens controláveis, e cada um deles possui mais 4 e um ultimate. Ao todo, são 9 habilidades a serem utilizadas além do estilo de combate de cada um. É uma dinâmica interessante, que ajuda a quebrar a monotonia que pode haver no esquema “ande para o lado e bata em todo mundo”. Algumas vezes senti que os golpes não tinham aquele impacto ou força, tipo como vimos em Streets of Rage 4, mas é divertido de qualquer forma.
Existe, também, um sistema de combos que vai do D até o NM (No Mercy, valor mais alto) que valoriza golpes sequenciais, uso de habilidades alternadas e não levar dano. Além disso, apertar os botões de ataque forte e fraco de maneira rítmica causa dano crítico. É um sistema simples porém funcional, que coloca mais um adicional as lutas.
Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues é dividido em fases maiores e menores. As maiores são locais onde a história progride, e alguns são exclusivos de apenas um dojo. As menores são ruas que conectam os vários pontos de interesse do mapa e tem apenas um mini chefe. Ainda que não tenha uma grande variação, elas valem para encorpar mais a seleção de estágios e tempo de jogo.
Por fim, cada personagem pode ser aprimorado em seu respectivo dojo, assim como o próprio. Os upgrades mudam alguns aspectos de cada habilidade, como aumentar o número de hits ou causar dano ao longo do tempo. Além disso, também conferem melhorias nos status dos personagens, como mais dano, crítico, dano em defesas, vida, o de sempre.
Pode-se notar que no quesito jogabilidade e opções Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues está bem servido. O jogo é divertido, tem um andamento legal e boas oportunidades para deixar cada personagem mais customizado para os gostos do jogador. O problema maior do título, na verdade, é o que vamos ver agora.
Visuais e Sons
No quesito trilha sonora, Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues também agrada. As músicas têm um ar retro, com algumas trilhas de synthwave, e muitas remetem a década de oitenta. Elas caem bem nas fases, e ajudam a compor bem a identidade do título. Os golpes têm um som forte, e também cumprem seu papel. A dublagem conta com os atores da série, embora sua qualidade seja bem variada. Miguel, por exemplo, grita o nome de seus golpes com animação, com impacto. Daniel-san, por sua vez, fala como se estivesse entediado ou acabado de acordar pela manhã. Mas, no geral, me agradou.
O problema maior são os visuais e , principalmente, os modelos dos personagens. Os cenários são bons até, com cores vivas e particularidades que os ajudam a ser diferentes uns dos outros. Por exemplo, a fase na arena de Hill Valley conta com fotos dos competidores do torneio do primeiro filme. São as pequenas coisas que fazem a diferença.
Como já disse, o que me quebra as pernas são os modelos dos personagens. Olhando na hora da confusão, como na imagem acima, até que não parecem tão ruins. As poses são interessantes e, ainda que alguns frames de animação deixem a desejar, cumprem seu papel. Mas uma análise mais profunda mostra como são estranhos, de uma forma quase assustadora.
Eu vi alguns comentários de pessoas que haviam deixado o jogo passar de cara pela má impressão dos visuais, e consigo compreender o porquê. De qualquer modo, pelo menos a jogabilidade geral não é travada e nem deixa de fluir por conta disso. Mas, de qualquer modo, vale notar.
Vale a pena comprar Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues?
Tudo considerado, minha experiência com Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues foi boa. Eu gosto do estilo de beat em’ up, e encontrei aqui uma jogabilidade fluída, divertida com o ponto certo de complexidade. A ideia de dois dojos diferentes foi bem implementada, ajuda a manter os combates diferentes e dá muita possibilidade de escolha. Além disso, outras coisas como o sistema de usar o cenário como arma (jogando inimigos em vidraças por exemplo) e as customizações de habilidade são bons diferenciais.
O som agrada, ainda que algumas vozes sejam bem abaixo da média. E os gráficos são agradáveis, se conseguir deixar de lado que os modelos são assustadores e uma análise mais aproximada mostra que realmente não são bem feitos. Mas, no fim das contas, importa mais que o jogo é divertido e tem um valor ainda maior se for fã da série ou dos filmes. Recomendo.
Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues está disponível para PC, via Steam, por R$ 37,99, mas custa o olho da cara nos consoles: R$ 199,50 no PlayStation 4, R$ 147,45 no Xbox One e US$ 39,99 no Nintendo Switch. O game não traz textos em português do Brasil e conta com um Metascore de 67 pontos em sua melhor versão.
*Review elaborada em um PC equipado com AMD RX, com código fornecido pela GameMill Entertainment.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Matheus Jenevain, Pizza Fria
Atualizado em 3 Mai 2021.