Guia da Semana

A espera acabou, e finalmente Rise of the Ronin (ou A Ascensão do Ronin, em português), game da Sony e da Team NINJA, está prestes a ser lançado no dia 22 de março. O título, que está em processo de desenvolvimento por 10 longos anos, chega de maneira exclusiva para o PlayStation 5. O game, inicialmente apresentado aos jogadores no State of Play de setembro de 2022, trouxe um hype enorme, sobretudo após o grande sucesso de Ghost of Tsushima. Desta forma, podemos dizer que o PlayStation está numa “era de ouro” dos jogos de samurais.

O Pizza Fria teve a honra de receber o jogo de maneira totalmente antecipada, e tivemos a oportunidade de trazer um primeiro vislumbre em uma preview. Contudo, nesta análise, conseguiremos finalmente falar todos os detalhes do jogo, mas sem dar spoilers. Contudo, antes de iniciarmos a review, é interessante ressaltar que concluímos o jogo durante este período, algo que nos deu a oportunidade de mergulhar de cabeça no Japão da segunda metade do século XIX. Então, sem mais delongas, desembainhemos a espada vamos para o que realmente interessa!

Um vislumbre da história de Rise of the Ronin

Rise of the Ronin é ambientado logo após o Japão abrir novamente suas portas ao mundo exterior, culminando em uma época conhecida como o Período Edo. Desta forma, a narrativa do game se estende pela Guerra Boshin, também reconhecida como a Revolução Japonesa, que aponta para o fim da era dos samurais, sobretudo com a chegada das armas de fogo aprimoradas, advindas das diversas legações presentes no país com a reabertura ao mundo.

Durante esse período, que foi decisivo para a transferência de poder de volta ao Imperador, foi colocado o fim em um longo período de isolamento da ilha japonesa, que durou por cerca de duzentos anos e dando início ao Período Meiji, em 1868. Este momento, essencial para a formação do Japão moderno, representa o despertar de uma série de mudanças na Terra do Sol Nascente, com o fim do xogunato dos Tokugawa, que foi passado de geração a geração entre março de 1603 a maio de 1868. Desta forma, Rise of the Ronin pega justamente este período, cobrindo os conflitos ocorridos até a abdicação de Tokugawa Yoshinobu.

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Um tutorial inicial nos dá uma boa noção. (Imagem: Divulgação)

E, para não aprofundar tanto em sua trama, evitando maiores spoilers, vale ressaltar que Rise of the Ronin apresenta diversos personagens históricos reais, um ponto que particularmente achei incrível e que me fez pesquisar ainda mais sobre este conturbado momento. Porém, é necessário ressaltar que, embora o pano de fundo seja baseado na história japonesa, o jogo usa e abusa de artifícios para tornar a trama um pouco mais “emocionante”. Ironicamente, o game chega em um momento que a série Xógum: A Gloriosa Saga do Japão faz um tremendo sucesso, trazendo justamente uma releitura dos primeiros momentos dos Tokugawa no poder. Portanto, deixo aqui a dica da série.

Veja como aumentar as cargas da pílula medicinal em Rise of the Ronin!

Embora algumas vezes referida como uma “revolução pacífica”, essa guerra resultou na perda de vidas, variando entre 3.500 a 8.000 pessoas, embora o jogo traga um bocado a mais de tensão, já que este é um momento crucial para o Japão. No entanto, Rise of the Ronin oferece aos jogadores a oportunidade de moldar seus próprios personagens para atravessar este período de descobertas e disputas, formando alianças e observando o embate entre diferentes grupos políticos adversários. E caso você queira mudar de ideia após tomar essas escolhas, o jogo traz o Testamento da Alma, uma forma de retornar a pontos de mudanças na narrativa. Sendo assim, é bem possível que o jogo tenha diversos finais.

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A variedade de personagens surpreende. (Imagem: Divulgação)

Ao longo das quase 25 horas para concluir as missões da história e algumas paralelas, foi possível circular por diferentes ambientes, alternando entre lindas paisagens rurais e grandes centros urbanos, tendo as regiões de Yokohama, Edo (hoje conhecida como Tóquio) e Quioto representadas em três mapas abertos distintos. E cada um deles carrega em si uma variedade absurda de detalhes. Neste ponto, a recriação do Japão da segunda metade do século XIX está surpreendentemente bem feita, inclusive demonstrando em prédios e transeuntes das ruas toda a influência ocidental da época, algo feito com muito esmero.

Desta forma, vale ressaltar aqui que a Team NINJA fez um trabalho bem interessante na narrativa, nos permitindo participar de facções favoráveis ao xogunato e contra o xogunato, o que pode acabar nos confundindo em certos momentos. No entanto, isso é totalmente condizente com a ideia proposta no jogo, em que encarnamos um ronin, ou seja, um samurai sem senhores, que age de acordo com seus interesses.

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As armas de fogo trazem inúmeras possibilidades para as batalhas. (Imagem: Divulgação)

Outro ponto legal de se ressaltar nesta parte, é a possível comparação que pode surgir com Ghost of Tsushima. Porém, expliquei melhor em um artigo todas as diferenças do período de Rise of the Ronin e Ghost of Tsushima, que se passam em momentos distintos. Por fim, neste quesito, Rise of the Ronin me cativou bastante e me fez querer refazer diversas missões da história e, além disso, concluir outras coisas espalhadas pelo mapa, algo que falarei a seguir.

Variações de tarefas nos mapas de mundo aberto

Após tratarmos da narrativa de Rise of the Ronin, falarei um pouco mais de sua jogabilidade. Além das missões da história, temos a possibilidade de dominar diversos pontos tomados por inimigos no mapa, algo bem parecido com alguns jogos da franquia Assassin’s Creed e até mesmo com… Ghost of Tsushima. Ao liberarmos esses locais, temos a possibilidade de adquirir itens melhores e, consequentemente, melhorar o elo com cada uma dessas regiões, liberando novas missões secundárias e descontos nos vendedores. Contudo, também podemos caçar bandidos, achar tesouros, encontrar santuários, gatinhos perdidos e até mesmo missões que surgem de surpresa no mapa, os Encontros Inesperados.

Explicando melhor esses encontros, eles são gerados ao andarmos pelos mapas, tendo alguns deles inclusive uma certa raridade, como a perseguição de um assassino, que pode simplesmente sumir, culminando em um fracasso. Contudo, a maioria delas é estática no mapa, nos permitindo circular um bocado ao redor antes de tomar alguma medida. Só neste ponto, Rise of the Ronin traz uma sobrevida bem interessante de jogabilidade, oferecendo diversos desafios que, felizmente, nos rendem itens e dinheiro. Portanto, explorar bem o mapa pode render muitas coisas boas, que facilitam bastante a nossa vida ao prosseguirmos na história.

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Os mapas do game são bem vastos. (Imagem: Divulgação)

A jogabilidade mescla diferentes estilos

A Team NINJA é muito conhecida por fazer alguns jogos próximos ao estilo soulslike, como a franquia Nioh e Wo Long Fallen. No entanto, uma coisa que pude perceber em Rise of the Ronin, é que, felizmente, o jogo traz uma proposta mais democrática, mesclando o estilo souls com um pouco de hack and slash. É claro, isso pode variar conforme o nível de dificuldade escolhido, tendo três opções distintas, que também podem ser customizadas. Só neste ponto, o game já conseguiu me cativar um bocado, visto que não sou a melhor pessoa para jogar games como Sekiro ou Dark Souls. Contudo, ele tem parry, esquiva, ataque forte e fraco, e todos os itens deste estilo de jogo.

Confira 16 dicas para mandar bem em Rise of the Ronin!

Mas essa diferenciação de jogabilidade vai ficando cada vez mais nítida. Logo de cara, ao começarmos nossa aventura em Rise of the Ronin, temos a oportunidade de personalizar nosso avatar, com uma ampla gama de opções detalhadas que vão de sexo, voz, cabelo a roupas e pontos de habilidade variados. E, para melhorar, o jogo oferece uma diversidade notável de escolhas, incluindo muitos tipos de armas, vestimentas, armaduras e equipamentos para serem usados ao longo da aventura. E tudo isso tem influência nos stats do personagem, algo que possibilita uma série de combinações interessantes.

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Tal como um RPG, temos uma série de possibilidades. (Imagem: Reprodução)

Conforme progredimos, somos apresentados a um tutorial, que nos introduz ao sistema de combate. Portanto, podemos escolher inicialmente nossos estilos de armas, que vão de katanas, odachis, katanas duplas, lanças e muito, muuuito mais. Porém, isso fica ainda mais diversificado com a possibilidade de irmos aprendendo novas posturas de batalha, algo que traz inúmeras possibilidades de jogabilidade. Aliás, a cada postura adotada, podemos ter vantagens ou desvantagens contra cada um de nossos inimigos, algo ilustrado com setinhas azuis ou vermelhas ao lado da barra de vida de cada um deles. Este ponto em especial é surpreendente.

E, como é possível de se perceber nos trailers apresentados anteriormente, Rise of the Ronin, tal como outros jogos, traz algumas tecnologias diferenciadas em sua gameplay, algo que acabou trazendo ainda mais diversão e possibilidades para nós, jogadores. Desta forma, não se assuste ao ver apetrechos inspirados em algumas invenções e projetos do Japão feudal, como ganchos para subir em lugares mais altos e até mesmo planadores, muito úteis para invadir castelos. Esse tipo de coisa, embora pareça fugir da realidade histórica do game, traz muito para o quesito diversão.

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Os itens contam com diferentes atributos e níveis de raridade. (Imagem: Reprodução)

Desta forma, Rise of the Ronin nos oferece além de uma narrativa cheia de possibilidades, uma jogabilidade que nos permite escolher uma variedade de coisas, algo que pode até nos deixar meio “tontos” no início. Contudo, com o decorrer do jogo, vamos pegando o jeito e recebendo tutoriais de cada uma das novidades que vão se apresentando. E, como a própria desenvolvedora havia dito anteriormente, o jogo teve diversos probleminhas corrigidos ao longo do acesso antecipado para produzir a análise, algo que melhorou a experiência como um todo.

Vínculos são importantes

Seja com as cidades ou com cada um dos novos personagens que vão surgindo no decorrer da narrativa, Rise of The Ronin tem um foco interessante nas relações, chamadas de Elos. Desta forma, ao jogar com parceiros e interagir positivamente ou negativamente com cada um deles, isso pode ir transformando as conexões, sendo este ponto bem interessante. Afinal de contas, revoluções, guerras e a própria sociedade em si não podem existir com apenas uma única pessoa, algo que o jogo acaba enfatizando.

E, para que você melhore seus Elos, você deverá fazer diferentes coisas. Por exemplo, se você quer ter um vínculo melhor com as regiões, é necessário que você faça as missões dela, além de livra-la das garras de bandidos e outros oportunistas. Já com os personagens, você pode recrutá-los para te acompanhar em algumas missões e, além disso, poderá dar presentes para eles, fortalecendo ainda mais a parceria, que vai dando atributos extras e outros bônus interessantes. Não só isso, é legal perceber também como tudo isso se entrelaça com o enredo do jogo. Mas, para não dar spoilers, seguirei adiante.

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Os presentes são essenciais para melhorar os Elos com outros personagens. (Imagem: Reprodução)

Alguns pontos a serem ressaltados

No decorrer da experiência de Rise of the Ronin, é evidente o uso recorrente de alguns elementos gráficos semelhantes, como o fundo dos rios que se repete ou os itens coletáveis pelo mapa, algo que poderia ter sido mais diversificado. Contudo, como eu disse na preview, essa questão não interfere significativamente na jogabilidade, mas é algo notável. Os inimigos, até contam com uma boa variedade, diversificando-se ao longo da narrativa, que nos apresenta muitas facções distintas, mostrando o caos do Japão daquele período.

Além disso, no quesito gráfico, Rise of the Ronin apresenta variações, alternando entre personagens bem detalhados e mapas com texturas que parecem um pouco mais genéricas, para além do que foi dito acima. E, embora isso não afete a jogabilidade ou o entretenimento trazido pelo jogo, por ser um título exclusivo da nova geração, esperava-se uma consistência gráfica mais aprimorada no conjunto da obra.

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Ah, e temos cachorros e gatinhos espalhados pelos mapas! (Imagem: Reprodução)

Aliás, o próprio desempenho do jogo deixa um pouco a desejar, sobretudo quando jogamos no modo de prioridade gráfica ou no RTX. Nestes, é bem possível que o jogo caia para menos de 30 FPS, travando um bocado. Contudo, a maior parte da minha experiência foi no modo desempenho, que rodou de maneira lisa, embora ainda tivesse umas quedas de frames em raros momentos. Sinceramente, acho que isso não deveria acontecer em nenhuma circunstância, sobretudo em um jogo atual. E, por ter um sistema de parry, tal como outros soulslikes, ao travar, Rise of the Ronin acaba tirando boa parte do nosso timing.

Vale a pena jogar Rise of the Ronin?

Tal como em minha review de Ghost of Tsushima, senti toda aquela ansiedade ao adentrar no mundo de Rise of the Ronin. Contudo, em um primeiro momento, tive muito estranhamento, sobretudo por não estar muito adequado ao estilo soulslike. Mas, com o tempo, fui pegando as manhas e conseguindo avançar nas lutas insanas apresentadas pelo game, sendo este um dos pontos mais ricos e interessantes da experiência do título da Team NINJA, que mandou muito bem na gameplay. Portanto, vale a pena se debruçar um pouco mais para ir se adaptando. Confesso que insisti e conclui o jogo em 25 horas intensas e bem divertidas.

A possibilidade de escolhermos nossas alianças e de conhecer diversos personagens históricos do período, traz um tom ainda mais interessante para Rise of the Ronin. A cada novo personagem que surgia, eu logo ia pesquisar para saber um pouco mais sobre, e via que eles existiram. É claro, não é um jogo fidedigno, e nem precisaria ser. Contudo, como um historiador enjoado, sempre acho válido ressaltar isso. E, para melhorar e dar uma baita sobrevida a experiência, poder revisitar missões já passadas nos possibilita reescrever a história do fim do xogunato Tokugawa, algo que a própria História nunca nos permitirá. Assim, experimentamos diferentes momentos ao longo da jogatina.

Contudo, preciso dizer que nem tudo são flores no Japão feudal. Rise of the Ronin ainda tem problemas de desempenho que incomodam, e, para piorar, os gráficos oscilam um pouco e até se repetem, algo que eventualmente acaba se ressaltando diante de nossos olhos. Alguns bugs de iluminação, bocas que não se mexem durante a fala dos personagens e outros errinhos menores também apareceram, mas nada disso comprometeu ou me fez recomeçar uma missão. De toda forma, por ser um jogo de nova geração, era esperado um pouco mais de esmero nesses pontos citados, sobretudo no quesito desempenho. Porém, é possível que um novo patch acerte isso. Ou não…

Portanto, se você é fã de jogos de samurai, de soulslike, hack and slash, um pouco de RPG e experiências em mundo aberto, Rise of the Ronin é perfeito para você, mesmo tendo alguns problemas. O jogo consege ser extremamente cativante e convidativo para todos os estilos de jogadores, possibilitando total customização da jogabilidade, seja do avatar, de armas, roupas e itens, a até mesmo a própria dificuldade de sua jogabilidade, tornando sua experiência em algo totalmente democrático. E, se você gostar de uma boa narrativa, cheia de tramas políticas, batalhas e muita diversão, melhor ainda.

Ah, e vale ressaltar que ele é totalmente localizado para o português brasileiro, com dublagens muito boas e todos os menus traduzidos. Desta forma, o jogo fica ainda mais acessível para todas e todos.

Concluindo, é difícil não conseguir indicar Rise of the Ronin pra qualquer jogador que seja. De um denso souslike, como Sekiro, a um Assassin’s Creed Odyssey, a impressão que fico é a de que o jogo tem grande chance de agradar gregos e troianos. Ou melhor, rebeldes antixogunato e os partidários do xogum. Assim, sugiro que, se você tiver alguma dúvida, vale a pena tentar embarcar nessa aventura.

*Review elaborada com código fornecido pela Sony.

Pizza Fria

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Por Álvaro Saluan, Pizza Fria

Atualizado em 21 Mar 2024.