Guia da Semana

No dia 10 de Setembro de 1930, em meio a tumultos históricos e políticos, o mundo foi agraciado com a chegada daquele que um dia se transformaria num poeta de coração aberto e intenso, com voz firme que fazia arrepiar e com versos doces que transformam a essência da vida em palavras.

Ferreira Gullar não só contribuiu para a arte como fez parte dela. Através de sua palavra, nos fez viajar no imaginário e no irreal, deixando as cores mais vivas, as vozes mais suaves, o amor mais amado. O poeta expirou vida e vontade de viver com toda a sua intensidade, vontade de amar, e hoje nos deixa um grande legado.

Suas inspirações estiveram em todo suspiro de existência. Seus poemas nasceram de lembranças, conversas, espantos. De toda a beleza e absurdo do mundo. Seus cabelos prateados externavam a sabedoria de toda uma vida, e dizia constantemente que para ele a realidade nunca foi arte, e que a arte existe porque a vida não basta.

Além do bom humor, humildade e modéstia também eram algumas das características do poeta, que mesmo depois de servir de inspiração para tantas exposições e homenagens, sempre dizia que não acreditava quando ganhava um prêmio, assim como na idade que tinha.

Desde a infância, quando chamou a atenção de seus professores ao escrever uma redação, ironizando o fato de não se trabalhar no Dia do Trabalho, o poeta questionava em seus textos os propósitos da ordem e desordem do mundo, dedicando seus versos à problemática do homem. Assim, sua obra explora todo o poder da palavra para traduzir sentimentos e sensações, envolvendo desde a delicada nostalgia de “Cantiga para não morrer”, até a reflexão e reafirmação vital sob a própria morte em “Aprendizado”e “Os mortos”.

O poeta denunciava sem medo, revelava que escrevia para dar voz a quem não tinha, aos anônimos, aos humilhados e ofendidos. Por defender suas ideias foi preso durante a ditadura militar e depois exilado em Buenos Aires, onde escreveu “Poema sujo”, um de seus mais famosos. Considerado por Vinicius de Moraes “o mais importante poema escrito em qualquer língua nas últimas décadas”, e elogiado por Otto Maria Charpeaux, “Poema Sujo merecia ser chamado de ‘Poema Nacional’, porque encarna todas as experiências, vitórias, derrotas e esperanças da vida do homem brasileiro.”, “É o Brasil mesmo, em versos sujos e, portanto, sinceros”, diz ele.

De volta ao Brasil, lançou e escreveu muitas obras, entre elas, poesias, literatura infantil, poesia no exterior, ensaio, crônica, tradução, ficção. Obras escritas para coletâneas e minisséries.

Poeta, critico de arte, jornalista, redator, tradutor, ensaísta brasileiro e um dos fundadores do Neoconcretismo, também colaborou com importantes jornais e revistas e teve grande importância nas mudanças políticas e sociais do País. O poeta também pintava quadros, fazia desenhos e colagens, o que chamava de seu lado B. A linguagem de Ferreira Gullar ultrapassava os limites das próprias palavras e ao longo de seus 86 anos se fez um artista completo.

Atualizado em 5 Dez 2016.