Guia da Semana

Passada a ressaca da Guifest no mês passado, resolvi aproveitar outro aniversário - o meu (e toda aquela onda saudosista que pinta com a data) para ir buscar a "banda da vez" nas minhas lembranças de um passado (até que) recente.

Foi em 2004, mesmo ano em que o Teenage Fanclub (finalmente) veio tocar no Brasil. Foi lá na pequena Generics (um misto de loja e balada descolex que ficava numa casa da Vila Madalena) que tudo começou. Pouca gente lembra, mas os embriões de duas festas que bombam hoje em dia (Brasa e Peligro) se formaram lá. Muita gente bacana tocou, discotecou, visitou, passou naquele local - apesar do pequeno tempo de vida da casinha, se não me engano, não durou mais que um ano. E foi lá também que a banda deste mês, o Fotograma, deu os seus primeiros passos.

A coisa começou como um projeto solo de um amigo, o Luiz Campos Junior, que conheço de épocas de militância indie no Espaço Retro da Santa Cecília - o Retro, pra quem não sabe, foi uma das casas de rock alternativo mais importantes de São Paulo nos anos 90. "O nome vem de fotografia e cinema. Na realidade a idéia inicial era compor canções que remetessem a imagens, como se a música fosse o filme e a trilha sonora ao mesmo tempo".



Ele fez sua primeira apresentação para amigos chegados numa noite fria de inverno - bem diferente dessas fajutas deste ano! Lá no fundinho da casa de fachada amarela (é, eu acho que era amarela...), com um violão e a luz de velas, Luiz provou ter talento musical com suas ótimas composições.

Anda, corre, voa!

Um ano depois, em 2005, veio o primeiro EP, com faixas gravadas em um esquema bem caseiro, tendo o próprio Luiz como compositor, arranjador e produtor. Sensorial não só é o título desse registro, como também é o nome da fantástica música que mais me marcou na tal noite (e que até hoje é a minha favorita). Instrumental, introspectiva e perfeita.

"Convidei alguns amigos para participarem de algumas músicas desse álbum. Disponibilizei-o na internet e também em versão física. Quando lancei de forma independente, já tinha em mente o rumo que queria dar ao projeto. A primeira coisa era ter uma voz feminina cantando comigo", conta Luiz.

Foi aí que entrou em cena a bela voz de Mariana Cetra. "Conheci a Mari um pouco antes de lançar Sensorial, e como já estava desenvolvendo novas idéias, aproveitei para convidá-la e começamos a trabalhar em conjunto. Tempos depois já havíamos colhido o primeiro fruto dessa parceria, o EP Anda, Corre, Voa!, de 2006" explica.

O resto dos integrantes foi chegando aos poucos. "Meses depois convidei o Carlos Costa (baixista) e o Rogério Meni (baterista). da banda Continental Combo, para integrarem o projeto. Ensaiamos por pouco tempo nessa formação, já que o Rogério teve que deixar o Fotograma. Por conta disso, decidimos trabalhar em casa alguns meses (eu, Carlos e a Mariana), criando as linhas de baixo e desenvolvendo os arranjos. Testamos outros bateristas, mas não achamos ninguém. Continuamos caminhando e logo estaríamos prontos para convidar outras pessoas" conta o vocalista.

Conheci o Paulo Matos anos atrás, quando ele ainda tocava guitarra na banda de um amigo nosso em comum. Não tive dúvida ao fazer contato e convidá-lo. Em seguida começamos a testar novos bateristas, mas nenhum deles se encaixava com naturalidade. Até que lembrei de uma banda da época do Retro - o Magic Crayon. Liguei para o Fabio Barbosa (que também toca no Gasolines). Batemos um papo e, no final, pedi para ele aparecer no estúdio. No dia seguinte lá estava ele".

Finalmente o projeto estava ficando do jeito que seu mentor imaginava: "Entre setembro e outubro de 2007 ocorreu nosso primeiro ensaio na formação oficial (Luiz Campos, Mariana Cetra, Carlos Costa, Paulo Matos e Fabio Barbosa) e foi incrível! Naquele momento, ali mesmo entre os amplificadores, tive a sensação de estar com as pessoas certas! A certeza fez casa e as idéias ganharam densidade rapidamente. Em dezembro fizemos nosso primeiro show. De lá pra cá a sintonia vem aumentando a cada ensaio".



Presenciei um show da banda nesse ano no Clube Berlin e fiquei surpresa em ver como aquele projeto solo tinha evoluído de uma forma tão positiva. As músicas do Fotograma sempre me remetem a uma coisa meio Clube da Esquina - rapidamente pra quem não se localizou - esse é o nome de um movimento musical da década de 60, lá de Minas, que tinha como integrantes nada menos que um tal de Milton Nascimento, um certo Lô Borges e mais um Flavio Venturini e um Beto Guedes, só pra citar alguns nomes.

Violão sempre presente, melodias agradáveis, quase bucólicas, trilha perfeita pra uma caminhada ao ar livre (é a primeira "fotografia" que me vem à cabeça). Também gosto bastante nos duetos entre a Mari e o Luiz, como em Vermelho Sangue. A música mais executada no MySpace do Fotograma chama-se Anda, corre, voa!, e também está na minha lista de favoritas. O Luiz deu uma ótima definição pra ela: "Essa canção é nosso manifesto para libertação da alma!".

O vocalista também promete o primeiro trabalho oficial da banda para breve: "A prioridade é concluir a produção desse álbum. Estou acabando a mixagem, correndo pra terminar tudo o quanto antes. Temos música pra lançar três discos, mas iremos com calma". O disco terá o sugestivo nome de Trilha Sonora Intuitiva. É possível baixar ainda duas músicas novas pelo site.

+ Para ouvir: confira o MySpace da banda

+ Conheça a banda: confira o site da banda

Fotos: Leandro Gonçalves

Quem é o colunista: Miss Má é jornalista formada em 98 pela Metodista de SBC.
O que faz: É professora de educação infantil, e dj e produtora (e agora colunista) nas horas vagas. Comanda o projeto quinzenal "Rockload".
Pecado gastronômico: batata frita e pizza (não juntos necessariamente!)
Melhor lugar do Brasil: Sampa. Sempre Sampa.

Atualizado em 6 Set 2011.