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Entre violões, guitarras e microfones, alguns grupos musicais passaram a priorizar a interpretação e a composição de cenários e figurinos coloridos. Quem assiste a esses espetáculos, está acostumado a momentos nos quais a música cede espaço para a brincadeira e a reflexão. É desta maneira que o mesmo palco se torna circo, teatro ou até um palanque, reunindo histórias folclóricas, músicas, cantigas e até mesmo filosofias e críticas sociais, através de poemas e arte circense.
Sejam herdeiros da teatralidade de Os Secos e Molhados, como O Teatro Mágico, difusores da poesia popular nordestina, como o Cordel do Fogo Encantado, ou ainda bandas voltadas para o público infantil, como o Palavra Cantada, esses grupos unem elementos fantásticos à sua música e provocam reflexões em adultos e crianças, que aprendem desde cedo o certo e o errado.
Infantil, mas com conteúdo
Criado em 1994, por Sandra Peres e Paulo Tatit, o Palavra Cantada apresenta um estilo infantil moderno, que une o universo lúdico ao poético. Após 11 CDs autorais e quatro DVDs, a dupla continua proporcionando um espetáculo que diverte e emociona as crianças e suas famílias. Em dezembro de 2008, fizeram sua primeira incursão cênica, com a opereta Ramon e Maraó, que mescla interpretação, coro musical e teatro de bonecos, produzidos pelo grupo Giramundo.
Artistas independentes, Sandra e Paulo costumam vender seus discos nos locais mais inusitados. "Tem CD nosso até em farmácia de manipulação e lojas de brinquedos, algo que uma gravadora nunca permitiria", diz Sandra.
Direto do sertão
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Oriundo de um espetáculo cênico-musical, montado na cidade pernambucana de Arcoverde, o Cordel do Fogo Encantado foi fundado com base na mistura de diversas tradições musicais do sertão, como o toré indígena, o samba de coco, o reisado e a embolada à poesia popular nordestina, inspirada em nomes como Chico Pedrosa, Manoel Filó, Inácio da Catingueira e Zé da Luz.
Em 2000, o grupo gravou, de forma independente, seu primeiro álbum, que leva o nome da banda e caiu no gosto da crítica, com um show marcado pelas pausas poéticas que retratam a condição humana e a vida sertaneja. Dois discos depois, o vínculo poético do grupo continua forte, podendo ser constatado em diversas situações nas quais Lirinha, líder da banda, silencia multidões recitando poesias em carnavais e festivais de rock, como o Jambolada 2008, em Uberlândia, Minas Gerais.
Quando a poesia prevalece
Foto: Nathalya Buracoff |
Realizando um verdadeiro sarau com o público, o Teatro Mágico completou cinco anos recentemente, propagando a arte independente com o lançamento de seu segundo CD, Segundo Ato.
Para o idealizador e líder da banda, Fernando Anitelli, "quem assiste a um show, quer sair daquele universo cotidiano e assumir sua verdadeira personalidade, deixando o personagem que interpreta diariamente e assumindo o interior de si mesmo".
Na opinião de Fernando, esses formatos são importantes para o artista se reinventar e não se tornar um cover dele mesmo. "É necessário assumir essa questão política dentro da arte, de não ficar preso a uma fórmula de sucesso", completa o músico.
No mainstream
O compartilhamento de arquivos e a banda larga tornaram possível conseguir aquela música do seu artista favorito via web. Isso já é senso comum. Mas alguns movimentos de licenciamento livre tornaram essa situação ainda mais favorável para os fãs. O Teatro Mágico, por exemplo, conseguiu grande parte de seus admiradores graças ao site oficial da trupe, onde estão disponíveis todas as canções e vídeos de seus trabalhos.
Para o músico e produtor Thunderbird, uma das saídas para quem deseja quebrar a monotonia do mercado musical é investir nos diferenciais artísticos do espetáculo. Referência no circuito underground, Thunder lembra que os grupos performáticos não são novidade no Brasil, citando o saudoso Secos e Molhados. "O Ney Matogrosso fez isso a vida toda. Outro exemplo é Arrigo Barnabé que usava diversos elementos para completar o espetáculos. Há muitas formas de intervenções para um único show".
Mas segundo o músico, esse é um tipo de proposta específica, que se todos começarem a fazer, pode acabar caindo no ridículo, apesar de ter saído do underground há muito tempo. "Para mim, isso é arte mainstream, que atinge um público gigantesco. Quantos discos o Teatro Mágico vendeu? Muito mais que dez mil cópias, não? Eles possuem um grande espaço. Foram pautas de jornais, estão na Rede Globo. Infelizmente o grande público só toma conhecimento desse tipo de arte quando ela entra na grande mídia", finaliza.
Foto de capa: Vinny Camp
Atualizado em 6 Set 2011.