Guia da Semana



Sem mais delongas, listo nesta coluna cinco das piores aberrações da música. São sujeitos folclóricos que espalham pelo planeta suas manias, convenções ou simplesmente suas chatices de momento, testando nossa paciência com uma volumosa quantidade asneiras.

O dono do trânsito

O indivíduo julga ter um gosto musical tão apurado que deseja ardentemente compartilhá-lo com todos ao redor. Seu carro pode estar caindo aos pedaços e sua carta pode estar suspensa, mas nada o impede de importunar transeuntes e motoristas com seu repertório escabroso, repleto de pérolas da música brega. Seja axé, hip hop, sertanejo ou o bate-estaca mais manjado, o volume está sempre no talo, deixando o já caótico tráfego das grandes cidades mais insuportável ainda. Esse tipo também costuma confundir posto de gasolina com o calçadão da Praia Grande, no litoral paulista, já que passa horas a fio detonando a bateria do veículo enquanto faz pose de bacana na frente do possante.

O chato do violão

Uma derivação do sujeito acima citado é o chato do violão, uma das pragas mais nocivas da sociedade, principalmente se levarmos em conta a incrível capacidade de reprodução da espécie. Com o instrumento sempre a tiracolo, ele vive a nos agraciar com a coletânea do Legião Urbana. Quando você, caro leitor, ouvir o verso "Não tinha medo o tal João de Santo Cristo..." é melhor correr o mais depressa possível. O chato do violão demonstra total incapacidade em memorizar acordes complexos, o que o leva a memorizar meia-dúzia de solos irritantes, geralmente executados de maneira tosca a despeito das caras e bocas expressadas pelo camarada, quase sempre acompanhado de uma rodinha de bocós.

O tarado por videokê

Em baixa nos dias de hoje, o videokê foi indubitavelmente a desgraça musical mais popular da última década. Havia uma época em que era impossível ir a qualquer batizado, aniversário infantil ou velório e não ouvir um pentelho ganindo Pintura Íntima, do Kid Abelha. Pior do que as paisagens medonhas que se sucediam na tela, era a falta de talento dos aspirantes a Frank Sinatra, que em determinado momento da festa empreendiam um dueto canhestro. Infelizmente, a modalidade continua a ser praticada em alguns rincões do país, assombrando o bom gosto nosso de cada dia.

O DJ de fim de semana

Disco de vinil mesmo o sujeito só viu na casa dos avós, e era uma coleção do Nat King Cole. Com a popularização da internet em banda larga, a receita passou a ser simplesmente estúpida: baixam-se centenas de música de péssima qualidade que são gravadas em mídias mais fajutas ainda, depois, organiza-se tudo em uma disqueteira e pronto, o dee jay de fim de semana com pinta de espertão está pronto para aterrorizar as casas noturnas mais chinfrins da cidade com uma sucessão interminável de poperô, ou pior ainda, com seus mixtapes, a frescura mais hype do momento.

Os fãs cabeça-de-bagre

Tem o camarada que ouve Tim Maia e acha isso muito cool, mas só se for a fase Racional. Há também aquela fã que não gosta de nada que não seja os primeiros álbuns e EP´s (sim, EP´s) de determinada banda, pois, você sabe, depois eles se venderam ao sistema. Nessa mesma linhagem, convivem o sujeito que bate no peito porque conhece uma banda do norte de Brighton, Inglaterra, que se não lançou ainda um disco, pelo menos tem quatro música no MySpace que são o supra-sumo do casas noturnas underground da Europa, e o pedante de plantão que não cansa enquanto não criar o rótulo mais esdrúxulo possível, como anti-indie-folk, new-rave-vintage e noisy-art-rock.


Quem é o colunista: Bruno Lofreta
O que faz: jornalista e desenhista amador
Pecado gastronômico: empanada de marisco acompanhada por um belo pint de Guinness
Melhor lugar do Brasil: Embarque do Aeroporto Internacional de Guarulhos (Cumbica)
Fale com ele: [email protected]



Atualizado em 6 Set 2011.