Guia da Semana



Diluir ritmos, misturando tendências aparentemente incongruentes, tornou-se uma constante nas últimas duas décadas. Entretanto, muitas das receitas testadas desandaram. Convictos de que o experimentalismo por si só era o suficiente, muitos artistas caíram no lugar comum, desovando no mercado trabalhos um tanto quanto enfadonhos. Para se esquivar da mesmice, o argentino Eduardo Makaroff, o francês Philippe Cohen Solal e o suíço Christoph Mueller, membros do Gotan Project, ousaram aproximar a música eletrônica das raízes do tango, concebendo o que mais tarde seria batizado de electrotango.

Lançado em 2001, La Revancha Del Tango, álbum de estréia do trio, deu ao cenário pop um sopro de criatividade mais do que bem vindo. Desafiando a desconfiança de alguns puristas, o trabalho congrega o som tradicional de ícones do ritmo portenho, como Astor Piazzola e Carlos Gardel, e uma boa dose de Kraftwerk - os dinossauros da música eletrônica. Tudo isso temperado com um saboroso molho latino e uma pitada de acid jazz. O resultado foi aclamado pela crítica e passou da casa de 1 milhão de cópias vendidas. Em pouco tempo, o grupo subiu ao palco de grandes festivais de música da Europa e Estados Unidos, como o Montreux Jazz Festival, lendário evento que acontece há década na Suíça, e o Coachella, na Califórnia, onde tocou ao lado de nomes como Björk, Lily Allen e Red Hot Chilli Peppers.

O sucesso alcançado pelo Gotan Project, que hoje está radicado em Paris, chamou a atenção de alguns músicos consagrados. A prova disso é que Lunático, último disco da banda, tem a participação de gente como Nestor Marconi, Juan Carlos Cáceres e Ry Cooder, experiente produtor que deu corpo à belíssima trilha sonora do filme Paris, Texas e ajudou Wim Wenders a tocar o documentário Buena Vista Social Club. Aos poucos, o trio argentino caiu no gosto dos DJ´s e suas músicas acabaram por animar as pistas ao redor do planeta. No single Inspiracion-Espiracion Remix, DJ´s relêem canções do próprio Gotan Project e clássicos de tango e jazz. O destaque fica para a inebriante faixa Gotan Project meets Chet Baker - Round About Midnight, em que um dos maiores standards jazzísticos de Thelonious Monk, interpretado pelo trompetista cool, ganha uma roupagem electrotango.

Seguindo os passos

Inspirado em grande parte pelo sucesso do Gotan Project, outros artistas passaram a investir na combinação de tango com elementos eletrônicos. Uma dessas gratas revelações é o Tanghetto, grupo que não enxergou limitações ao remixar hinos da e-music como Enjoy The Silence e Blue Monday, das bandas Depeche Mode e New Order respectivamente. Liderada por Max Masri e Diego Velázquez, o Tanghetto segue uma tendência mais voltada para o lado instrumental, procurando arranjos refinados para instrumentos como bandoneon, violoncelo, piano, guitarras e bateria, sem esquecer da importância vital dos sintetizadores e samplers.

Gustavo Santaolalla
Nas duas vezes que levou o Oscar de Melhor Trilha Sonora - por O Segredo de Brokeback Mountain e Babel - o produtor e compositor Gustavo Santaolalla provou que a versatilidade de seu elogiado trabalho não vê fronteiras. Ao lado do coletivo argentino-uruguaio Bajofondo Tango Club, que se apresentou no Brasil recentemente, Santaolalla expande as estruturas do electrotango, dando-lhe novos adereços que podem ser incursões de hip-hop, levadas de milonga - outro ritmo tipicamente portenho - ou arranjos mais jazzísticos, ou seja, um retrato fiel da música contemporânea.

Confira as informações sobre a apresentação do Gotan Project em São Paulo:

Gotan Project

Local: Via Funchal.
Dia: 20 de junho.
Horário: Quarta, 21h30.
Preço: R$60,00 a R$ 300,00.

Fotos: divulgação

Atualizado em 6 Set 2011.