Guia da Semana

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O público se deliciando com os quitutes do Comida di Buteco em Belém do Pará

Além do samba, da bossa-nova, da mulata e do futebol, o PIB - produto imaginário brasileiro - ganha mais um produto-exportação: a gastronomia. E não estamos falando em churrasco e arroz-com-feijão. Recentemente incensada com a entrada do D.O.M., do chef Alex Atala, no Top Ten da revista inglesa Restaurant, a participação nacional promete ser ainda maior na restauração mundial. "Até o final desse ano, levaremos a Restaurant Week para Buenos Aires", garante o empresário e restaurateur Emerson Silveira. De festival em festival, todos ganham: empresários, trabalhadores do setor, clientes e, principalmente, a mesa verde-amarela.

Atualmente, são quatro eventos nacionais: dois para restaurantes - Restaurant Week (RW) e Brasil Sabor; e dois para bares: Comida di Buteco (CdB) e De Bar em Bar. Em comum, o objetivo de fazer os clientes se aventurarem em menus, pratos e quitutes originais ou releituras, sempre promocionados, garantindo assim bastante boca a boca e mantendo a casa cheia.

"Existe uma dimensão grande da gastronomia que esses festivais estão explorando e bem. Cada um tem sua particularidade, pois enquanto um é dirigido à promoção de petiscos, o outro já trabalha com a estrutura do menu francês e o nosso busca valorizar pratos com sabor nacional", garante Joaquim Savaiva, presidente do Conselho Nacional da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) e na organização do Brasil Sabor desde a sua primeira edição, em 2005.

Atualmente, o festival acontece em 24 estados da Federação e em mais de 70 cidades. As casas não precisam ser associadas à entidade e pagam uma taxa de participação voluntária, em média de R$ 90. Os participantes devem criar receitas novas, com ingredientes típicos brasileiros, e os pratos devem ter o valor do seu preço de custo. A agenda do evento é flexível, dando liberdade para as afiliadas estaduais organizarem-se dentro do período estimulado pela entidade nacional. A sexta edição encerra-se em 29 de maio, com exceção de São Paulo, que será do dia 31 até 30 de junho. Nos mesmos moldes, a associação organiza o De Bar em Bar, a ser realizado no mês de novembro. Ambos eventos têm patrocínio do Ministério do Turismo. "Além de mostrarmos nossa cozinha para os estrangeiros que aqui vêm, conseguimos exportar esses pratos para outros países", completa Saraiva.

Ampliando horizontes

Foto: Carla Peres

Lagosta Toscana, iguaria fina democratizada pelos festivais gastronômicos

Enquanto trabalhava uma temporada em Nova Iorque no final da década de 90, Emerson Silveira conheceu a Restaurant Week local. Gostou do que viu e resolveu trazer o modelo para o Brasil. A primeira edição, realizada em São Paulo, 2007, contou com 39 casas. A entrada definitiva da Mica Mídia Cards na organização ampliou o leque a partir de 2009, triplicando estabelecimentos e atingindo as cidades de Brasília, Recife e Rio. Hoje, a edição de São Paulo, com 300 estabelecimentos, é a segunda maior do mundo, perdendo só para a original. "O dono já não oferece mais uma salada verde com filé de frango e frutas só para estar dentro, nem o cliente se irrita com as filas, pois tanto proprietários como o público entenderam a proposta", explica Fernando Reis Jr., sócio-diretor da empresa.

Após São Paulo e Curitiba, o evento chega ao Rio de Janeiro até 29 de maio e em Recife até 5 de junho. No início do segundo semestre, acontece a estreia internacional em Buenos Aires, depois Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Salvador, Goiânia e, provavelmente, Florianópolis.

Entre tantas conquistas, os parceiros acreditam que principal mérito da RW é auxiliar na profissionalização do setor. "Eu não inventei nada ao trazer o modelo para cá, mas obviamente abrimos um caminho, dando um peso maior à gastronomia no Brasil. Há quatro anos, não havia tamanha falação em torno do tema, muito menos a atual profissionalização que o mercado vem apresentando", explica o empresário. O último levantamento da Abrasel, de 2009, mapeou um total de 701.464 estabelecimentos, entre restaurantes, lanchonetes, bares e deliveries - cerca de 70,5% do setor de alimentação fora do lar.

Patrocínios e novas tecnologias

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A baixa gastronomia valorizada é valorizada por festivais como Comida di Buteco: O porco embreagado, prato do bar Cachambeer, no Rio de Janeiro

O restaurante participante da RW tem o compromisso de oferecer os três pratos do menu clássico francês - entrada, prato principal e sobremesa - dentro de um valor único para almoço e/ou jantar, além de pagar uma taxa que varia de cidade e edição, enquanto a equipe do evento cuida de toda a parte promocional e das parcerias. Aliás, as parcerias são fundamentais para o sucesso e para a viabilidade financeira dos eventos. Enquanto a Restaurant Week já conta com players internacionais como Mastercard, Sodexo e Nespresso, a atual edição do Brasil Sabor é promocionada principalmente pelo sites de compras coletivas ClickOn e Bom Proveito (este apenas São Paulo).

Para Eulália Araújo, organizadora do Comida di Buteco, o patrocínio qualifica o evento. "Quando uma empresa como Unilever enxerga esses eventos como plataforma de divulgação importante para suas marcas, elas endossam o valor do projeto para a culinária no país". Além da multinacional, o evento conta com apoio do Senac.

A participação democrática do público é a grande diferença do CdB para os demais festivais. Ele é um dos pioneiros, lançado em 1999, em Belo Horizonte. No entanto, só ganhou dimensão nacional em 2008, com as edições Rio, Salvador e interior de São Paulo. No ano passado, contabilizaram, em nível nacional, 267.900 votos e 16 milhões de comentários e citações em mídia espontânea. Só dos petiscos promocionados foram vendidos 197.900 unidades. "Esse ano, teremos mais de 300 participantes, e seguimos fazendo nossa missão de resgatar e valorizar a culinária de raiz, essa que sai da casa das pessoas e toma as ruas através dos botequins tradicionais", explica Eulália. Este ano, Manaus e Belém também vão contar com suas edições.

Ao final de tantos pratos, números e ações, fica a pergunta: Todo o festival é bom? Clientes chateados, garçons sem gorjeta e donos de casas arrancando os cabelos provam que não. A proprietária de um tradicional restaurante paulistano que participou pela primeira vez este ano avalia positivamente o retorno, mas, em visita a demais estabelecimentos, diz que comeu comida fria e teve atendimento ruim. "Se o restaurante não tiver infraestrutura, ele não segura a onda de um evento como o Restaurant Week. E não basta ampliar a brigada para o período do evento se não houver gente de fibra para segurar o movimento", comenta a empresária que prefere ficar no anonimato não ganhar inimizades.

Com as mídias sociais, as críticas ficam ainda maiores, levando inclusive a desclassificação de bares-participantes, como no último Comida di Buteco. Ou seja, para todos ganharem com esses mega-eventos, de sócios a garçons, de patrocinadores a público, antes dos quesitos desconto ou voto, a qualidade do dia a dia de restaurantes, bares e estabelecimentos é o requisito principal, pois, como diria o velho Geraldo Vandré, diante do público ensandecido no Teatro Record, no ano de 1968: a vida não se resume a festivais.

Conheça melhor os festivais e algumas casas participantes

Restaurant Week 2011
Rio de Janeiro: Até 29 de maio
Recife: Até 05 de julho
No segundo semestre, Buenos Aires, Salvador, Fortaleza, Goiania e segunda edição de São Paulo

6ª Brasil Sabor
Brasil: Até 29 de maio
São Paulo: De 31 de maio a 29 de junho

Comida di Buteco

De Bar em Bar
De 3 de novembro a 4 de dezembro

Atualizado em 7 Ago 2012.