Guia da Semana

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Eu nunca me arrisquei na cozinha. Na verdade, mal preparava meu café da manhã. Vergonha, eu sei! Mas a mordomia acabou assim que me casei. Não porque o marido seja exigente, mas o contrário. Não gosto de comer lanches e porcarias. Algumas vezes até faço exceções, mas durante a semana sou metódica. Gosto de comidinha feita na hora, legumes, verduras e frutinhas variadas.

Confesso que até hoje não sou a pessoa que mais usa a cozinha de casa, entretanto, não passo fome, nem dou vexame na hora de oferecer um almoço bacana para família. Comecei preparando coisas simples como arroz, purês (de todos os sabores possíveis para não enjoar) e saladinhas básicas. Mas foi num fim de semana que tudo mudou na cozinha de casa.

Fui ao restaurante La Marie e, por indicação de uma prima, pedi suflê de espinafre com Steak Tartare. Desde pequena, eu sou apaixonada por suflês e minha memória gastronômica foi ativada no momento em que senti o aroma do prato. No outro dia, lá estava eu pedindo a receita para minha mãe. Não a receita completa com Steak Tartare. Calma lá! Optei apenas pelo suflê e troquei o espinafre pela abobrinha.

Tomei nota pelo telefone mesmo: duas abobrinhas, três colheres de sopa de margarina, três colheres de sopa de farinha de trigo, uma xícara de leite, três ovos, duas colheres de queijo parmesão ralado e sal a gosto. Após cinco minutos anotando o modo de preparo, e uma hora recebendo recomendações como "Tome cuidado para não se queimar no fogão", "Mexa bem a massa", "Rale a abobrinha, quanto mais fininha, melhor", eu fui à guerra! Meu marido logo se aproximou com medo de talvez acontecesse um incêndio, vazamento de gás ou queimaduras de 3° grau, mas eu quis fazer tudo sozinha e já o despachei para comprar vinho.

Pouco tempo depois, já passava pela primeira inconveniência. Morrendo de fome, comecei a fazer o suflê ao mesmo tempo em que passava os filés e lavava a salada. Só que isso é pra quem já é um expert na cozinha. Pessoas como eu, que não têm coordenação nenhuma, devem ter um minuto de lucidez em situações delicadas como essa.

Na primeira tacada, eu consegui me cortar e, preocupada com o dedo, queimei o filé. Depois disso, encostei o braço na panela quente e percebi que não adiantava me atropelar! Tudo tinha que ser feito por partes e com concentração máxima. Para evitar novos acidentes, concentrei minhas forças apenas no suflê.

O primeiro passo foi ralar a abobrinha para não me perder quando estivesse no meio da obra. Em seguida, derreti a margarina em uma panela e, aos poucos, acrescentei farinha de trigo e leite, mexendo sempre para não empelotar. Quando o creme começou a encorpar, adicionei as gemas, o queijo ralado, uma pitada de sal e a abobrinha. Bati as claras em neve e depois juntei tudo. Untei uma fôrma, coloquei a massa lá dentro, coberta com queijo ralado e deixei no forno durante uns 20 ou 30 minutos, quando espetei o palito e ele saiu sequinho.

Já passavam das seis da tarde quando degustei meu "almojantar". Diante do resultado animador, passei a inventar receitas diferenciadas. A partir do primeiro suflê, posso dizer que meu saldo na cozinha é positivo. Quando alguma de minhas amigas solteiras pergunta como estou me virando na cozinha, a resposta é direta: "Tudo sob controle! E quer saber minha especialidade? Suflê... (risos)". Quem ouve, até pensa que sou mestre cuca de verdade!

Leia as colunas anteriores de Fernanda Balieiro:

O charme do Barão

Culinária Sulista em São Paulo

Papo de Espetinho

Quem é a colunista: Fernanda Balieiro

O que faz: Jornalista mil e uma utilidades.

Pecado gastronômico: a torta de limão do meu respectivo (maridão Fran).

Melhor lugar do Mundo: Todo o Nordeste.

Fale com ela: nandabalieiro @gmail.com

Atualizado em 7 Ago 2012.