Guia da Semana

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Santiago de Compostela, uma das cidades da Galícia

Referindo-se à região que fica a noroeste do país, os espanhóis do sul costumam dizer que botas de borracha, cachecol e guarda-chuva são os utensílios mais importantes dos galegos. E, na verdade, não é mentira. A névoa, o vento, as chuvas e um céu coberto determinam o clima e o espírito galego.

Os galegos têm fama de serem fechados, muito supersticiosos e de falarem pouco. Falam uma língua própria, o gallego - o que não é novidade na Espanha -, e, diferentemente do que aconteceu na Espanha inteira, é que os árabes não deixaram aqui nenhuma marca. Ao contrário: as marcas celtas e as pontes romanas existem até hoje. A paisagem é de pequenos campos de cultivo, montes baixos não cultivados, plantações de eucaliptos e vinhedos.

Nesta região, vivia-se, até pouco tempo atrás, somente do campo ou da pesca. Muitos galegos tiveram que deixar sua região, pois não havia um trabalho rentável. Os que ficaram mantiveram as tradições ao pé da letra, tanto as celtas como as crenças populares. A terra galega é sagrada para seus habitantes e, com isso, os produtos da terra e do mar, obtidos com dificuldades, são de todos e devem ser cuidados. Para os galegos, a comida e a bebida fazem esquecer a dureza da vida e trazem alegria.

Na costa da região da Galícia são pescados mais de 80 espécies de peixes e mais ou menos a mesma quantidade de mariscos. No interior, são cultivadas verduras e frutas, criam-se porcos, aves e vacas, pesca-se nos rios e os queijos são elaborados com leite de vaca. E, finalmente, os excelentes vinhos e aguardentes enchem os galegos de orgulho patriótico.

Dos pratos principais desta região, podemos destacar o caldo galego, que é próprio para os dias mais frios; o cocido galego, que vai com grão-de-bico, bacon, carne de vaca, cabeça de porco e folhas do nabo, entre outras coisas. Não se pode deixar pra trás o pulpo (polvo à moda galega), que é muito simples de ser feito, com bastante água, uma folha de louro, uma cebola, uma panela de cobre sobre fogo lento durante algumas horas. A carne deve ficar tenra e, ao mesmo tempo, consistente.

Uma outra receita imortal nesta região é a empanada, que nada mais é que uma espécie de pão recheado. É uma comida muito prática e preferida dos pescadores, agricultores, trabalhadores e peregrinos do Caminho de Santiago. Cortada em pequenos pedaços, é uma das tapas mais tradicionais servidas em todo o país.

Como sobremesa, o grande ícone da cozinha galega é a torta de Santiago. Ninguém sabe, com certeza, porque ela leva o nome do apóstolo. O que é certo é que, há muitos séculos, ela tem, em sua superfície, a cruz da ordem de Santiago recortada em uma fina camada de açúcar de confeiteiro. Os únicos ingredientes desta torta são as amêndoas moídas, farinha de trigo, açúcar, ovos, um toque de canela e casca de limão.

Bom, termino por aqui e espero o dia para a nova viagem de descobertas para esta bela região. Podíamos marcar para tomar um vinho ali na Rua Nova, bem ao lado da Catedral de Santiago. O que acham?

Leia as colunas anteriores de Arturo Frank:

Cultura de tapas

Um passeio pela España

Quem é o colunista: Uma pessoa caseira, dedicada e simples em tudo.

O que faz: Sócio e chef do restaurante Fulana em São Paulo; administrador e diretor da Casa de España de São Paulo.

Pecado gastronômico: Jamon (presunto cru espanhol).

Melhor lugar do mundo: Minha casa.

O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Dani Macaco e U2.

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Atualizado em 7 Ago 2012.