Guia da Semana

Foto:Divulgação/Debora


Esqueça tudo que você já viu sobre alta gastronomia. Ao contrário de pratos refinados feitos com itens encontrados apenas em locais específicos, a proposta do programa Larica Total, exibido na madrugada de sexta para sábado às 0h30 no Canal Brasil, é fazer da culinária algo muito mais criativo e simples do que parece. Apresentado pelo ator Paulo Tiefenthaler, a atração é sucesso e vem fazendo cada vez mais adeptos da chamada "culinária de guerrilha".

Nascido na Suíça, o ator dá vida ao solteirão Paulo Oliveira que mora sozinho e usa o que tem na geladeira para montar suas refeições. A atração é gravada no apartamento do apresentador e está distante dos badalados programas do nicho gastronômico. Principalmente quando o quesito é o próprio host, que é o oposto de chefs celebridades como Oliver, Alex Atala e Edu Guedes, aliás, nem mesmo chef, Paulo é.

Com receitas como o frango total flex, yakisobra, sushi de feijoada e a moqueca de ovo, tiradas de sua vivência a sós e de bate papos com a produção do programa - regados a cervejas e horas de risos - a filosofia adotadaé de não impor regras na cozinha e simplesmente estimular a criatividade dos telespectadores para colocarem, literalmente, a mão na massa. Fomos saber quais os truques de Paulo para compor seu personagem, como são feitos os pratos e o que ele preparará para a ceia de Natal. Confira!

Guia da Semana: Comparado ao que se vê na TV nos programas de culinária, acha que o seu vai contra o mundo refinado da gastronomia?
Paulo Tiefenthaler: Não é uma sátira, é algo que se aproxima mais da realidade que atinge milhões de pessoas no mundo. Um apartamento pequeno, meio bagunçado. A TV acostumou a audiência a ver as receitas naquelas cozinhas super refinadas, lindas, que quase ninguém tem em casa. A culinária pode ser uma coisa chique. Mas a maioria não é assim. No dia a dia a correria é outra. A ideia é escancarar e mostrar uma cozinha de verdade, fazer algo que tenha a ver com um solteirão, uma linguagem despojada, que retrate a vida de uma pessoa que more sozinha. Acho que é isso que faz com que tantas pessoas gostem do programa, porque ele trata a coisa como ela é.

Guia da Semana: Como surgiu a ideia de montar o programa?
Paulo: Surgiu em 2006, de um casal de amigos, donos de uma produtora. Era um roteiro para um curta metragem, mas não rolou. Um ano depois, aconteceu um encontro deles com conhecidos do Canal Brasil que acharam a ideia engraçada e propuseram fazer um piloto. Nesse momento me chamaram. O primeiro episódio eu disse para ligar a câmera e começamos a fazer. Deu super certo e na hora já disseram que eu estava contratado e eu topei. Depois disso, do segundo episódio ao vigésimo quarto, foi seguido.

Guia da Semana: De onde surgem as ideias para montar as receitas?
Paulo: A receita é criada. Na primeira temporada nos apegamos mais ao básico como feijão, arroz, sanduíche, ovo, omelete, batata recheada. Para a segunda temporada estamos pensando em coisas mais elaboradas com saladas, molhos. Depois do arroz, feijão, bife, hambúrguer já passamos do básico. Por isso, na segunda temporada já rola uma farofa e já peço para o telespectador pegar, por exemplo, a receita do episódio dezoito para misturar com a farofa. Por ser um público geral, isso é permitido. Não é aquela coisa só para o solteirão. O modo como eu falo e mostro tudo fica diferente e divertido.

Guia da Semana: Você testa as receitas antes de fazer no programa?
Paulo: Tem receitas que sim, mas algumas vão na hora mesmo. Quando não dá certo eu falo 'coloquei muita água'; 'foi muito sal'; 'errei'; 'não faz assim na sua casa que fica ruim'. Não deixo de falar a verdade. Cozinha é treino e vamos nessa. O importante disso tudo é a ideia. O programa quer mais sugerir do que ensinar a fazer. A criatividade na cozinha é importante, mas o bom humor deve estar acima de tudo. Se divirta cozinhando.

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Guia da Semana: E você come o que faz?
Paulo: Sim. Tem pessoas que ficam com nojo. E é comida que está sendo feita ali. Um hambúrguer, por exemplo, que queimou um pouco, queimou, ué! Quem nunca queimou um bifinho em casa uma vez na vida? Ou a lingüiça do churrasco? Quem disser que nunca sentiu aquele gostinho de queimado, é mentira. A cozinha do programa tem uma bagunça absolutamente normal. A TV ensinou a acreditar em cenários bem construídos. Tanto que casa de pobre em novela é tudo novinho, bonito. A cozinha do programa, que é na minha casa por sinal, é em um prédio de 50 anos, com aqueles azulejos brancos, já meio encardidos, não por sujeira, mas pelo tempo. Muita gente entende isso e algumas pessoas têm nojo. Uma casa velha imprime ser suja, mas tem muita higiene e os alimentos também.

Guia da Semana: É realmente possível reaproveitar tudo que está na geladeira?
Paulo: Eu sou a favor da chamada comida viva. É aquela cenoura que foi comprada no mercado de manhã e o melhor é comê-la durante o dia; não adianta ficar uma semana na geladeira. Comida que está para estragar não se deve comer. Ela já está meio morta e até a energia dela não é a mesma. Mas existem coisas que dá pra comer. Uma cebola, por exemplo, é uma coisa difícil de estragar. A batata... Já a pizza é preciso ver. É só dar uma de mecânico. Se ela estiver dois dias lá, está legal. Joga no forno, dá uma torrada com um queijo por cima, tira o tomate velho e coloca outro, está nova.

Guia da Semana: Você teve alguma influência para compor seu personagem, Paulo de Oliveira?
Paulo: É minha mesmo e junto com isso várias pessoas. Desde um primo meu argentino, até amigos meus; meu pai que era meio bagunceiro quando cozinhava. O que compõe o personagem é uma alegria brasileira, um cara que gosta de viajar, tem estrada e muita bagunça de todos os locais do mundo. O legal é o astral. Além da minha composição, como ator e autor, e o roteiro da equipe do programa. Eu nunca decoro texto, mas as ideias ordenadas são muito importantes. Tenho um norte para não me perder. Na hora que ligam a câmera é só deixar rolar. Para criar essa direção a equipe vai toda em casa e ficamos tomando cerveja e criando os pratos. Um fica no computador e vai anotando tudo. Ficamos horas assim.

Guia da Semana: Onde você aprendeu a cozinhar?
Paulo: É o mal de morar sozinho. Precisa ir inventando. Cortar cebola, tempero. Aprendí o básico, depois fui incrementando. Claro que existem pessoas que não conseguem mesmo. Cozinhar dá mesmo trabalho, não é fácil. Preparar tudo antes, cortar, cozinhar é muito trabalhoso. O melhor é se arriscar. Toca na comida, pega, testa, faz. Só assim vai aprender. A primeira vez que limpei um galeto foi a coisa mais horrível do mundo. Comecei a tirar tudo aquilo que vem dentro dele e larguei lá. Depois de respirar fundo, voltei e consegui terminar, mas quem terminou de preparar foi minha mãe. (risos)

Guia da Semana: Como é a reação do público perante suas receitas? Alguém já te disse que passou mal ou não deu nada certo quando fez em casa?
Paulo: Ninguém que eu saiba tenha passado mal até hoje. O pessoal manda muita receita. As pessoas tiram foto ao lado do prato que preparam, criam comunidades, grupos, dizem que eu sou o herói, que salvei a vida deles. Esse pessoal de república, até mesmo os solteirões, pessoas mais velhas. Um amigo meu estava fazendo um trabalho de televisão com três meninas, modelos, outro nível. E elas começaram a comentar sobre o Larica. Ele falou que me conhece e elas começaram, a detonar o programa. Disseram que é horrível, que nunca fariam aquilo, nunca comeriam num lugar daqueles. Eu achei engraçado porque ele me disse que elas iam dando detalhes e falando com uma certa raiva. Ou seja, elas assistem, porque sabem e falavam com tanta ênfase, porque no fundo gostavam.

Guia da Semana: Quais os itens que não podem faltar em uma geladeira?
Paulo: Água, cebola, alho, frutas, sal, tomate, alface, arroz, macarrão e cerveja. O ovo também. Ele é uma maravilha, tem um gostinho bom e combina com qualquer coisa. Tendo esses itens, o sujeito não passa necessidade.

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Guia da Semana: Qual seu prato preferido?
Paulo: É badejo grelhado acompanhado de arroz com passas. Claro, não feito por mim ainda. Pretendo aprender a fazer. Mas peixe é algo bem complicado. Adoro! Gosto muito de verdura, uma batata baroa bem cozida, cenoura bem cozida, brócolis. Tudo isso com o peixe, arroz e um vinho branco alemão, fica ótimo. Felizmente meu pai viajava muito e me levava para comer. Ele sempre fez questão de levar os filhos em restaurantes legais e guardo muitas lembranças disso.

Guia da Semana: Quais as três receitas mais fáceis de se fazer?
Paulo: Miojo. Dá pra fazer tanta coisa com ele. Até um yakisobra, que fizemos no Larica. Ovo mexido, que é só jogar ele na frigideira e mexer quatro vezes, colocar um salzinho e está pronto. Outra é salada de aface com tomate. Coloca um tempero, azeite, sal, vinagre, limão, cheiro verde. Essas são as super básicas. Mas o melhor é inventar. Por exemplo, a feijoada de sushi, que é uma receita chave do programa. É um resto de feijão com um resto de arroz, com uma couve que estava dando mole na geladeira. Junta tudo isso e faz um sushi. Enrola, faz um charutinho e está pronto. Como o sushi já tem arroz, ao invés de colocar atum, joga o feijão quente e se quiser um orégano, cheiro verde. Fica tudo uma delicia.

Guia da Semana: Qual a sua dica caso uma pessoa - que more sozinha e não saiba cozinhar - receba visita e precise fazer um prato?
Paulo: O cozidão. Pega tudo que está na geladeira e mistura. Alho e cebola para temperar, abobrinha, berinjela, cenoura, batata, etc. Coloca tudo em uma frigideira bem grande, deixa as verduras e legumes dourarem bem na cebola e no alho. Se tiver um açougue ou mercadinho perto da casa, compra um peito de frango, corta em pedaços joga lá e vai ficar muito bom. Vai conversando, tomando um vinho, uma cerveja e vai fazendo. Gasta pouco e é um prato saudável.

Guia da Semana: As pessoas se preocupam muito com o que fazer na ceia de final de ano. Qual sua dica para montar uma ideal?
Paulo: É o chamado galeto com farofa de girino. É a coisa mais fácil do mundo. Joga a farofa de mandioca na frigideira com alho e manteiga, coloca sal e vai temperando. Pegue o galeto, dê uma temperada com esses molhos prontos que ficam na geladeira, espalhe bastante cebola e alho, nele ainda cru. Depois de tudo feito, coloque a farofa dentro dele, amarre com barbante as pernas, coloque em uma assadeira com umas batatas e leva ao forno. Para aproveitar, faça um arroz com passas, compre um vinho branco português e está feita uma ceia leve e divertida.

Confira a primeira parte da receita do Frango Total Flex!



Acompahe a finalização do prato!

Atualizado em 7 Ago 2012.