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Acredito que vinho e viagem combinam perfeitamente. E não estou falando apenas de tomar vinho durante uma viagem, mas sim em visitar regiões vinícolas. Há muito tempo, tento programar minhas viagens em torno desse tema, mas nem todas são possíveis. Sempre existem as lojas especializadas e isso não é um problema! Voltando ao tema, tive a oportunidade de curtir um dia em Piemonte, na Itália. Minha viagem não era exclusivamente para estudo dos vinhos, por isso tive pouco tempo para visitar as vinícolas, mas pelo menos passei um dia maravilhoso, visitando uma região que não conhecia, entre as fantásticas colinas do Piemonte, próxima à cidade de Alba.

Conhecer os vinhos italianos não é tarefa fácil, dada a quantidade de regiões, complexidade de suas divisões, subdivisões, uvas autóctones (uvas nativas, em geral não plantadas em outros países), legislação de classificação de vinhos etc. O que não facilita os pobres enófilos. No novo mundo é fácil. Você conhece a uva, em geral os vinhos são varietais e pronto. Pode ter sido produzido num vale ou em outro e acabou o problema. No velho mundo, não. Os vinhos da região em questão são praticamente todos da uva nebbiolo, mas cada vinícola faz diversos vinhos com estilos de vinificação diferentes da mesma uva, mas com nomes diferentes. E o pior, ao provar, são mesmo diferentes!

A história vinícola desse país é muito rica. Quis comprar um guia de bolso de seus vinhos, para facilitar a escolha nos restaurantes. E veja só: descobri que de bolsa não seria possível. Ia precisar de um guia de mala com rodinhas! Os guias eram enormes, dada a quantidade de vinhos produzidos. O famoso Gambero Rosso é quase uma bíblia, de importância e de tamanho.

Visitar a Itália é certamente uma das melhores maneiras de se conhecer o vinho local, sentir o clima, a energia e o sabor de seus vinhos e culinária. Um dia não resolve muito, mas afinal, estive em uma das regiões mais famosas, a do vinho Barolo, o conhecido ´Rei dos Vinhos´ ou ´Vinho dos Reis´. Não que outros italianos não o sejam, mas esse, em particular, não sei o motivo, possui essa fama. A verdade é que já tinha provado Barolo antes e nunca, ao meu paladar, encontrei nenhum que justificasse tamanha fama de nobreza.

Nessa rápida visita, estive em três vinícolas e nos quatro dias em que fiquei em Turim, onde estava hospedada, tomei outros da mesma uva, Nebiollo, para poder definir uma opinião sobre eles. Nem todos são bons, não são vinhos fáceis de serem apreciados e nem todos irão experimentá-los. Alguns são mais duros, não diria que sejam fáceis de beber, mas são muito característicos e únicos.

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Mas, alguns esclarecimentos antes: o nome do vinho Barolo é também o nome de um vilarejo na região do Piemonte, noroeste da Itália, onde se produz, certamente, algum dos melhores vinhos tinto do país. Só nessa região há quase 40 zonas DOCG (denominação de origem controlada e garantida) e mais de 40 tipos de vinhos diferentes (por isso conhecer as vinícolas italianas é tão difícil). O vinho em questão é potente, austero, feito com uva Nebbiolo, cultivada em vinhedos de uma área restrita cercada por lindas colinas que se estende por 11 vilarejos da província de Cuneo. Trata-se de um vinho muito concentrado, robusto e austero, necessitando de tempo de envelhecimento e aeração para serem devidamente apreciado.

Pelas normas italianas o Barolo precisa envelhecer por pelo menos três anos, sendo dois em tonéis de madeira. Com taninos potentes, típicos da uva Nebbiolo, é um vinho com muita estrutura, características duras e enorme complexidade, devendo ser acompanhado por uma refeição de peso para facilitar sua apreciação. Definitivamente combina com a comida da região.

Na vila de Barolo há uma rua, onde fiz uma das melhores refeições de minha vida. Um pequeno restaurante de comida caseira, obviamente, com um menu de degustação com sete ou oito pratos da região, acompanhados de vinho Nebbiolo, é claro, com vista para os vinhedos! Visitei outro vilarejo, numa colina mais alta, La Morra, onde podia avistar diversas destas cidades milenares, além dos intermináveis campos de vinhas Nebbiolo.

Hoje, a vinificação dos Barolos mudou. Adotam um estilo mais moderno, apreciado internacionalmente, e mais fácil de beber, podendo ser apreciado mais jovem, isto é, de safras mais recentes. Pude perceber isso claramente em duas vinícolas distintas que visitei. Uma com vinhos mais duros e outra com produtos com mais frutas, mais redondos, mais moderno, digamos assim. Com isso, refiz o meu conceito sobre o ´Rei dos Vinhos´, o Barolo, entendendo que há os que gosto e os que não gosto. Não só pelo fato de serem caros que tenho que gostar de todos! Mas, o melhor de tudo, entendi que visitar vinícolas e tomar o vinho nacional é muito bom!

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Quem é a colunista: Denise Cavalcante, jornalista.

O que faz: Trabalha com eventos de vinhos e gastronomia.

Pecado gastronômico: Abrir garrafas de vinho para tomar sozinha, mas não ter coragem de abrir os melhores só para mim!

Melhor lugar do Brasil: Minha casa, ao lado do meu filho.

Fale com ela: [email protected]


Atualizado em 7 Ago 2012.