Guia da Semana

Filha de ninguém menos que Luiz Chagas, guitarrista que tocou com Itamar Assumpção na banda Isca de Polícia, e irmã do conhecido violinista Gustavo Ruiz, ela não nega a rica herança musical. Mas Tulipa Ruiz vai além da teoria que "filho de peixe peixinho é" e prova, em muito pouco tempo, que tem um brilho próprio.

Com uma voz incrivelmente doce e músicas cheias de sentimento - a maioria escritas por ela mesma ou em parceria -, Tulipa caiu nas graças do público apenas com perfil no MySpace, antes mesmo de lançar o CD Efêmera, em maio de 2010. Logo que o disco saiu do forno, recebeu efusivos elogios das principais mídias especializadas, sendo considerado, inclusive, o melhor do ano pela revista Rolling Stone.

Ao lado de Mariana Aydar, Karina Buhr, Tiê, Thiago Petit e Tatá Aeroplano, ela engrossa o caldo da nova geração de artistas brasileiros que tem cativado cada vez mais o cenário musical brasileiro. E, no meio deles, Tulipa Ruiz se destaca ao apresentar candura e intensidade em um som que busca referências na Tropicália dos anos 60 para soar completamente contemporâneo.

Em entrevista ao Guia da Semana, Tulipa Ruiz conta como deixou o jornalismo e decidiu seguir a carreira de cantora e fala sobre a produção e composição do seu disco de estreia. Confira!

Guia da Semana: Como a música fez parte da sua vida e como a sua família te influenciou?
Tulipa Ruiz: Quando minha mãe foi a Minas Gerais, levou todos os discos do meu pai e eles me influenciaram muito durante minha infância e adolescência. Aprendi a escutar música com minha mãe: ela acordava e já colocava um disco na vitrola. Minhas influências são basicamente o que tocava nessa vitrola: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, José Mota, Baby Consuelo, Beatles. Em São Lourenço, eu sempre cantei, fiz coral na minha adolescência inteira e canto lírico. Quando vim a São Paulo, o Gustavo já morava aqui, começamos a fazer faculdade juntos e montamos uma banda para tocar nas festinhas da PUC-SP, com o Dudu Tsuda e a Denise Assumpção. E foi ali que começou minha brincadeira com a música em São Paulo.

Guia da Semana: Então você demorou para seguir a carreira musical...
Tulipa Ruiz: Sim, o Gustavo teve muito claro que ele queria fazer musica, e eu, desde pequena sabia que queria desenhar, escrever, gostava de cantar e de 40 mil coisas, nunca tinha nada muito definido. Vim a São Paulo fazer Comunicação e Multi-Meios e comecei a gostar mais de certas coisas. Cantar era meu hobby e eu trabalhava como jornalista em agências, mas gostava mais de cantar e desenhar nas horas vagas do que de trabalhar como jornalista. E isso foi ficando mais forte, até que tive que optar por deixar de trabalhar em horário comercial em agência de comunicação para seguir como cantora.

Guia da Semana: Quando começou a encarar a música como profissão?
Tulipa Ruiz: Em dezembro de 2008. Nesse tempo, saí da casa dos meus pais, fui morar com o Gustavo e comecei a compor bastante. Em maio de 2009, fiz o primeiro show com as minhas músicas no Teatro Oficina. Depois, fizemos o Prata da Casa no Sesc Pompeia, fechei a banda com Duani, Gustavo, meu pai, Mácio Arantes no baixo e, na época, o Dudu Tsuda no teclado. Tocamos bastante essas músicas novas que estavam fresquinhas e eu as amadureci no palco, então, em janeiro, fazer o disco foi inevitável, as músicas estavam muito no ponto.

Guia da Semana: Como foi a produção do Efêmera?
Tulipa Ruiz: A produção é do Gustavo [Ruiz] e co-produção do Márcio Arantes. O disco é a concretização da minha história com a música, quis celebrar e envolver todas as pessoas que me inspiraram musicalmente, chamei todos os amigos que me influenciaram para tocar e quem eu não consegui chamar para tocar ou cantar, chamei para desenhar. Eu fiz a capa e o projeto gráfico com a Cecília Lucchesi e chamei alguns amigos para fazer os desenhos de tulipa do encarte. Participaram do disco a Karina Buhr, Rômulo Fróes, Tatá Aeroplano, Tiê, Érika Machado, Rafael Castro...

Guia da Semana: Durante seus shows passam ilustrações com um traçado peculiar e de certa forma infantil. São suas?
Tulipa Ruiz: São sim, meu traço no desenho é muito simples, comecei a desenhar no Paint Brush, gosto de desenhar com o mouse, e o traço do Paint Brush desenhando com mouse não fica muito certo, é como se eu desenhasse a partir de um erro e isso me interessa. São traços simplificados, a maioria não tem rosto, indicam coisas e permite que o observador termine o desenho na cabeça dele. E a verdade é que eu comecei a desenhar por causa da música, por ter vontade, desde pequena, de fazer capa de disco. Toda vez que faço uma música, penso num desenho para projeção, toda vez que faço um desenho, fico com vontade de musicar esse desenho, as duas coisas são complementares para mim.

Guia da Semana: Como foi o processo de composição do Efêmera?
Tulipa Ruiz: As músicas são minhas, tem algumas parcerias com meu pai, como Sushi, e outras com o Gustavo, como Do amor. Efêmera era uma música que eu tinha feito, mas detestei o final. Na hora que fiz, já fechei o arquivo envergonhada e guardei numa pasta de rascunho. O Gustavo foi viajar, pegou meu Ipod e acabou ouvindo Efêmera. Aí ele chegou de viagem falando "Tulipa, tem uma música muito boa aqui", daí eu, "mas o final dela é terrível" e ele "não tem problema, a gente corta". E no fim, ela teve uma importância tão grande que se tornou o nome do disco.

Guia da Semana: Em entrevista à revista TPM antes do disco ficar pronto, você disse que não queria escrever sobre o amor, mas várias músicas de Efêmera remetem ao amor como foi essa mudança?
Tulipa Ruiz: É verdade! (risos) Esse é um exercício que tento fazer sempre. Efêmera é uma tentativa de não falar de amor, Pedrinho, fala de amor, mas é um eu-lírico masculino. Dentro dos meus exercícios de composição eu tento fazer música que não fala de amor, mas ás vezes não tem jeito, é inevitável. Acho que é natural da gente querer escrever sobre o amor, cantar o amor, pintar o amor...

Guia da Semana: Você integra uma nova geração de artistas, conhecida como Novos Paulistas, que reúne Dudu Tsuda, Tatá Aeroplano, Thiago Pethit e Tié. Como foi essa união?
Tulipa Ruiz: Somos muito amigos antes de começar a cantar e de todo mundo fazer disco, desde os tempos de faculdade. Por conta dessa proximidade, a Aninha Garcia do Coquetel Molotov pensou num show no Sesc que batizou de Novos Paulistas e chamou a gente. Mas Novos Paulistas não é um grupo, é o nome desse show, que aconteceu de novo no Planeta Terra. Um até participa do trabalho do outro, mas não temos uma banda.

Guia da Semana: Assim como muitos músicos atuais, você ficou conhecida por causa da Internet. O que você acha dessa relação da internet e a música?
Tulipa Ruiz: Eu só comecei a encarar essa coisa de ser cantora quando fiz meu perfil no MySpace. A minha história com a música e a divulgação foi a partir do MySpace. Meu disco só foi lançado em maio de 2010, antes disso, tudo o que aconteceu foi propagação virtual. A internet é uma aliada, meu trabalho não teria metade da projeção que ele tem agora se não fosse a Internet.

Por Marjorie Ribeiro

Atualizado em 14 Set 2011.