
O assunto poderia ser o show de algum pop star e a introdução do texto seria uma tentativa de medir em palavras o tamanho da fila no Credicard Hall. Ou, quem sabe, o assunto trouxesse a notícia do lançamento do clipe daquela banda lota-estágios.
Dessa vez, as palavras foram visitar um tema diferente. Na verdade, uma sala: a Sala Brasil.
Não se trata de um programa de TV ou título de canção patriota. A Sala Brasil é um cantinho de música na esquina do interior de São Paulo: Bauru. Ela mora dentro de uma escola de música. Lá, as paredes agradecem "por terem nascido com ouvido".
Vira e mexe, tem show na Sala Brasil. De passagem pela cidade, fui convidado a assistir a um deles. Cheguei como quem prepara as expectativas para algo menor, evitando o nascimento da frustração. Aprendi a lição: não confundam baixo número de habitantes com falta de qualidade musical. O show foi daqueles de morar para sempre na memória. Quem assina os arranjos é o maestro e dono da escola George Vidal. Com o passar dos acordes, fui descobrindo a existência da música fora do eixo Rio-São Paulo.
A Sala Brasil é a música pegando a estrada, mostrando que o país esconde tesouros por aí. O esquema é bem simples: você paga uns cinco ou dez reais para entrar e ainda pode comprar churrasco e bebida sem ter que ir até a padaria. Antes do show, a plateia (no interior todo mundo se conhece) aproveita para colocar o papo em dia, confirmar as fofocas, exercitar a fala. Mas quando a mão do maestro beija as teclas do piano, nada mais se ouve. Bauru é o silêncio. E as notas abraçam a cidade, espalhando poesia longe da Globo, bem distante das páginas dos jornais.
Na Sala Brasil, o dentista troca o motorzinho pelas baquetas. O advogado argumenta soprando um saxofone. Médico cura paciente usando apenas uma guitarra. Qualquer um pode produzir som, na Sala Brasil. Os arranjos do maestro levam o nível musical lá para cima. E os alunos, no palco, declamam o que aprenderam.
Assim foi o dia em que visitei a Sala Brasil. Saí de lá com um texto pronto na cabeça, as palavras gritando dentro da mente como se pedissem justiça. A Sala Brasil também merece um cantinho na mídia. Se tanto faz para as pautas dos jornais, para mim ela fez diferença. Salve a Sala Brasil. Salve George Vidal, o maestro. Salve a nossa música que mora lá no interior.
Leia a coluna anterior de Pedro Cavalcanti:
O rádio que queremos ouvir
Hamilton e Yamandu
Música da Alma
Quem é o colunista: Pedro Cavalcanti.
O que faz: Publicitário.
Pecado gastronômico: Qualquer prato preparado pela minha avó.
Melhor lugar do Mundo: Aqui e agora, como diria o Gil.
O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Ulisses Rocha, Pat Metheny, Chico Saraiva
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Atualizado em 6 Set 2011.