Guia da Semana

Foto: Divulgação/ Site Oficial

Daniela Mercury em cima do trio elétrico no carnaval de Salvador em 1999

"Nega do cabelo duro/ Que não gosta de pentear/ Quando passa na baixa do tubo/ O negão começa a gritar". Esses versos são inesquecíveis para quem curtia música brasileira em 1985. Eles fazem parte da canção Fricote, de Luiz Caldas, que explodiu nas rádios do Brasil inteiro e tornou conhecido o ritmo axé music. Em 2010, a levada baiana comemora seus 25 anos de sucesso e de adesão pelas mais diversas tribos. O ritmo deixou de ser música de carnaval para tocar durante o ano todo, de norte a sul do país.

O suingue baiano nasceu da mistura de outros sons e é bem marcado pela inserção de percussão nas melodias. "Os dois pólos-base do axé music são o frevo, influenciado pelo rock e pop, e o samba reggae", define o produtor musical da banda Asa de Águia, Rafael Pereira. Manno Góes, baixista do Jammil e Uma Noites e responsável pela produção dos discos do grupo, acrescenta que o axé tem influências também do chorinho, da MPB, da chula e do samba duro da Bahia.

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O grupo Asa de Águia está na ativa desde 1987 e prepara um megatrio elétrico chamado Fênix para os próximos carnavais

Raízes do ritmo

Os dois profissionais da música baiana lembram que o axé não começou com Luiz Caldas, pois o trio elétrico de Armandinho, Dodô e Osmar já eletrizavam o carnaval de Salvador há muito tempo com canções instrumentais, levadas pela guitarra baiana, conhecida também como pau elétrico. "Esse ano o trio comemorou 60 anos, ou seja, o axé já existe há mais de 25 anos", lembra Manno. Antes do intérprete de Fricote ficar conhecido nacionalmente, Sarajane e Morais Moreira também já eram expoentes do som.

A questão é que foi Luiz Caldas quem teve a sacada de tornar as músicas do axé music mais comerciais. Elas agradaram os brasileiros por serem festivas, dançantes e retratarem essa alegria nacional. Os anos 90 foram o auge do axé, quando basicamente só se tocava esse ritmo em todas as rádios do país. Nesse ínterim, as estrelas eram os baianos, que vendiam uma quantidade avassaladora de cópias de discos e atraiam milhares de fãs em seus shows. O sucesso também se refletia no exterior e o axé ficou ainda mais conhecido com a participação do grupo Olodum no clipe They Don't Care About Us, do ídolo pop Michael Jackson, em 1996.

Evolução sonora

Quem realmente estourou com o axé e tornou-se uma diva nacional foi Daniela Mercury. Afinal, quem não se lembra da música O canto da cidade? Foi uma das mais executadas no Brasil em 1992. Sua primeira grande apresetenção em São Paulo aconteceu no mesmo ano e reuniu muita gente no vão livre do Masp. "Ela era inovadora, pois seu som mesclava influências da MPB e do Bloco Afro, que reproduz a música africana", explica Manno Góes.

Netinho fez muito sucesso durante anos, na década de 90, principalmente com a música Milla. Seu estilo de canções trazia para o axé um pouco mais do pop e agradava o público com suas melodias românticas e também animadas. O Asa de Águia sempre incendiou a galera em seus shows, com suas batidas mais fortes e puxadas para o rock. "Quando você escutava a introdução (da música) de um desses três, já sabia de quem era pois seus arranjos eram característicos e inconfundíveis", fala Rafael. Outros expoentes do ritmo foram surgindo, como É o tchan! e Companhia do Pagode, mas acabaram perdendo as força e acabando.

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O público vai ao delírio quando a banda Jammil e Uma Noites toca a música Praieiro

Haja fôlego

Chiclete com Banana, Asa de Águia, Carlinhos Brown, Banda Eva, Jammil e Uma Noites, Ivete Sangalo e Claudinha Leitte são os grandes nomes no axé atualmente. São os cantores que mais atraem público em seus shows, micaretas e nos blocos no carnaval de Salvador.

Manno Góes, que é um dos maiores compositores de canções gravadas por intérpretes do axé e também de outros ritmos, é favorável às parcerias feitas com cantores de outros estilos. Ivete Sangalo já gravou com Roberto Carlos, Claudinha Leitte com CPM22, Asa de Águia com Jorge e Mateus, enfim, há inúmeras participações que misturam os acordes e dão certo frescor ao axé music. Questionado se ainda há fôlego para mais 25 anos, o baixista do Jammil afirma categoricamente que sim, no entanto, deve sempre inovar e jamais perder sua linguagem universal: dança, festa e movimento.

Atualizado em 6 Set 2011.