Guia da Semana



O nome foi cunhado a partir da expressão popular "nem que a vaca tussa". O som é criado por uma interação constante de ritmos locais, pop rock e experimentações que permitem até incursões de flautas andinas em meio a riffs de guitarra. E, finalmente, o álbum de estréia, que acaba de ser lançado pelo Som Livre Apresenta, selo que divulga artistas como a Orquestra Contemporânea de Olinda e o cantor Jonas Sá, resume o espírito conciliador e direto do sexteto Cof Damu.

Em ascensão na cena carioca, o grupo deixou a ensolarada Salvador para trás em busca de afirmação em um grande pólo cultural do Sudeste. Dividindo um apartamento na capital fluminense, a vocalista Véu Pater, o baixista Dudare Wriwrai, o baterista Cláudio Lima, o guitarrista Eduardo Karranka, o tecladista Peu Fulgêncio e o percussionista Fábio Abú tentam corresponder à aposta da gravadora carioca apresentando-se em diversos cantos do Brasil.

Em entrevista ao Guia da Semana, o grupo fala sobre as comparações com os Novos Baianos, além de revelar o processo de criação de suas canções e os conflitos em dividir o mesmo teto.

Guia da Semana: Como foi o trajeto entre a produção independente e o lançamento por uma gravadora como a Som Livre Apresenta?

Peu: Estávamos prestes a lançar nosso CD completamente independente. As faixas já estavam prontas e o material circulava pela internet - nossa principal aliada na divulgação da banda.

Fábio Abu: Já havíamos enviado o disco para ser rodado na fábrica quando a Som Livre entrou em contato conosco. No começo achamos que era trote (risos), mas não demorou muito até assinarmos com o selo e lançarmos oficialmente nosso primeiro trabalho.

O que vocês já absorveram da música carioca nesse tempo em que estão instalados na cidade?

Véu: Costumam dizer que a Bahia é um celeiro de ritmos e estilos musicais, mas o Rio de Janeiro não é diferente. Já ouvimos e assistimos bandas de diversas vertentes musicais e gostamos da maioria das coisas que ouvimos. Somos muito abertos musicalmente e costumamos valorizar a musicalidade, ainda que ela esteja inserida num contexto diferente da atmosfera que respiramos.

Peu: Dividimos o palco aqui no Rio com uma banda chamada Bondesom e gostamos muitíssimo da apresentação do grupo. O profissionalismo da banda Primadonna também foi muito inspirador pra gente. No entanto, nossa maior descoberta atualmente é uma banda mineira chamada Alarido. Tivemos o prazer de fazer um show com eles em Belo Horizonte, e voltamos completamente encantados de lá. Esse encontro não só possibilitou uma incrível troca de experiências musicais, como também marcou o início de uma grande amizade entre a gente.

Como a convivência entre os integrantes, que dividem um apartamento no Rio de Janeiro, afeta o processo de composição? Há muitas rusgas a conciliar?

Véu: O fato de morarmos todos juntos é muito positivo para o processo criativo do grupo. Quando nos desentendemos, quase nunca é por um motivo muito sério. Geralmente acontece por coisas cotidianas - como louça suja na pia, coisas espalhadas pela casa (risos)...

Dudare: O impressionante mesmo é como conseguimos manter o bom humor morando num espaço caótico habitado por sete cabeças completamente diferentes (risos).

Vocês realmente acham difícil desenvolver um trabalho na Bahia que esteja distante da axé music? A saída então é migrar para outra região do país?

Dudare: Sim, bastante. Na Bahia existe uma indústria muito bem estruturada e estabelecida que não está necessariamente interessada no tipo de música que fazemos. Há uma cena independente, sim, e há um público que alimenta essa cena. Contudo, quando queremos dar um passo maior, realmente não existe alternativa a não ser migrar pra lugares onde o monopólio cultural não iniba a consolidação de iniciativas musicais como a nossa.

Além de Tinindo Trincando, dos Novos Baianos, o que vocês incorporaram da antiga banda do Moraes Moreira?

Karranka: Além de Tinindo Trincando, acho que só a loucura mesmo (risos). Brincadeira. Existe essa comparação realmente, mas achamos que é uma conseqüência da forma como as coisas estão acontecendo conosco. Somos um grupo baiano, nos mudamos para o Rio de Janeiro, moramos todos juntos num esquema meio "comunidade", lançamos nosso disco pela Som Livre... Por aí vai. Gostamos muito dos Novos Baianos e sem dúvida o grupo é uma grande influência para todos nós individualmente. Porém, não conseguimos, de forma geral, traçar grandes paralelos com a sonoridade da Cof. De qualquer maneira, será um sonho conseguirmos conquistar o respeito e reconhecimento que os Novos Baianos têm até hoje.

Letras de canções como Caprichos, por exemplo, flertam com a crítica social. Vocês se preocupam em dar um tom engajado ao repertório?

Véu: Eu compus as letras e as melodias nesse primeiro CD e acredito que diversas situações possam render bons temas, letras e arranjos. As temáticas são variadas, tendo como ponto comum as relações humanas e eu só consigo chegar a essa conclusão depois que a letra está pronta. Não é algo premeditado, nem existe uma preocupação que dite o assunto a ser destrinchado. Caprichos, especificamente, foi inspirada na exploração do trabalho infantil. É bom saber que existem pessoas que percebem, até porque muita gente acha que Caprichos fala de amor (risos).

De onde veio a idéia de combinar riffs de guitarra com flauta andina? Qual a importância da experimentação no trabalho da banda?

Cláudio: Todas as idéias relacionadas a criação dos arranjos surgem coletivamente e de forma muito natural. Cada um é livre para criar com seus instrumentos e para opinar na utilização dos instrumentos dos outros também. Assim, conseguimos trazer para a banda tudo que absorvemos com nossas vivências, sejam elas musicais ou não. A experimentação é de suma importância pra gente; é o caminho que utilizamos para congregar nossas influências individuais.

Há uma nova tendência na música brasileira de incorporar uma sonoridade voltada ao folk, um ritmo que vocês lançam mão. Quais são as referências buscadas?

Cláudio: Entendemos o folk não só como aquele estilo musical americano marcado pelo violão de aço, mas também como um estilo mais amplo - que seria um conjunto de manifestações culturais de diversos povos e estaria mais ligado à world music - resultando numa espécie de "folk mundial". É aí que entra a flauta andina, os ritmos baianos e latinos. Somos, inclusive, bastante influenciados pelo folk americano, mas não só por ele. Procuramos fazer com que essa diversidade de estilos permeie e enriqueça nosso trabalho. Embora nem todas as músicas do nosso disco sigam essa linha e boa parte das cancões possuam influências predominantemente pop, procuramos estar sempre abertos para todos os tipos de influências musicais.

Após o lançamento do CD, quais são os projetos do grupo?

Fábio Abu: Continuar divulgando nosso trabalho, fazer nossos shows e levar o som da Cof Damu pra cada vez mais pessoas. Colocamos nossa alma nisso. A banda é uma espécie de filho pra gente - que amamos, estamos educando e vendo crescer.

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Atualizado em 6 Set 2011.