Guia da Semana



A música nasce da inspiração. A letra pode entrar na mente do artista a qualquer momento sem ser convidada. E a melodia também. Ulisses Rocha, grande violonista e compositor do nosso país, já viu muitas de suas peças nascerem na estrada, enquanto ia de São Paulo a Campinas. Ele imaginava as notas e, no final da viagem, passava para o papel tudo o que surgiu no asfalto.

Mas o que dizer sobre os dias de hoje? Os músicos continuam compondo por pura inspiração? Ou, no melhor estilo Idade Média, por encomenda?

Ligue o rádio. Você vai descobrir algo triste: 1% de inspiração e 99% de encomenda. As letras mecânicas e as rimas previsíveis não surpreendem nossos ouvidos. Elas são como o trânsito das seis da tarde: sem novidade, desgastantes. Quando alguém escreve uma música, pensando apenas em fazer sucesso, deixa de lado todo o sentimento disponível que mora em algum lugar por aí. E som órfão de inspiração frustra a plateia.


Peguemos Tom Jobim emprestado lá do céu como exemplo. Escolha aleatoriamente um dos CDs dele ou aperte o play do mp3 em alguma das canções do maestro soberano. Já nos primeiros acordes, você dá um sorriso. Porque Jobim nunca compôs só para fazer sucesso. Ele se sentava debaixo de uma árvore no Jardim Botânico e despejava emoções na partitura. A voz do maestro vivia trazendo recados do mundo da inspiração.


Quer ser famoso fazendo música? Comece pesquisando as fontes da sua inspiração.
Quem é a pessoa que faz você ter vontade de pegar um instrumento, um papel, uma caneta e sair arriscando versos e notas? Invista em encontros com ela. Quais são os lugares capazes de arrancar um fundo suspiro da sua alma, seguido de um "adoro esse lugar"? Qual a hora do dia em que a rotina vai dormir e a sua mente convida o coração para pensar no lugar dela?

Música com inspiração nem sempre assume o primeiro lugar nas listas das mais tocadas. É o caso do som de George Vidal e de João Miguel Valencise. Entre no Myspace desses artistas e tome um banho de canções capazes de emocionar até o alemão mais frio de Berlim.

A música deve nascer lá de dentro do artista, chegar ao mundo com uma história para se contar. Senão, ela toca nas rádios, toca nas lojas de shoppings, toca nos elevadores, toca nos palcos, e não toca ninguém.

Leia as colunas anteriorwa de Pedro Cavalcanti:

Não dá!

Ali, no interior

O rádio que queremos ouvir

Quem é o colunista: Pedro Cavalcanti.

O que faz: Publicitário.

Pecado gastronômico: Qualquer prato preparado pela minha avó.

Melhor lugar do Mundo: Aqui e agora, como diria o Gil.

O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Ulisses Rocha, Pat Metheny, Chico Saraiva

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.