Guia da Semana

Blood Sugar Sex Magik - clássico do início dos 90

Aprendi a ouvir música com um primo mais velho na virada dos 90. Era uma época que os riffs de Enter Sandman e Sweet Child o´Mine não saíam do rádio e pôsteres do Skid Row e Axl Rose eram vendidos aos montes em bancas de rodoviária. Kurt Cobain ainda era uma jovem promessa ao lado de tais dinossauros.

Naquela época, os amigos do meu primo ainda tinham o costume de trocar discos, os velhos bolachões. Era a fase Loco Live, dos Ramones, Blood Sugar Sex Magic, do Red Hot Chilli Peppers, e O Papa é Pop, do Engenheiros do Hawaii. Ouvia também, junto deles, muito Cinema, do Ice Mc´s, aquela que o rapper canta o nome de um monte de atores e que fez parte da trilha novela Barriga de Aluguel. Ninguém que tenha hoje mais de 20 anos saiu ileso, a menos que não tivesse primos ou irmão mais velho.

Naquele tempo, descolado era usar M-2000, camiseta do Rock´n Rio 2 com as mangas cortadas e boné surrado de abas envergadas. Aqueles eram os últimos suspiros da estética hard rock farofa dos 80 antes do banho de flanelas e desleixo grunge.

Durante toda a primeira metade da década de 90 e parte da segunda, Internet ainda era coisa do futuro, CD artigo de luxo e frágil, e todo acervo sonoro do planeta ainda estava no formato analógico.

Entretanto, a linha telefônica já tinha papel semelhante ao que possuiu nos primórdios da internet, quando arquivos eram trocados a passos lentos à velocidade de 56 kbps/seg do dial up.

Foto: www.tapedeck.org/


Ao pegar o telefone e ligar para o programador da rádio, o ouvinte acionava o "download", que era carregado de acordo com a programação da rádio e terminava descarregado em uma fita K7 - outro dinossauro da história da música e da informática.

Passados 18 anos - se considerarmos 1995 como o surgimento da Internet e o fim da era paleozóica do download; sua segunda fase em 2000, com a popularização da rede e serviços de banda larga; até a fase 2.0 da rede, de compartilhamento de arquivos de áudio e vídeo em tempo real -, a razão entre os tempos da troca de arquivos se reduziu de algo não prescindível para questão de horas, até chegarmos ao instantâneo.

Se a troca de arquivos trouxe a crise das gravadoras e a redução do capital a ser investido em novos talentos, nunca tantas novidades surgiram na rede em velocidade superior a que você pode expandir o espaço livre do seu HD.

Hoje, uma nova geração de sites e rádios on-line, como a Last.fm e o Hype Machine catalogam e estabelecem sua programação de acordo com as indicações de usuários e blogs do mundo todo; uma espécie de regressão do processo, onde uma multidão de ouvintes assassinou seus programadores para se tornar auto sustentável e fagocitante.

Se no ano passado o Youtube forçou a MTV a rever sua programação e conceito de clipe, para 2008 uma nova plataforma promete tornar o site obsoleto. O Chime.tv rastreia e cataloga todos os vídeos disponíveis na rede, independente se hospedados no Google, Yahoo Vídeos, YouTube ou algum outro host. Divididos em canais como Indie, Hip-hop, Hits ou Sports, o Chime e sua plataforma é o mais próximo que a Internet já chegou da televisão. Esperar para ver.

Enquanto ao meu primo, ele engravidou a namorada e teve que trocar seus discos por fraldas. Os que sobraram tiveram suas capas rabiscadas por gizes de cera. Porém, suas faixas continuam intactas, passando pela maturação do tempo para se tornarem clássicos.

Quem é o colunista: Vinicius Aguiari - jornalista da equipe do Guia, possui meia duzia de LPs, algumas dúzias de CDs e uma centena de discos em MP3.

Sonha com o dia em que cabo da conexão possa ser plugado direto na nuca do usuário com desempenho de alta performance. Enquanto isto, atualiza o blog www.cheiraqui.blogspot.com.

Atualizado em 6 Set 2011.