Guia da Semana

Fotos: Myspace.com/vanguart


O Vanguart já não é novidade na cena nacional. Formada em 2003, por Hélio Flanders (voz e violão), David Dafre (guitarra e voz), Reginaldo Lincoln (baixo e voz), Luiz Lazarotto (teclados) e Douglas Godoy (bateria), na quente e distante capital mato-grossense Cuiabá, a banda arrumou as malas e veio para São Paulo após se firmar como um dos nomes mais promissores do rock independente no país.

De lá pra cá, as levadas folks mescladas a pitadas de indie rock renderam ao Vanguart diversas conquistas. A banda tocou praticamente em todas as casas de shows paulistanas até chegar ao prestigiado Auditório Ibirapuera; teve seu primeiro disco (Vanguart, 2007) lançado pela revista Outracoisa; participou do projeto Som Brasil, da Rede Globo, em homenagem a Raul Seixas; foi indicada ao VMB da MTV e, atualmente, concorre ao Prêmio Multishow de Música Brasileira na categoria Revelação.

O vocalista e líder do grupo, Hélio Flanders, bateu um papo com o Guia da Semana. Abaixo, ele comenta a possibilidade do grupo assinar com uma gravadora, fala de suas influências, a convivência do grupo e aponta uma certa desconfiança sobre a atual fase de evidência que o folk vive no cenário: "Acho tudo isso muito estranho", emenda o cantor. Confira você mesmo se o Vanguart é uma fagulha ou uma fogueira na nova cena nacional.

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A banda foi sondada pelo novo selo da Som Livre, o Som Livre Apresenta. Você confirma? Como estão as negociações? Pode adiantar algo?
Estamos em contato com a Som Livre para o nosso segundo álbum, a ser lançado no começo do ano que vem. Também existe a possibilidade de eles relançarem o primeiro (Vanguart, 2007 - lançado pela revista Outracoisa), mas ainda estamos conversando. Não assinamos nada, portanto isso é tudo que posso adiantar.

Em relação a um próximo disco, já existe algum material pronto? Já se decidiram se será somente em uma língua ou um álbum poliglota? Alguma previsão de lançamento?
Ainda nada está pronto. Estamos trabalhando quase em esquema Dorival Caymmi (risos), desde o começo do ano. Tirei tempo pra compor e estamos começando a lapidar, a entender o que está por vir no nosso segundo trabalho. Temos mais músicas em português dessa vez, porém não abandonaremos o inglês em algumas canções e também pode surgir alguma idéia em outro idioma. Francês, quiçá. Esse disco deve vir no começo de 2009.

Sobre a temática Hélio, mudou alguma coisa em relação à abordagem das letras com a mudança de Cuiabá para São Paulo? O que se pode esperar para um novo trabalho do grupo? Quais as diferenças entre a inspiração paulista e mato-grossense?
Mudou sim, mas eu acho que teria mudado mesmo que eu tivesse ficado em Cuiabá. A gente é muito mutável. Eu tenho períodos. Ultimamente tenho feito muitas músicas no piano, o que é totalmente diferente pra mim, assim é natural que a temática mude também. Agora tenho falado bastante de mar e tábuas, antes eu falava de olhos e rios. (risos)



Que músicos no Brasil, de hoje e ontem, são mais representativos na carreira de vocês?
Eu acho que Tom Jobim é culpado por me criar uma "responsabilidade musical". Depois de escutá-lo muito, vi que não se podia fazer besteira por aí. Música é coisa séria. E não é questão de ser pretensioso, é de que se precisa sempre fazer com dedicação e amor. Então Jobim eu escutei muito, toquei muito. Teve o primeiro disco do Secos & Molhados também, que é maravilhoso e tivemos oportunidade de tocar com o João Ricardo (fundador e principal compositor do grupo) numa espécie de realização de sonho. Hoje em dia, também me inspira o Los Porongas, O Porcas Borboletas, Charme Chulo... bandas que eu vejo por aí e fico muito feliz em estar vivo e jovem pra ver tudo isso acontecendo.

Em relação às escolas do Folk, vocês preferem a escola mais clássica, como Bob Dylan, por exemplo, ou artistas mais recentes como Elliott Smith?
De Bob Dylan e Neil Young pra trás. Eu não conheço quase nada do novo folk. Elliot Smith nunca ouvi direito, Wilco gosto só da primeira fase, não consigo gostar das coisas modernas. Preconceito meio tolo, admito, mas não desce. Me atrai mais o Leadbelly, Woody Guthrie, Dave Van Ronk, Hank Williams. Parece fazer mais sentido. Ah, da Cat Power eu gosto.

E a convivência da banda, vocês moram todos juntos? Onde? Como tem sido o dia-a-dia? Desenvolvem atividades paralelas ou a dedicação é exclusiva?
Estamos divididos em dois apês em São Paulo. Nos dedicamos unicamente pra banda hoje em dia e alguns projetos relacionados à música.



Havia uma grande expectativa em volta da apresentação do grupo no último TIM Festival. Como foi a reação da banda com o cancelamento do show? Como vocês reagiram?
Bem, a gente estava lá e sacou que não dava pra fazer o show, o palco estava sem condições por causa da chuva. Lamentamos, mas vimos que foi algo que aconteceu. Claro que condições melhores poderiam ter evitado o cancelamento, mas a gente não encanou com isso. Logo a produção cedeu mais duas garrafas de Jack Daniel´s pro camarim e tudo ficou tranqüilo (risos).

E o Overcoming Trio, ao lado do Zé Mazzei (Forgotten Boys) e da Mallu Magalhães? Vocês têm levado o projeto de forma descontraída, foi somente uma reunião para a Virada Cultural ou estão realmente trabalhando juntos?
Logo que conheci a Mallu, quando ela abriu um show do Vanguart em janeiro, eu a convidei pra gente compor uma canção. Aí ficamos amigos e fizemos algumas canções muito bonitas. E eu já vinha tocando com o Zé Mazzei há uns anos, logo nos juntamos pra tocar Bob Dylan e canções clássicas do folk. O Overcoming Trio surgiu da vontade da gente apresentar aquilo que vínhamos fazendo de maneira bem desenvolta em nossos ensaios caseiros, pro público. Mas é bem complicado conciliar três agendas, então o Overcoming fica para ocasiões especiais. Devemos fazer shows com outros crooners também, no lugar da Mallu, como Nasi e Cida Moreira.

Ultimamente o folk está em grande evidência em São Paulo, com artistas surgindo, festas, uma cena se formando. Você acredita que o movimento é legítimo ou apenas uma reunião em torno do rótulo?
Eu acho isso tudo muito estranho.

Para fechar, ainda há espaços para grandes bandas e a megalomania dos anos 80 / 90 ou hoje o caminho é viver na independência?
O caminho hoje é diferente. Pra quem realmente quer fazer música é mais importante uma carreira sólida, com trabalhos de qualidade aliados ao bom uso da internet para divulgar as canções. A diferença é que hoje os grandes artistas não estão nos grandes estádios.


Vanguart - Vanguart
(Outracoisa, 2007)

Lançado no ano passado pela revista Outracoisa, Vanguart provocou grande burburinho da crítica especializada. Longe da euforia ululante da imprensa, que por vezes elevou o disco a categoria de genial, Hélio Flanders e companhia passeiam com desenvoltura pelo álbum. O clima absurdo de Semáforo, a pegada werstern de Hey Yo Silver e a melancolia dopada de Cachaça já revelam a proposta de um folk-rock distante das capitais, ligado às influências regionais, porém bastante urbano. Melodicamente, o violão de Flanders despeja levadas que vão de Beatles a Neil Young, enquanto os arranjos da guitarra de David Dafre atribuem à sonoridade contemporânea do álbum. Cantada em espanhol, Los Chicos de Ayer é uma viagem pela América Latina, dos desertos mexicanos de peiote às montanhas andinas mascadoras de coca. A dilanyana The Last Time I Saw enumera os desassossegos que o amor provoca e traça o clima de despedida do álbum, que fecha com Para Abrir os Olhos. Vanguart é exótico, original e abriu as portas para um novo estilo - o folk - dentro da cena nacional. Caso os garotos se deixem queimar, podem virar uma fogueira.(VA)


Atualizado em 6 Set 2011.