Guia da Semana

Antes de se apresentar no Brasil, Björk embasbacou Paul McCartney


Um guardanapo para Paul McCartney

Prestes a desembarcar em solo brasileiro e saciar as expectativas de uma legião de fãs carentes, Björk deixou uma das maiores lendas do rock atônita. Inebriado pela apresentação da islandesa em um canal de televisão, Paul McCartney não sabia se continuava aplaudindo a performance ou pedia para alguém lhe beliscar o braço.

Diante do reactable, instrumento criado pelo luthier Martin Kaltenbrunner, que passou recentemente pela mostra digital FILE, em São Paulo, Paul mostrava-se embasbacado, afinal não é todo dia que se depara com uma mesa translúcida que interage com pequenas peças dispostas em sua superfície - algo que só poderia ser produzido para Björk. Em questão de dias, toda parafernália eletrônica da turnê Volta acompanhará a voz da cantora em um dos concertos mais imperdíveis da década. É pagar (caro, muito caro) para ver.

Salário mínimo mais 20 reais e seu ingresso na mão

Quando o assunto é o valor cobrado pelos ingressos das principais atrações internacionais do semestre, o Brasil está cada vez mais próximo do primeiro mundo. Afinal, pedir 400 reais para acompanhar de perto nomes como Björk e The Chemical Brothers é crer que o público brasileiro tem o mesmo poder aquisitivo do europeu, que jamais pagaria um valor superior ao salário mínimo - 380 reais por aqui - para assistir a eventos semelhantes.

As desculpas são as mesmas de sempre, oscilando entre a farra das carteirinhas de estudante ao custo para bancar toda a infra-estrutura do concerto, mas não justificam os valores pedidos. Em 2005, a primeira edição do Tim Festival realizada na Arena Skol, em São Paulo, cobrava 250 reais por uma entrada para a área VIP, localizada de frente para o palco e único lugar onde era possível ouvir com clareza as apresentações. Para o resto do público, que pagou mais barato e ficou confinado a uma boa distância dos artistas, sobrou o som a espalhar-se pelo local, deformando sistematicamente os shows da noite.

Recordar é viver?

Sim, lá se vai mais de uma década desde que Renato Russo partiu desta para uma melhor, deixando como herança uma massa de fãs chatíssimos que o cultuam como um verdadeiro Messias. Como de costume, basta o sujeito morrer jovem para que sua imagem seja alçada ao panteão dos imortais, sublimando instantaneamente toda a sua obra. A despeito da importância que a Legião Urbana teve para a consolidação do rock nacional - que sempre andou mal das pernas -, seu líder nunca deixou de ser um Ian Curtis tupiniquim, com a diferença que toda a discografia da banda brasiliense não vale um álbum do Joy Division.

Desde 2006 em cartaz, a peça Renato Russo vem lotando salas de teatro do país ao narrar a saga do homem de frente da Legião. Estão engatados, ainda, projetos para três filmes sobre sua vida e obra, com previsão de lançamento para os próximos anos. Toda essa veneração em torno da figura de Renato Russo flerta com uma das maiores tentações do circo do entretenimento: desbotar os limites entre o artista e o herói deificado. Quem costuma enveredar-se pelo passado a procura de ídolos corre o risco de parar no tempo.

Trabalho novo

Saído recentemente do forno mais experimental do país, o sexto disco do Hurtmold prova que a trupe de Maurício Takara está alguns passo à frente do atual cenário. O público que lotou recentemente as duas apresentações do sexteto no Sesc Vila Mariana experimentou as novas incursões da cultuada banda paulista, que bebe do pós-rock do Tortoise às modulações hipnóticas da Sun Ra Arkestra, buscando cruzar as fronteiras da música contemporânea sem perder a personalidade.

O sexteto paulista Hurtmold mantem o nível alto em novo trabalho


Paralelo instrumental

Para quem pragueja aos quatro cantos a falta de gente boa na música brasileira, uma boa dica pode ser vasculhar a cena instrumental. Esqueça os rótulos entediantes e cabeçudos que são colados injustamente no gênero. Ponta de lança do movimento, os paulistas do Projeto B conciliam vertentes mais ousadas do jazz com uma pegada roqueira quase ácida, criando composições vertiginosas, pautadas pela paisagem urbana da maior metrópole do país. Em A Noite, disco que pode ser ouvido integralmente no site do conjunto, o septeto dribla o lugar comum ao captar e levar ao estúdio a atmosfera instigante da grande cidade. Uma obra que merece ser descoberta e apreciada com muita calma.

Dois pra lá, um pra cá

Manifest Tone, de Chico Mann
Saia dançando com um dos trabalhos mais bacanas do ano, Manifest Tone, último disco solo do guitarrista do Antibalas, Chico Mann. Todo o balanço afrobeat da banda americana é dissolvido por Mann em doses de electro-funk e soul music, dando o tempero exato para o gênero consagrado por Fela Kuti. Elogiado pela crítica gringa, o álbum é um perfeito antídoto contra o marasmo, uma pena que não possa ser encontrado no Brasil. Aproveite, então, o dólar em queda e importe esse brilhante lançamento, ou mate a curiosidade em www.myspace.com/chicomann.


Quem é o colunista: Bruno Lofreta
O que faz: jornalista
Pecado gastronômico: comida mexicana e cerveja irlandesa
Melhor lugar do Brasil: Aeroporto Internacional de Guarulhos (Cumbica)
Fale com ele: [email protected]



Atualizado em 6 Set 2011.