
Hereges os que não respiraram Beatles. Indignos os que não peregrinaram a Liverpool, nem se viraram à meca de Abbey Road três vezes ao dia durante este mês que termina. Há quarenta anos, John, Paul, George e Ringo lançavam Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, considerado o álbum mais revolucionário da história. E também o mais inteligente, vanguardista, conceitual e bem produzido registro fonográfico do mundo. Antes disso, a música não era música. E pronto. Se tudo isso nós já sabíamos, fizeram questão de não nos deixar esquecer. Em alguns minutos é capaz de um beatlemaníaco clássico quase te convencer de que até Noel Rosa se inspirou em Sgt. Peppers.
Com ares de patrulhamento sobre gostos e opiniões, foi assim que, em junho de 2007 permeou-se uma interpretação simplista sobre o passado da música pop. Se por um lado o álbum em questão é mais do que essencial, por outro ficou esquecido um punhado de referências históricas e outras vertentes do rock, cujos reflexos duram até hoje. Refiro-me aqui a outros ícones daquela efervescência de 1967. Afinal, a revolução não se fez com um disco só.
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Surrealistic Pillow |
Nenhuma das bandas citadas acima merecerá um mês inteiro de reverências e loas na imprensa mundial em comemoração aos seus quarenta anos. Permanecerão excluídas desse retrato "jornalístico"que não dá conta de mostrar uma geração diversa e pluralista. Para isso, basta ter lido e observado as homenagens e menções infinitamente iguais e previsíveis que os cadernos de cultura e entretenimento deste país publicaram no mês que se passou. Se Sgt. Peppers é, de fato, um álbum primoroso, sua ultra-exposição acaba por ocultar, injustamente, as demais peças fundamentais para o quebra-cabeça da música pop mundial.
Enquanto não termina a festa alheia, resta à minoria discordante e ressentida seencolher, e blasfemar contra os deuses. Não sobra vez nem aos beatlemaníacos que preferem o Álbum Branco ou o Revolver. É estranho e estúpido ao mesmo tempo, mas todas as referências foram reduzidas a uma. E não se trata de algo louvável, por assim dizer.

Quem é o colunista: Renata D´Elia
O que faz: é jornalista e tradutora.
Pecado gastronômico: pizza.
Melhor lugar do Brasil: Paris? Londres?
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Atualizado em 6 Set 2011.