Guia da Semana

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Que o Brasil é um país de grande diversidade e criatividade musical, não se discute. Por aqui surgiram grandes manifestações como o samba, o forró e a bossa nova (que ainda encanta muito gringo por aí), e isto sempre colocou o Brasil num lugar de destaque para o mundo. Porém, desde os soturnos anos 80, o país não tinha exatamente um grande expoente de toda esta produção e aqueles que circulavam ainda carregavam uma espécie de regionalismo que, sem dúvida, foi importante; mas talvez soe descontextualizado atualmente. Quem dava as caras pela Europa ou Estados Unidos eram nossas "vacas sagradas", como Caetano e Tom Zé ou brasileiros quase anônimos em território nacional que caíram no gosto e nas graças estrangeiras.

Mas o novo século promete uma virada nesta cena. Vamos ao fato: a internet foi o estopim da explosão cultural pela qual o Brasil passa. Cultural porque a coisa não abrange apenas a música, mas tantas outras manifestações artísticas. Todos os dias vemos artistas como Rodrigo Santoro fazendo cinema fora do país ou os gêmeos Otávio e Gustavo Pandolfo que tem suas obras de grafite espalhadas pelos Estados Unidos, Europa, Chile e Cuba; os designers Felipe Taborda e Eduardo Recife têm trabalhos reconhecidos mundialmente; Paulo Mendes da Rocha que faturou o conceituadíssimo prêmio Pritzker de arquitetura; o diretor de cinema Fernando Meirelles, por sua vez, além de ter sido indicado ao Oscar de melhor direção por Cidade de Deus, dirigiu o filme O Jardineiro Fiel, onde recebeu outras quatro indicações no Festival de Cannes.

A lista é extensa e, na música, o processo não tem sido diferente. A rede viabilizou não só o acesso dos brasileiros à vanguarda da produção musical mundial, mas também facilitou o escoamento do melhor (e pior...) da produção interna para o mundo. Assim, o quadro musical brasileiro atualiza-se para todo o globo, abrindo oportunidades inéditas para a riquíssima safra de novos talentos despontando nos quatro cantos do país. Inclue-se aqui os paraibamos do Zefirina Bomba, os gaúchos da banda Superguidis, os cuiabanos do Vanguart (ótimos), os candangos do Móveis Coloniais de Acajú, o Mombojó do Recife, entre outras.

Logicamente, dentro deste contexto, não se pode deixar de destacar duas bandas, em especial: o Bonde do Rolê de Curitiba, que esteve em turnê ano passado pela Europa e a nova banda brasileira mais conhecida no mundo, o Cansei de Ser Sexy (foto acima). Depois de viajar pelo planeta, a banda retorna ao velho continente este ano para fazer uma turnê pelo Reino Unido, promovida pela famosa revista inglesa de musica, a NME. Os planos incluem também um retorno aos Estados Unidos, passando pelo México, Canadá e, corre à boca pequena que até o Japão encontra-se no roteiro.

O mais importante, sem dúvida, é que cada vez mais os olhos do mundo se voltam para o Brasil. Prova disso é, por exemplo, o país ter se fixado definitivamente no roteiro das grandes atrações mundiais da música, ao invés de continuar servindo apenas de palco para o último suspiro de projetos falidos. Só neste ano, Ben Harper, Coldplay, Deftones, Roger Water, Blind Guardian, Placebo e Matsiahu já passaram por palcos brasileiros. Confirmados para os próximos meses, encontram-se ainda Aerosmith, Velvet Revolver, Evanescense, Bad Religion, Jethro Tull, Motorhead, entre outras atrações.

Portanto, daqui pra frente, é ladeira abaixo. Minha aposta é que o aumento da produção, a democratização, a visibilidade da potência musical brasileira e o aumento da inclusão cultural são inevitáveis. O Brasil finalmente abandona a Era Paulo Coelho e aposta nos próximos nomes da importação/exportação cultural.

Leia a coluna anterior de Felipe Daros:

? Retorno: bandas de rock, como The Police, prometem ressurgir em 2007 e retomar o sucesso do passado.

? Além do tango: colunista comenta sobre as bandas independentes que "fervem" na Argentina.

? Samba: No ano em que o samba completa 90 anos, o Brasil comemora a data como se o gênero já estivesse velhinho.


Quem é o colunista: Felipe Daros

O que faz: é publicitário, guitarrista e vocalista do grupo Ecos Falsos.

Pecado gastronômico: comida japonesa.

Melhor lugar do Brasil: São Paulo. O Rio de Janeiro é o mais bonito.

Fale com ele: [email protected]



Atualizado em 6 Set 2011.