Guia da Semana

Foto: Gabriel Oliveira


Guia da Semana: Quais foram as irregularidades encontradas na administração do Sandoli?
Roberto Bueno: São muitas. Pode ver aqui, pois não tenho nada para esconder (Roberto mostra folhas encadernadas sobre o processo). Veja este R$ 1,5 milhão. É um dinheiro transferido para São Paulo, que sumiu. Outra irregularidade são três cheques em branco que a tesoureira assinou. Dois de R$ 5 mil e um de R$ 200 mil. Esse dinheiro foi para a conta dele! E o mais grave de tudo: o outro valor de R$ 1,6 milhão, que você está vendo, ele alegou ter gasto com impressos. Nem o Banco do Brasil gasta tanto com impressos. Ou seja, tudo isso, para mim, é falcatrua (vira as páginas, mostrando vários outros cheques).

Guia da Semana: O que mais te impressionou?
Bueno: Tem o imóvel do Largo do Paissandu, antiga sede da Ordem. Em 27 de julho de 2006, ele mandou publicar no jornal uma convocação de assembleia, pedindo uma autorização para vender o prédio. Só que ele já tinha vendido o prédio em 18 de maio! Mas de tudo isso que você viu, o que mais me revoltou é ele não teve coragem de pagar o próprio enterro da mulher. Foram gastos quase R$ 80 mil. Quem pagou foi dinheiro de músico. Isso foi a gota d"água para mim. Estamos entrando da Justiça com um pedido de arresto, pois esse dinheiro tem que voltar.

Guia da Semana: Ocorreram denúncias de compras de revólveres, é verdade?
Bueno: O negócio foi muito sério, ele comprou sete ou oito revólveres, que estão mencionados na auditoria. Nós não sabemos com quem estão. Em vez de comprar instrumento para músicos, ele compra revólver.

Guia da Semana: O senhor já chegou a ver algum?
Bueno: Não e nem quero ver. Está aí a documentação da auditoria que prova a compra...

Guia da Semana: Mas o senhor, como vice-presidente, não deveria ter agido de alguma forma?
Bueno: Aqui tudo era velado. Você conhece aquele ditado que diz "todo mundo é honesto até que provem o contrário"? Todos os conselheiros tinham plena confiança no Wilson. Tanto que os advogados da Ordem na administração do Sandoli, Humberto Perón e o Luiz Evandro Tadei, foram demitidos. São pessoas que não têm o direito de ficar mais aqui dentro.

Guia da Semana: Mas nós acabamos de encontrar o doutor Humberto aqui no corredor da Ordem...
Bueno: Ele não está mais trabalhando. Ele veio aqui tentar receber o salário dele. Durante quatro meses, venho pagando o salário dos dois, mesmo sem eles virem aqui, para não fazer injustiças. Agora, se eles quiserem receber o direito deles, vão ter que procurar a Justiça. Um outro escritório de advocacia está cuidando do caso dos dois.

Guia da Semana: O Sandoli continua no sindicato?
Bueno: Continua. Mas é do lado de lá, no mesmo andar. Nós lacramos para não ter mais vínculo algum.

Guia da Semana: O senhor encontrou o Sandoli depois da confusão. O que o sentiu?
Bueno: No fundo é uma pessoa que sinto pena, porque com 82 anos, financeiramente muito bem, não precisava passar por esta situação vexatória no final da vida. O que aconteceu aqui foi muito grave. Isso aqui é dinheiro de músico, é suado. O que o Wilson fez com a administração é coisa de cadeia, de bandido. Uma pessoa que só pensa no ter e não no ser. Caixão não tem gaveta, daqui ele não vai levar nada. A impressão que eu tenho é que o doutor Wilson acha que vai levar tudo. Nós só levamos nossas ações e dignidade.

Guia da Semana: Da última vez que entrevistamos o Wilson Sandoli, em 2007, ele dizia que estava preparando uma pessoa para substituí-lo. Você tem noção de quem seria essa pessoa?
Bueno: É impossível responder a sua pergunta, mas eu garanto que não sou eu (risos). Eu não precisava ser preparado, faz mais de 40 anos que vivo de música. Me considero apto a isso, porque sou músico de verdade. Tenho banda, escola oficializada pelo MEC, vivo de música. Muito diferente da situação do Wilson. Dá um instrumento na mão dele e veja o que ele faz...

Guia da Semana: Mas como uma pessoa que não domina um instrumento chega a um cargo tão importante?
Bueno: Na época, segundo informações que eu não tenho certeza, o tio do Wilson tinha um cargo político influente. Denunciaram o maestro Osmar Milani, presidente da OMB na época, como comunista. Aí o Wilson assumiu como interventor e depois ficou. Foi manipulando a coisa de um jeito que ele pudesse ficar. Mas não tenho indícios de falcatruas nas eleições do Sandoli.

Atualizado em 6 Set 2011.