Guia da Semana



É quinta à noite. Em uma casa velha, no bairro da Vila Mariana (São Paulo), com as paredes repletas de pôsters de bandas de rock, Paulo de Carvalho (vocal), Alexandre Cavalo (guitarra), Juliana (vocal), Simom Brow (bateria), Tuca (baixo) e Roy (guitarra) se reúnem para a escolha do repertório que vai integrar o nono álbum da banda paulistana Velhas Virgens. Assim como nos show, o clima é regado a engradados, cigarros, e como não poderia deixar de ser, muito palavrão e sacanagem.

Com 22 anos de estrada, o grupo deixa modismos de lado e continua apostando no bom e velho rock de estrada, viril e cheio de álcool e sexo, como pode ser conferido em hits underground como Siririca baby e Abre essas pernas. Aproveitamos o último ensaio dos caras para bater um papo com Paulão, em uma conversa pra lá de escrachada sobre baixaria e rock´n´roll. Mas antes de seguir adiante, aconselhamos seguir a dica do vocalista e abrir uma latinha gelada.

Guia da Semana: Como surgiu a ideia de criar uma banda com a temática das velhas virgens?
Paulão:
Gostávamos do Legião Urbana, só que porra, a gente não conseguia escrever tão bem quanto o Renato Russo. Mas na putaria, mandávamos bem. Aí foi naturalmente caminhando para isso. Era uma coisa que estava dando certo, porque fazíamos com naturalidade e entendíamos de bebedeira e sexo. Todo mundo monta a banda pra meter e encher a cara de cachaça de graça. Tem uns caras que montam para mudar o mundo, mas a gente montou pra comer mulher e beber. E digo que isso deu certo.

Guia da Semana: E o nome do grupo? Como surgiu?
Paulão:
Do último filme de Mazzaropi, em 1981, A banda das Velhas Virgens. Lembro de ter visto a propaganda desse filme na TV, ficou na minha cabeça. Com o passar do tempo a gente descobriu que Velhas Virgens parece nome de puteiro. Acho que já estava escrito em alguma parede de bordel.

Guia da Semana: São 22 anos de carreira, 8 CDs, 2 DVDs e uma média de 100 shows por ano. Dá pra viver de música independente?
Paulão:
Digo hoje, que o que a gente ganha com a banda dá pra sobreviver, mas tem que ter um paralelo, porque as contas dos bares não param de crescer. Trabalho como redator de televisão, escrevendo para o Astros (SBT) e também para um canal pornô da Band, o Sex Prive Brasileirinhas. O Tuca é advogado e o Cavalo além da banda cuida de toda negociata da gravadora Gabaju. A Juliana dá aula de música em Jundiaí, o Roy é músico e o Simom faz uns trampos com outras bandas.

Foto: Leonardo Filomeno

Reunião no QG dos Velhas Virgens para a formulação do nono álbum

Guia da Semana: O sexo e a bebida são abordados de forma explícita nas músicas. Vocês acham que é por isso que a mídia praticamente excluiu a banda do mercado?
Paulão:
Não. As gravadoras gostam de dinheiro e se você for lá e pagar, vira notícia. Não temos dinheiro e não estamos dispostos a pagar para aparecer bonitinho. O que a gente conseguiu nesses 22 anos foi criar um circuito de shows, que permite trabalhar o ano inteiro. A gente nem se preocupa com pirataria e libera o conteúdo na Internet. Essa pirataria de brodagem que ajudou a divulgar nossa banda. Certa vez, um cara de Bauru me ligou e falou: "Pô cara, tenho uma fita cassete e tem seu telefone nela. Você sabe o que é isso?" Eu disse que era o Velhas Virgens. Foi assim que fizemos o primeiro show na cidade.

Guia da Semana: Nesses anos de existência vocês criaram um estilo, juntando vários elementos do rock, de uma maneira nova. Como isso deu certo?
Paulão:
Deu certo porque a gente fala de um negócio que todo mundo faz. Todo mundo gosta de beber, se divertir e de sexo, é um tema que não morre. Com o passar do tempo, a sociedade e o rock ficaram meio caretas e pouca gente tem coragem de falar dessas coisas descaradamente. Por isso não tocamos no rádio e na TV, por causa de uma censura moral e idiota, mas as pessoas consomem, principalmente a molecada. Com 18 anos, você só pensa em trepar, encher a cara e se divertir, que na verdade é a essência do rock´n´ roll. Todo mundo precisa de uma válvula de escape e é disso que a gente fala, de diversão.

Guia da Semana: Vocês gostam de ser politicamente incorretos?
Paulão:
Politicamente correto é um negócio muito chato. Ser incorreto é bem melhor. Hoje em dia quem é politicamente correto? O Kaká, que dá dinheiro pra porra da igreja que derruba o teto na cabeça dos outros? Ele é um idiota, que doa dinheiro pra vagabundo. Aqueles caras da igreja são uns safados! Nós não somos assim, somos aqueles que ficam no boteco enchendo a cara, tentando pagar as contas no fim do mês e, na medida do possível, agindo como seres pensantes, não como massa de manobra que é o que os caras tentam fazer. Essa história de rock´n´ roll, putaria e o caralho a quatro, cria a imagem de que somos comedores de criancinha. Não comemos criancinhas. Só se elas quiserem e acima dos quinze anos.

Guia da Semana: Algumas músicas tratam as mulheres como um objeto. Vocês acham que isso as afasta dos shows?
Paulão:
A banda não é voltada para o público masculino. Nosso objetivo é comer mulher. O show não afasta as mulheres. Primeiro, porque tem pouco homem no mundo, então elas sabem que lá, machista ou não, tem homem. Segundo, porque nós estamos contando a nossa versão dos fatos. As mulheres inteligentes entendem que estamos dando uma puta dica de como lidar com a gente. Uma mulher só não vai gostar de Velhas Virgens se for burra ou mal-humorada. A gente fala como homem, acaba atraindo elas. Atrai viado também, mas fazer o quê?

Foto: Leonardo Filomeno

Paulão arriscando uns acordes no ensaio da banda

Guia da Semana: Vocês recebem muitas críticas negativas em geral? Como é a relação entre a mídia e Velhas Virgens?
Paulão:
Quando alguém fala uma coisa boa, agradecemos. Se cagam na nossa cabeça, não muda nada. A MTV finge que não existimos, também queremos que ela se foda. Na verdade não temos muito problema com isso não, mas acho que as pessoas têm o direito de pensarem o que quiserem da gente e escrever. Como também temos o direito de mandá-los tomar no cú.

Guia da Semana: O que mudou nesses 22 anos de estrada?
Paulão:
Meu cabelo ficou branco e caiu. O Cavalo, que não bebia, hoje bebe que nem um porco. O que não mudou é que a gente continua tocando rock´n´ roll com muito tesão, talvez o Rolling Stones seja uma boa referência, modéstia à parte. Mudou o que está em volta. Hoje você grava disco muito mais fácil, com meios alternativos para divulgar o seu trabalho. Está muito mais fácil de você se movimentar, assim como meter merda na Internet e dizer que é música. Resumindo: está muito mais fácil de tentar e difícil de se manter.

Guia da Semana: E pra finalizar, mande um recado
Paulão:
O que tenho para dizer para as pessoas é que a gente toca música do jeito que a gente gosta. Se gostam, ótimo. Caso contrário, foda-se! Mas as pessoas poderiam pensar nessa missão, de se fazer o que gosta, porque aí se faz bem feito e tem mais chance de viver disso. Nos divertimos fazendo rock´n´ roll e seguiremos nisso eternamente!

Atualizado em 6 Set 2011.