Guia da Semana

É impossível sair ileso à cultura. De diferentes maneiras, ela entra e se aloja dentro de cada um de nós de forma arrebatadora. Aí, cabe a cada qual fazer o que quiser com isso. Da mesma forma, é impossível sair ileso ao musical "Aquele Abraço", que retrata não apenas o mestre da música e gênio das palavras Gilberto Gil, mas o Gil, aquele que nos anos 50 se inspirou em Luiz Gonzaga para pegar o acordeon e começar sua carreira. Ou aquele que foi influenciado pelo som do rádio, das procissões na porta de sua casa, pela bossa nova, pelo sertão e cançoes praieiras e litorâneas. Aquele que lutou por seus ideias, ultrapassou a censura e também deixou o acordeon de lado, empunhou o violão e, em seguida, a guitarra elétrica.

Mais do que nos mostrar a trajetória de um cantor e compositor que transpira cultura, o musical nos faz chegar tão perto de sua essência que passamos a nos referir a ele assim: o Gil.

Em cartaz até dia 15 de maio, no Teatro Procópio Ferreira, o espetáculo é quase que obrigatório para todos que amam a arte, a música, a palavra e a cultura de nosso país. Pela primeira vez, vimos um teatro inteiro cantar e formar uma única voz, que se encontra entre palco e platéia, que arrepia e que, sem dúvidas, inspira. Assim, listamos os motivos pelos quais você não pode perder. Confira:

PROFISSIONALISMO E SINCRONICIDADE

No palco, oito artistas. Artistas porque não apenas cantam, mas dançam, interpretam, recitam e apresentam. Diferente de muitas produções onde cada ator interpreta e toca um determinado instrumento, nesta todos fazem tudo e, inclusive, trocam de instrumentos no meio da cena. Extremamente profissionais, Alan Rocha, Cristiano Gualda, Gabriel Manita, Daniel Carneiro, Jonas Hammar, Luiz Nicolau, Rodrigo Lima e Pedro Lima têm sincronicidade e generosidade em cima do palco. Mais do que isso, possuem algo que, no teatro, nem sempre aparece: vestem-se de um personagem em comum com maestria, mas não escondem suas personalidades particulares. O resultado? Sucesso!

AS DIVERSAS FACETAS DE GIL

A começar pelos personagens, que são diferentes fases e partes de Gil, as cenas nos levam ao cantor do sertão, que conhece a bossa nova, pela influência praiana, larga o acordeon e pega o violão e a guitarra elétrica - que abrigam harmonias particulares de sua obra até hoje.

O espetáculo nos leva a composição de sua musicalidade, suas formas ritmicas e melódicas, e a tropicália, que envolve o cinema, as artes plásticas, o teatro e toda a arte brasileira, além de artistas plurais como Gal Costa, Tom Zé, Rogério Duprat, Nara Leão e outros. Passa também pela ditadura, o exílio, a volta ao Brasil e sua rica produção fonográfica, que dura até os dias de hoje.

CENAS

Todas as cenas do musical são incríveis. Do início ao fim, somos surpreendidos com um show de vozes, atuações e representações, mas, como em todo espetáculo, algumas delas ganham destaque. A primeira, onde Alan Rocha recita, arrepia e traz a essência de toda a poética do que vem a seguir. Outra linda é a que Gabriel Manita, despido de roupas e vestido de personagem e coragem, nos leva à ditadura, cantando maravilhosamente bem. Mais para o final, outra que emociona é a que todos os personagens fazem uma fila em ordem de evolução de Gil.

MÚSICA

Obviamente, o musical é recheado de canções. Mas, diferente de muitas produções onde o público não interage com o palco nem quando é provocado pelos atores e cantores, Gil nos chama para cantar com ele através dos artistas. E, acreditem, é inevitável. Assim, em uma voz só, palco e plateia cantam sucessos como "Toda Menina Baiana", "Roda", "Se Eu Quiser Falar com Deus", "Gaivota", "Andar com Fé", "Cálice", "Não Chore Mais", "Filhos de Gandhi" e muitas outras.

PRODUÇÃO E POESIA

Multimídia, o musical tem uma forma contemporânea e ousada na narrativa para o gênero, que vai de encontro ao perfil de Gilberto Gil e suas raízes. Desde os figurinos até a decoração do palco, a produção é um show à parte. As roupas dos personagens nos levam a movimentos de ruptura com a vanguarda, com uma obra moderna, extremamente poética, e a frente de seu tempo.

Aquele Abraço - O Musical

Data: até 29 de maio de 2016
Horários: Quinta e Sexta às 21h; Sábado às 18h e 21h30; Domingo às 18h
Onde: Teatro Procópio Ferreira
Preço: De R$ 50 a R$ 120

Por Nathália Tourais

Atualizado em 28 Abr 2016.