Guia da Semana

Quando Luciana Moreira, 31, decidiu se cadastrar no site Par Perfeito (www.parperfeito.com.br), sentiu-se envergonhada. Afinal, era uma mulher bonita, bem-sucedida e não parava de se perguntar por que precisava da internet para achar um novo namorado. Depois de ter seu perfil acessado por 50 homens em três dias, a vergonha foi deixada de lado. "Percebi que podia conhecer pessoas interessantes e que estavam na mesma 'página' que eu", confessa Luciana.

Demorou dois meses para que tomasse coragem de aceitar um encontro cara a cara. "Seria fácil demais se conseguisse acertar na primeira (risos). Mas comecei a teclar com o Rodrigo e, quando nos encontramos três meses depois, foi como se estivéssemos destinados um ao outro. E o fato de termos nos conhecido pela internet e não num bar ou por meio de um conhecido fez diferença nenhuma", explica Luciana, que namora há três anos e meio.


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A atitude dela acontece com mais frequência do que se pensa. Segundo a gerente de desenvolvimento de negócios do Meetic para América Latina Clarissa Assumpção, o site Par Perfeito possui 15,3 milhões de usuários no Brasil, com perfis bastante diversificados. São pessoas ativas, que trabalham, fazem esportes, muitas vezes estudam, gostam de se divertir, mas não têm muito tempo para ficar na balada durante a semana ou durante vários dias consecutivos até encontrar um par ideal.

Segundo a psicóloga e professora da PUC-Campinas Rita Khater, diversas razões podem levar alguém a procurar um namorado na Internet. "As pessoas podem não ter muito tempo de sair e conhecer novos pretendentes pelo método convencional, por exemplo. Ou podem ser muito tímidos e, quando detrás da tela, podem ousar na paquera. São razões que tornam a busca até mais excitante", aponta. "É uma prática cada vez maior até mesmo entre os idosos", completa Rita.

Busca pelo perfil

Os números do Par Perfeito apontam que, hoje, 55% dos usuários são homens e 45% mulheres. No momento do cadastro no site, em primeiro lugar, 64% das mulheres optam pelo relacionamento sério, enquanto 49% dos homens assinalam a opção. Em segundo lugar, com 46% de adesão, as mulheres selecionam amizade contra 35% da preferência dos homens.


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"Já a opção sobre sexo casual aparece em terceiro lugar no ranking (25% para elas e 33% para eles), seguido por sexo, que aparece com número expressivo para os homens (32%) e bem menor para as mulheres (5%)", conta Clarissa Assumpção. Esses números são exemplos que embasam a opinião da psicóloga Rita Khater. "Acredito que a Internet atraia aqueles que desejam buscar alguém do seu jeito, que tenha os mesmos gostos, curta os mesmos programas e tenha o mesmo objetivo, seja um relacionamento sério ou apenas um encontro casual. O perfil de busca criado nessas páginas faz com que você escolha o tipo de pessoa que deseja conhecer, esse é um enorme atrativo", diz Rita.

Esse foi o caso de Joana Campos, 25, ao se cadastrar no Par Perfeito. A estudante de medicina estava solteira há três anos e a paquera da balada dificilmente passava de uma noite ou um encontro posterior. "Ninguém quer coisa séria", reclama. Depois que sua melhor amiga conquistou um novo namorado pela Internet, Joana decidiu tentar. "Achava coisa de mulher desesperada, mas vi que essa ideia era errada, perdi tempo, deveria ter me cadastrado antes!", brinca. Após seis meses de encontros e desencontros, engatou um romance que acaba de completar um ano.

Nos velhos tempos...

No fim de 1995, o administrador André Monteiro, 42, acessou pela primeira vez o BBS (Bulletin Board System), um sistema que funcionava de maneira similar aos bate-papos de hoje. "Ao pagar a mensalidade, não era possível trocar seu nick. Por isso, entrei como Merlin e assim fui conhecido até o fim do BBS", conta. 'Merlin', então, conheceu novos amigos - ou se encontravam pelo computador ou em boliches e bares, mas sempre chamando um ao outro pelos apelidos.


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Num desses chats cibernéticos, conheceu Helena Schneider, 53, ou como era conhecida, 'Flor do Campo'. Eles se deram tão bem que passaram a se encontrar fora dos horários combinados com a turma. "Eu era recém-separada e ele estava iniciando o divórcio. Tínhamos muito em comum", conta a professora, que teve medo em encontra-lo pessoalmente, afinal, conhecer alguém pelo computador não era um comum como hoje em dia.

"Continuamos por mais de seis meses conversando apenas pelo BBS e pelo telefone", lembra Helena. Quando finalmente se conheceram, André já estava apaixonado. "Custou bastante para ela confiar em mim. Por mais que nos falássemos sempre e soubéssemos quase tudo um da vida do outro, encontrar a pessoa, cara a cara, era outra história", diz. Onze anos mais velha que André, Helena tinha dois filhos préadolescentes e receava que eles não entendessem a situação.

"Minha filha ainda era pequena e não entendia como eu podia ter conhecido alguém pelo computador. Mas a relação fluiu de modo inesperado e, quando vi, estávamos juntos. O Merlin me enfeitiçou (risos) e aos meus filhos também", conta Helena. Treze anos depois, eles moram todos juntos.

Por Angela Miguel

Atualizado em 17 Jul 2012.