Guia da Semana



No final de 2008, o mundo passava por um dos maiores colapsos financeiros já vistos. Assombrado há alguns anos por uma bolha financeira, que teve efeitos devastadores no sistema imobiliário dos EUA, o mercado só sentiu o tamanho do problema quando já era tarde demais. Isto resultou, entre outras coisas, na quebra do Lehman Brothers, um tradicional banco de investimento fundado em 1850, e da AIG, a maior seguradora dos EUA.

Tentando contornar outra crise, ainda em 2001, a Reserva Federal Americana havia reduzido as taxas de juros buscando mais investimentos para o sistema imobiliário. Com juros baixos e facilidades do governo, se tornaram cada vez mais comuns os títulos subprime, papéis considerados podres por serem de empréstimos de alto risco. Apesar de eles serem concedidos a pessoas sem renda comprovada, os bancos passaram a criar títulos nobres baseados em seus pagamentos.

A Grande Recessão

Quando as taxas de juros começaram a subir, e, consequentemente, o valor das residências a cair, foi o primeiro passo para a crise. "Qualquer pessoa podia contratar empréstimos a juros bem baixos e quando esse número de inadimplência aumentou também acima de um patamar adequado, começou a chamada quebradeira, porque essas empresas não podem honrar esses títulos, e esses títulos nem estavam mais na mão de quem contraiu", explica o professor PhD da FIAP, Marcos Crivelaro.

Para o consultor financeiro, a crise "teve um efeito grande porque mexeu no sistema bancário, ainda mais o americano, que tem a sua ação globalizada. Sempre que você tem crise ligada a banco, se repercute muito rapidamente em outros setores". O especialista afirma que outras crises que vieram antes não foram tão devastadoras porque se limitaram a alguns países ou a setores restritos da economia. Como desta vez o epicentro foi justamente nos bancos, não havia como evitar que o problema se tornasse global, causando recessão em todo o mundo.

Tsunami ou marolinha?

No Brasil, porém, os efeitos foram bem mais brandos. Como previsto pelo governo, o tsunami não chegou aqui com tanta força. Crivelaro acredita que "foi pouco afetado porque o PIB brasileiro não depende muito do mercado internacional. É dependente em torno de 20%, diferente de outros países da Europa, da América do Norte, que dependem mais de 50% dos países externos". Ainda segundo ele, "o receio era com os bancos internacionais que tem sede aqui, ou com a questão do pânico, que sempre mexe muito com o sistema bancário. Então o resguardo do governo brasileiro era esse, e não por conta de ter os papéis podres aqui".

Assim, apesar de muito se falar sobre o colapso, poucos foram os brasileiros que tiveram suas vidas afetadas pelo problema. A maioria deles foram os que perderam seus empregos, em demissões muitas vezes causadas por pânico ou precaução, mas aqui também chegou o problema da falta de crédito. "Para o cidadão comum, o reflexo principal foi o crédito, porque instituições privadas estavam com alguma restrição por conta da inadimplência. Como a inadimplência agora tem caído, o crédito tem aumentado, então, para ele, hoje, é como se não tivesse havido crise. Se ele não perdeu o emprego e não aconteceu uma mudança salarial, é como se não tivesse acontecido nada".

Apesar de o mundo ainda sofrer com alguns resquícios da grande recessão, o mercado já volta a se acalmar. No Brasil, e mesmo fora daqui, o sistema financeiro volta ao normal aos poucos, porém com ainda mais atenção para evitar um novo colapso. Como acontece após a maioria das crises, de acordo com Crivelaro, uma das questões mais delicadas é a da falta do emprego, já que empresas preferem enxugar a folha de pagamento, então quem foi demitido pode ainda ter problema para se recolocar no mercado. O consultor, no entanto, afirma que a melhor forma de contornar isto é com a busca para sempre se capacitar. Assim, as chances de ficar desempregado são bem menores.

Foto: Getty Images

Atualizado em 26 Set 2011.