Com o lançamento da sua programação 2011 no começo de abril, a Globo ampliou consideravelmente o espaço para a dramaturgia em sua grade. Além das cinco novelas diárias no ar, a emissora oferece ainda seis séries nacionais, exibidas ao longo da semana, na chamada linha de shows. No entanto, quantidade não significa qualidade. Salvo exceções, a dramaturgia, que sempre foi o pilar de sustentação do canal, se encontra em maus lençóis.
Nas novelas, por exemplo, Morde & Assopra e Insensato Coração ainda não disseram a que vieram. E olha que a segunda já está no ar desde janeiro. Enquanto a trama das sete repete personagens e situações de outras obras do autor Walcyr Carrasco, a das nove simplesmente não tem trama que a sustente. A exceção atende pelo nome de Cordel Encantado, que acabou de estrear e se mostra com a vitalidade que os outros horários perderam. Baseada em literatura de cordel, em uma trama que envolve reinados e cangaço, a novela tem todos os ingredientes que faltam às outras, além de um ar de novidade, já que aposta na fábula.
As atuais séries também não parecem lá muito dispostas a empolgar. Em 2010, a Globo apostou numa variedade de gêneros e lançou seriados o ano todo. Tivemos boas comédias, como Separação?!, dramédias (drama com comédia) eficientes, como A Vida Alheia, policiais, como Força-Tarefa, e suspense, como A Cura, além de projetos experimentais, como Clandestinos e Afinal, o que Querem as Mulheres?. Já em 2011, apenas comédias deram as caras até aqui. E boa parte delas não rende como esperado.
É o caso de Batendo Ponto, nas noites de domingo. A série protagonizada pela secretária Val (Ingrid Guimarães) é um emaranhado de clichês e lotada de piadas constrangedoras de riso fácil. Com o ótimo elenco que tem, com nomes como Pedro Paulo Rangel, Stenio Garcia e Danielle Valente, poderia ser muito melhor. O mesmo vale para Tapas & Beijos, que tem Andrea Beltrão e Fernanda Torres como protagonistas, mas não as aproveita como deveria. Parece que Marilda, de A Grande Família, e Vani, de Os Normais, passaram a viver juntas, mas agora chamadas de Sueli e Fátima. Novamente, elas estão às voltas com homens complicados, mas mesmo assim sonham em se casar. Comédia que já nasceu cansada.
Lara com Z, exibida nas noites de quinta, também se mostra bastante irregular. O mote é bom, o da história de uma atriz que se acha uma diva e se recusa a envelhecer, e o texto ácido de Aguinaldo Silva segue afiado. No entanto, a trama tem seus baixos. No primeiro episódio, após ser ameaçada de prisão, Lara chora diante do espelho, repetindo "eu não vou envelhecer!". Hein? Suzana Vieira está bem em cena, mas parece que vive uma paródia de si mesma. E Humberto Martins encontrou um tom bastante esquisito para seu personagem. Cinquentinha, série onde Lara Romero nasceu, era bem melhor.
Mas há quem se salve em meio a apostas duvidosas. Divã e Macho Man integram a lista de boas novidades desta safra global. A primeira, por ser uma comédia mais cotidiana, com cara de crônica, além da sempre interessante presença de Lília Cabral, como a protagonista Mercedes. E a segunda, por ser mais uma comédia despudorada de Alexandre Machado e Fernanda Young, sempre criativos!
O start da programação 2011 não foi dos melhores, mas novas séries e minisséries devem estrear (como a terceira temporada da boa Força-Tarefa e o remake de O Astro), e, assim, estancar esta atual crise da teledramaturgia global. Ao menos, é o que esperamos!
Leia as colunas anteriores de André Santana:
Globo cancela Aline
Pobre domingo...
Hebe na Rede TV!
Quem é o colunista: André Santana.
O que faz: Jornalista e blogueiro.
Melhor lugar do mundo: Minha pequena cidade de Ilha Solteira - SP.
Pecado gastronômico: Filé à parmegiana... e batata frita!
Fale com ele: [email protected] ou acesse seu blog.
Atualizado em 10 Abr 2012.