Guia da Semana

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Tratar de chorar não é necessariamente sinônimo de fossa ou de dor. Claro que muitas vezes, é! Mas outras, só estamos a dizer para nós mesmas: "Filhota, tá na hora de lavar a alma!"

Derramar-se em lágrimas pode ser tão necessário quanto as necessidades fisiológicas, como o número um e o dois. É como um aviso prévio ao corpo que as coisas estão indo bem, que você está vivinho da silva mas, nesse caso, é como se a vontade de dizer algo que está entalado, o desejo de gritar, expressar-se, enfim, tudo isso está ali, precisando sair de dentro de você. Simples assim.

Conheço muita gente que liga a "vida" no automático e vai embora. Nem sabe que rumo está tomando e quem à sua frente está. Pessoas assim são frias, calculistas, ocas e vazias. A ausência do sentimento impera, toma conta. E agora, como é que faz? Chora? Não, não. Resmunga. Na verdade, resmunga mais para si, até para não incomodar os outros. E como diz aquele velho ditado: "Quem cala consente."

Tenho para mim, então, que a pessoa que se cala demais também permite coisas demais. Tolera demais. Bom, imagino que se guardar de si mesmo deva ser o pior exercício que alguém possa praticar. É como ficar bloqueando uma passagem por muitas horas, dias, ou uma vida inteira! Imaginou o estrago que isso pode causar? É quase uma covardia privar-se de um acalorado choro, regado (literalmente) a lágrimas, sempre muito bem acompanhadas de ininterruptos soluços, daquelas que fazem inchar o rosto, deixam os olhos brilhantes e causam um soninho gostoso ao final de tudo.

Li outro dia um artigo, no qual um especialista diz acreditar que os animais vertebrados em geral têm um sistema lacrimal bem desenvolvido, o que os tornaria seres mais sensíveis. Mas se isso de fato os faz mesmo chorar, não se sabe ao certo. Porém, vale lembrar que até os cães, quando se separam de seus filhotes, ou quando sentem dor, saudades do dono e fome, liberam seus pungentes gemidos aos sete ventos. E quem negaria que isso é sentimento?

Tudo bem, já deu pra entender que chorar é super normal e faz até bem. E assim como chorar pode ser um sinal de que você está simplesmente vivo, rir pode ser algo praticamente escasso nos dias de hoje. Sim, porque felicidade demais pode incomodar o próximo.


Para aqueles que choram sem medo do que vão pensar dele, têm a minha devota admiração. E, para aqueles que sorriem com facilidade das adversidades do dia a dia, eis aí um guerreiro, um bem aventurado, que não precisa de muito para ser feliz.

Assim como rir e chorar, escrever também ajuda a amolecer essa barreira espessa incrustada em cada um de nós. Eis aí mais um refúgio para a alma, quase fisiológico. Então, abra seu lencinho, conte até três e boa sorte!

Leia as colunas anteriores de Carolina Marçal:

Uma balzaca, sim senhor

O jogo das quatro letras (S.E.X.O)

Brincando de casinha

Quem é: Carolina Marçal.

O que faz: é mãe, redatora, balzaca e ex-chocólatra.

Pecado gastronômico: as panquecas da minha avó!

Melhor lugar do mundo: qualquer um onde eu possa ver as estrelas.

O que está ouvindo no rádio, carro, mp3, iPod: Coco Rosie, Radiohead, Strokes, Jamiroquai e Talking Heads! Que são bandas que eu adoro, embora eu ouça de tudo!

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Atualizado em 6 Set 2011.