Guia da Semana

Foto: Divulgação/TV Globo

Gerson (Marcello Antony) e Felicia (Larissa Maciel)

Afinal, o que o piloto de corridas Gerson Gouveia (Marcello Antony) tanto olhava avidamente na tela do computador? Desde o início da novela, diversos jornais, sites e comunidades na Internet promoveram as mais diversas teorias: de que Gerson seria pedófilo, necrófilo e outras aberrações do comportamento sexual. Para ajudá-lo em seu "problema", Gerson passou a consultar o psicoterapeuta da vida real Flávio Gikovate, que entrou para a novela como ele mesmo para discutir a obsessão do personagem fictício.


Na trama, a ex-mulher, Diana (Carolina Dieckmann), e o irmão, Saulo (Werner Schünemann), presenciaram o que rolava no computador do rapaz. Para Diana, o que ela viu foi expresso como algo "nojento". Já o mau-caráter Saulo usou do que descobriu para chantagear o irmão. Só podia ser algo bem "forte" mesmo. Forte a ponto de Saulo ter um trunfo a seu favor. E assim esperava o público. Algo forte, nojento, aterrador!


Na última semana, finalmente, Gerson revelou ao médico a sua "tara", numa cena longa, tensa, bem dirigida, com closes, sonoplastia pausada e até lágrimas no final. Ele é viciado em sites pornográficos. Mas, tanta especulação da mídia e sofrimento do personagem (sim, Gerson carregava uma grande culpa!) por tão... pouco? A impressão que dá é que Silvio de Abreu foi vítima de sua própria trama! A mídia em geral e o público ("por tabela", ou por causa da mídia) deu mais importância à "tara de Gerson" do que à trama policial da novela - os assassinatos e mistérios que envolvem a família Gouveia e sua metalúrgica.


Ao final, ficou a impressão de que a grande expectativa criada não passou de "muito barulho por nada". Vamos então analisar a ótica de cada um dos envolvidos neste barulho todo.


Gerson: ser um sexômano compulsivo requer tratamento. Mas, convenhamos, frequentar sites pornográficos é alguma aberração ou anormalidade? Se fosse assim, mais da metade dos usuários de internet no mundo seriam anormais ou tarados em potencial. Talvez a tara de Gerson por sexo sujo ou bizarro - como ficou bem explicado na cena - justifique o sofrimento do personagem. Mas o que a novela alardeou até então não era o que ele fazia da porta de casa para fora, mas na frente da tela do computador. Dizer que sente prazer pelo cheiro fétido de banheiros públicos soa forte. Mas, quando passa para o computador, isso tudo fica muito genérico.


Diana: qualquer pessoa que se ponha no lugar dela também acharia "nojenta" qualquer imagem obscena no computador. A personagem é assim; logo, bastante plausível sua cara de nojo.


Saulo: pela índole do personagem - um mau-caráter intratável e cruel, obcecado pelo poder - é fácil atestar que ele já deve ter, pelo menos, tomado conhecimento de algum site pornográfico na vida! Então, soa estranho concluir que "sites de pornografia suja" pudessem ser uma arma poderosa nas mãos de Saulo para usar contra seu irmão. Essa não colou - mesmo que o vilão nunca tivesse acessado qualquer um destes sites.


O autor: a trama policial de "Passione" não tem despertado tanto o interesse do público quanto "o segredo de Gerson". Seria muito arriscado para Silvio de Abreu criar alguma polêmica maior em cima do personagem Gerson e correr o risco de ter sua trama principal ofuscada por uma paralela. Se a ideia é de que tramas paralelas são um apoio à principal, a trama de Gerson deveria funcionar como um chamariz para a novela. E, convenhamos, tem funcionado bem. Tanto que, como já mencionado, despertou mais a atenção do público do que os assassinatos na família Gouveia. Com pouco mais de um mês para acabar a novela, não seria interessante da parte do autor abrir uma polêmica para uma discussão maior sobre o tema e, assim, tirar a atenção sobre os mistérios que terão que ser resolvidos até o final da trama.


O público: qual o perfil do telespectador médio que acompanha "Passione"? Se analisarmos o público que a novela do horário nobre da Globo cobre, tudo fica muito subjetivo. Até qualquer imagem obscena no computador pode parecer algo absolutamente nojento e aterrador. Afinal, para qual público se faz novela?


Talvez a solução encontrada por Silvio de Abreu para este mistério não nos pareça tão coerente - ou "forte" e "nojenta". Mas, em um país onde a internet ainda está distante para a maioria da população, este talvez tenha sido um desfecho bastante plausível.

Agora que o mistério acabou e Gerson pôde enfim tirar este peso de suas costas, talvez o personagem consiga seguir sua vida "normalmente", acreditando que todos somos cúmplices neste mundo virtual.

Leia a coluna anterior de Nilson Xavier:

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Quem é o colunista: Nilson Xavier.

O que faz: Autor do "Almanaque da Telenovela Brasileira" e criador do site Teledramaturgia.

Pecado Gastronômico: doces e sobremesas.

Melhor lugar do mundo: São Paulo.

O que está ouvindo no carro, mp3, iPod: quase um pouco de quase tudo.

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Atualizado em 10 Abr 2012.