Guia da Semana

A luta por visibilidade é central para o ativismo LGBT. A busca por ela significa querer que o mundo assimile progressivamente que nós existimos e demandamos os mesmos direitos e proteção do Estado que toda e qualquer pessoa branca, cisgênera e heterossexual tem. Para isso, a mídia é um veículo extremamente poderoso que tem a mesmíssima capacidade de agilizar essa demanda – ou atrasá-la.

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Na sexta feira, 31 de janeiro de 2014, milhões de brasileiros estavam assistindo ao último capítulo da novela “Amor à Vida”, esperando ansiosamente pelo seu desfecho. Neste dia aconteceu um beijo gay, que foi reivindicado através de grandes campanhas nas redes sociais e esperado, não só pelos ativistas e simpatizantes, mas pelo público como um todo. O beijo aconteceu – bonito, importante e divisor de opiniões – em rede nacional, no maior canal de televisão aberta do país.

Hoje convivemos com as heranças deixadas por ele e devemos, com um olhar atento, observar se o espaço conquistado se mantém e se realmente esse beijo representou um ganho em termos de visibilidade – uma vez que não foi o primeiro beijo gay da televisão.

A novela “Amor à Vida” foi substituída pela bossa nova de Manoel Carlos “Em Família”. O autor, que segue fiel ao seu estilo de dramaturgia, nos presenteou com o casal Clara (Giovana Antonelli) e Marina (Tainá Muller). O romance entre as duas vem sendo construído sem exposição, deixando o que realmente importa explícito: o amor entre elas e a maneira em que a relação se constrói. Esta é a primeira vez em que o relacionamento entre duas mulheres é retratado de maneira tão leve e livre de estereótipos. Uma conquista? O curso da novela mostrará.

Sem alarde nenhum, a Rede Globo exibiu no seriado “Um Doce de Mãe”, o beijo gay entre os personagens Fernando (Matheus Nachtergaele) e Roberto (Evandro Soldatelli). Na trama, os dois vivem um casal muito bem aceito pela família e pela mãe, a doce Dona Picucha (Fernanda Montenegro). A falta de alarde nos faz repensar em como a emissora está expondo a homossexualidade em suas produções: será que a partir de agora o tema será tratado com naturalidade? Parece que é esse o caminho que começa a ser trilhado.

Já no “Big Brother Brasil”, outro programa de grande audiência da emissora carioca, é exibido o relacionamento entre Clara e Vanessa – onde os beijos não são vetados. O apresentador do programa, Pedro Bial, também fez uma intervenção, ao vivo, questionando comentários de cunho homofóbico feitos por um dos participantes. Na ocasião, Bial defendeu a adoção de crianças por casais homossexuais.

Todos estes exemplos mostram que a Rede Globo tem se posicionado de maneira diferente sobre questões LGBT após o marco do beijo gay em horário nobre. Isso pode ser considerado um passo importante para que o preconceito seja repensado e para que seja feita uma representação mais real da vida que corre fora das telinhas.

Entretanto, a homofobia e transfobia retratadas em inúmeros quadros ainda não foram extirpados da programação, o que mostra que a reprodução desses preconceitos coexiste com essa nova movimentação.

É importante lembrar que antes do beijo de Nico e Félix, a televisão (com outras emissoras) já tinha uma grande história com personagens homossexuais. Toda a comoção pública com o beijo da novela de Walcyr Carrasco nos mostra como a Rede Globo consegue monopolizar e manipular a opinião do povo brasileiro. “Se há beijo gay na Globo, há beijo gay no mundo”. Tem que ser o oposto!

O beijo gay tem que ser dado na rua, todos os dias, todas as horas, e só assim será levado com naturalidade por todos os brasileiros.

Na realidade, a herança do beijo gay somos nós.

Por Ana Beatriz Mascarenhas, Debora Baldin e Jessica Tauane

Atualizado em 22 Abr 2014.