Guia da Semana

Eliane Leme/ Rede Bandeirantes

Na TV e na web, o CQC capitaliza todas as formas de audiência às segundas-feiras

Web-blocos, twitter e demais redes sociais estão com tudo na programação de tevê voltada ao público jovem. Enquanto Marcos Mion e trupe comandam o fuzuê no palco dos Legendários (sábado, às 22h, na Rede Record), João Gordo segue em paralelo na web. Já no CQC (segunda-feira, às 22h, na Rede Bandeirantes) basta o trio liderado por Marcelo Tas se despedir na telinha para tomar de assalto a banda larga e levar sua anarquia crítica para o portal da Band, com o quadro CQC 3.0.

"O programa se torna mais vivo, não só para quem está assistindo, mas como para quem está interagindo, passando a ser uma experiência completa", comenta o apresentador Rafinha Bastos. Já são seis edições desde o lançamento do videochat em outubro, que dura 20 minutos e tem direito até à bancada própria. Já os Legendários adotam a mesma estratégia desde de antes do lançamento, em abril.

"A gente começou na web com conteúdo exclusivo e interação nas redes sociais, no intuito de preparar o público para o lançamento do programa", comenta o diretor de interatividade do Legendários, Pedro Tourinho. Todos os sábados, o programa começa cinco minutos antes no portal e fica no ar durante toda a exibição, inclusive durante os comerciais, totalizando em média uma hora e meia de programa. Em ambos os casos, todos os programas já passados estão disponíveis para serem assistidos quantas vezes o público quiser.

Transmidia em várias telas

Kelly Fuzaro/MTV

A VJ Marimoon, do Acesso MTV e Scrap MTV - da internet para a telinha

Computador, celular, Ipad ou tv de plasma, não importa a tela, e sim a facilidade de acesso do conteúdo. "Temos cada vez mais entendido que para atender a audiência nossa programação deve estar em todas as plataformas, estreitando o relacionamento com o público", reforça o diretor de conteúdo digital da MTV Mauro Bedaque, lembrando que oferecer as ferramentas é mais um dos serviços prestados pelas emissoras.

O canal é pioneiro nesse tipo de interação. "Somos os primeiros a publicar na tela tweets do público em tempo real, sem nenhuma censura. A pauta do Furo MTV (segunda a sexta-feira, às 22h, reprises às 15h) é passada primeiramente para os seguidores dessa rede e nossos VJs usam a ferramenta para propor temas à audiência", explica o executivo.

Outro instrumento bem visto pela emissora são as mensagens curtas (SMS ou torpedo). Até final de outubro desse ano, a emissora recebeu mais de 30 milhões de SMSs, sejam como votos em clipes ou pedidos de mais informações sobre os artistas veiculados no Acesso MTV (segunda a sexta-feira, às 13h30, reprises às 18h30) e outros programas. Aliás, o Acesso é a atração de maior interatividade da emissora, totalizando oito ferramentas, como mural, blog, vídeos extras e seções próprias, como Eu e meu ídolo.

Uma nova audiência

Antonio Chahestian

Estratégia multiplataforma na comunicação de Legendários

Mais do que ampliar o tempo de participação ou oferecer ferramentas, o crescente uso da Internet e sua integração com a telinha já modificou a forma de mensurar a participação do público e até de agir em sociedade.

As empresas evitam fazer comparações entre os números da tevê e da rede. Segundo Rafinha, são cerca de 15 a 22 mil usuários conectados no portal do CQC ao final de cada segunda-feira. Já o Legendários totaliza 70 mil acessos enquanto o programa está no ar, além de outras 20 mil exibições durante a semana nas contas de Pedro Tourinho. Mauro Bedaque não fala em números, mas garante que os programas de boa audiência televisiva em geral são as maiores audiências no portal da emissora e no uso dos serviços.

E todo esse povo está disposto a falar, reclamar e, acima de tudo, a participar. O cientista social e professor-doutor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) Massimo Di Felice vê uma verdadeira revolução na forma de se fazer presente no mundo contemporâneo. "Esse público tem a possibilidade de criar conteúdo, e não apenas receber. É uma postura diferente da forma até então comum de se consumir tevê, notadamente passiva".

Rafinha Bastos concorda. "Mudou a partir do momento em que as pessoas passaram a acessar conteúdos de diferentes maneiras, editando seus trechos preferidos e fazendo suas próprias versões. Na verdade, essa conversa de nova audiência já está até velha, tem no mínimo sete anos atrás. Mas tudo isso acontece lentamente, e o meio publicitário ainda se baseia nos números do Ibope, o que é patético. Essa aferição não serve mais, tem de mudar de todos os lados, tanto do público quanto de emissoras e agências".

Di Felice, que também é coordenador do ATOPOS, grupo de pesquisa que investiga as novas tecnologias nos vários âmbitos da sociedade atual, acredita que em menos de dez anos teremos uma tevê completamente diferente. "Haverá uma pulverização de canais, feitos e produzidos das mais diversas formas, tanto por pequenos grupos como as grandes corporações. Estamos passando de uma época da mídia de massa para uma mídia de nichos, grupos e pessoas, uma arquitetura informativa diferente", sintetiza Di Felice. Para o acadêmico, o antigo poder da audiência ditada pelo mercado publicitário, tende a se esvaziar e repassar esse poder para uma dimensão mais cidadã. Fica a pergunta: afinal, isso será bom ou ruim? Quem vai ganhar? O futuro está nas telas.

Atualizado em 6 Set 2011.