Qualquer pessoa que tem um dinheiro a mais pensa na possibilidade de multiplicar e, quem sabe, chegar ao primeiro milhão em pouco tempo. Que essa é uma tarefa difícil todo mundo sabe, mas o que muitos não descobriram é que a pressa é inimiga número um daqueles que querem garantir a rentabilidade de seus investimentos.
Seja para comprar a tão sonhada casa própria, fazer a viagem dos sonhos ou garantir uma boa aposentadoria, poupar virou regra para muitos brasileiros. Se você ainda não faz parte desse grupo, conversamos com Gustavo Cerbasi, autor de sete livros sobre finanças, para esclarecer quando, como e em que investir. Confira!
Guia da Semana: Em que altura da vida você recomenda que uma pessoa comece a investir?
Gustavo Cerbasi: Desde o primeiro momento que a pessoa tem renda, seja estágio com bolsa auxílio ou como aprendiz. O ideal é que desde a época de escola nós fôssemos estimulados a economizar, porque isso facilitaria muito mais o processo de poupança. Se todos começassem desde cedo, o que deveríamos poupar da nossa renda seria em torno de 6% a 7%. Não é um valor muito grande. À medida em que o tempo passa, esse porcentual tende a aumentar, porque o salário também aumenta. As pessoas que já tem seus 30 anos de idade podem poupar 10% de sua renda. A recomendação para quem está pensando em fazer uma poupança relativamente tarde, que é quando a maioria se preocupa, por volta dos 40 anos, deve poupar por volta de 15% da renda, o que acaba ficando praticamente impossível. Então, para fazer da poupança o principal item de investimento, o ideal é começar cedo.
Guia da Semana: Qual deve ser o tempo mínimo para que uma pessoa que investe possa ver a rentabilidade?
Gustavo Cerbasi: O ideal é que a pessoa se habitue ou resgate o antigo hábito que o brasileiro já teve e hoje não tem mais, de planejar os seus sonhos em curto, médio e longo prazo. Se alguém começa a acumular dinheiro para uma viagem, o ideal é que ela aconteça daqui a 12 meses. Se a pessoa junta o dinheiro para um dia morar na sua própria casa, deve ter uma meta de 10 ou 15 anos. E, se for para viver melhor na aposentadoria, é preciso começar cedo. Não tem nada de errado colocar como meta um horizonte de 30 ou 35 anos, porque a pessoa está poupando muito pouco para colher bastante dinheiro lá na frente. O que o brasileiro não está acostumado a fazer e deveria ser incentivado, é ter o hábito de se sacrificar para depois celebrar. Hoje nós estamos primeiro celebrando para depois sacrificar durante vários meses nosso orçamento, pagando a conta do nosso consumo e isso é ruim.
Guia da Semana: Fazendo analogia com um de seus livros, qual é o investimento inteligente dentro do curto, médio e longo prazo?
Gustavo Cerbasi: Com relação ao tipo de investimento, o ideal é que a pessoa invista no que se sente mais à vontade e entenda sobre. Fala-se muito em ações, mas se você não sabe nada, não consegue abrir um jornal e entender o que está escrito, não deveria focar nessa alternativa. O foco, por exemplo, pode ser em imóveis, ou seja, comprar um terreninho, vendê-lo com um pouco de lucro, depois compra um segundo terreno, constrói e assim por diante. Outra opção é comprar e vender coisas em leilões virtuais pela Internet, por exemplo. Experimente uma forma de ganhar dinheiro na qual se sinta à vontade. Além da questão de onde investir, a estratégia de investimento também é importante. Em todos os mercados existem investimentos muito seguros e de risco. Quanto mais risco eu assumo, mais eu tendo a ganhar. Só que eu não posso colocar em risco, por exemplo, a minha viagem do próximo ano ou o casamento do ano seguinte. O ideal é que eu invista com muita segurança o dinheiro de curto prazo e que eu coloque mais em risco o que é de longo prazo, o que não tem data certa para acontecer. Essa liberdade de prazo me permite passar por uma crise como essa, e não ter dor de cabeça. Quanto mais preso a datas você estiver, menor deve ser o risco do investimento.
Guia da Semana: Em que é preciso prestar atenção na hora de investir?
Gustavo Cerbasi: Em primeiro lugar a pessoa tem que se informar, no mínimo, com três fontes diferentes: encontrar uma opinião de especialista no jornal, ler um livro a respeito do assunto e ouvir recomendações de duas ou três instituições. Quando eu somo as opiniões, eu já tenho condições de fazer uma escolha mais bem planejada. O perigo é se encantar com a didática do gerente de conta ou de corretora de previdência, achando que está sabendo muita coisa porque a pessoa deixa você à vontade e acabar escolhendo um produto que não é válido para o que precisa ou deseja.
Guia da Semana: Com a situação atual do mercado, onde você acha que o brasileiro deve investir?
Gustavo Cerbasi: O momento está interessantíssimo para diversos tipos de investimento. A partir do momento que a gente reconhece que o Brasil está reagindo bem à crise, nós temos potencial de valorização de imóveis e de ampliação no consumo, o que significa aumento no valor das ações. Quem está pensando em montar um negócio próprio, que também é um tipo de investimento, encontra um cenário interessante, porque o emprego está crescendo no País. Não faltam alternativas para se investir bem no Brasil, o que falta é planejamento. Não importa aquilo que a pessoa escolha, é ideal que ela realmente se envolva com o investimento para colocar seu dinheiro em algo que conheça mesmo.
Guia da Semana: Em um dos seus livros você diz que "um investidor de sucesso não necessita de preparo obsessivo, mas precisa saber fazer escolhas maduras". Quais são essas escolhas?
Gustavo Cerbasi: Uma escolha madura é a que a gente vai fazer não só errando, mas observando o erro dos outros. Deve ser a opção com qual a pessoa se sinta bem ao se envolver e ao arriscar. Vamos supor que você queira comprar um automóvel ou uma casa para revenda em um leilão. A primeira sensação ao entrar em um é muito ruim, porque não dá para entender a linguagem e as razões do lance ser feito em uma coisa e não em outras. Você precisará visitar dois ou três leilões diferentes para entender que tem um jogo, quais são as regras e a partir da quarta ou quinta visita começar a experimentar e comprar algo de pequeno valor. Com as ações é a mesma coisa. Eu não posso pegar uma quantia muito grande e colocar tudo de uma vez. Tem que ser devagar, analisar o sobe e desce do mercado, começar a simular algumas escolhas e, se eu perder dinheiro nesse simulado, devo entender que preciso conhecer mais sobre o assunto. O amadurecimento vai vir com a dedicação dada àquele investimento. Pessoas que passam vários anos investindo certamente farão escolhas mais maduras, mas investidores sem experiência podem buscar nos cursos e nas conversas com quem tem mais conhecimento para acertar na escolha. O que eu não posso fazer é investir e esperar a dica dos especialistas do que é vantagem ou não.
Guia da Semana: Quais são suas dicas para quem começa a investir?
Gustavo Cerbasi: Primeiro: não ter pressa para ganhar. Isso é o mais importante, porque estou experimentando um novo investimento. Para sair da caderneta de poupança e investir em ações é preciso manter o capital na poupança e colocar dinheiro novo, o que sobra no mês (R$ 50 ou R$ 100), nas ações, ver como se comporta e aí comparar o que vale a pena. Segundo: mantenha a estratégia. Ao fazer uma grande mudança, seja disciplinado com ela. Terceiro: envolver-se de verdade com o assunto. No mínimo três horas por semana pesquisando sobre o tema e as áreas de investimento. No começo isso é muito importante para chegar às escolhas mais maduras.
Atualizado em 6 Set 2011.