Foto: Adriana Spacca
O comediante Evandro Santo
Com tiradas rápidas, senso de oportunidade e trabalho duro, ele caiu nas graças de Emílio Zurita em 2007 garantindo seu espaço no Pânico (Rede TV, às 21h, reprise às sextas-feiras, às 22h e Rádio Jovem Pan, diariamente, das 12h às 14h) e nos palcos onde apresenta a stand up comedy Espia Só, com nova temporada em São Paulo até 17 de dezembro.
Para Evandro, o humor é um tipo de exorcismo, fazendo ele não poupar o tipo que encarna ("um representante típico das bichinhas pobres de bairro"), nem sequer ele próprio. Faz isso com a famosa "verdade interior" e até assume que teve períodos de deslumbramento com a fama. Agora, procura ter um olhar distante, mas nunca sem perder a piada. Confira a entrevista.
Guia da Semana: Antes de mais nada, o teu verbete na Wikipedia é muito engraçado. Foi você que escreveu?
Evandro Santo: Não, foram os fãs que publicaram. Por incrível que pareça tenho um fã clube chamado O Pior Fã. Eles são bem interativos, um trabalho muito sério, bem completo. Até dou um dinheirinho para um deles, pois é um trabalho. Até eu quando quero achar alguma coisa que saiu sobre mim vou lá e encontro.
Guia da Semana: O que você fazia antes de estourar na televisão?
Evandro Santo: Sou comediante desde 1993, comecei aos 17 anos, então já tenho um certo tempo de estrada. Vim de Minas para São Paulo e vivia do meu trabalho, fazendo muito teatro-empresa, eventos, figuração em comercial. Em 2002, o sucesso de Terça Insana abriu espaço para uma nova leva de artistas e grupos de comédia como Marcela Leal, Marco Luque, Márcia Bastos. Nessa época, participei de vários grupos, como Os Cretinos, Deboshow, Absurto. Com esse último grupo fizemos um grande espetáculo em 2007.
Guia da Semana: Então Christian Pior já existia como personagem?
Evandro Santo: Não. Eu tinha uns 12 personagens e experimentávamos novos a toda hora no espetáculo. Tinha viciado em puta, pai de santo, atendente de ambulância assassina, personal trainner, uma socialite do Rio Grande do Norte, mas nada parecido com o Christian Pior.
Guia da Semana: E como se deu a entrada na equipe do Pânico?
Evandro Santo: Eu mesmo divulgava os espetáculos e fui à Jovem Pan falar do Absurto. Foi quando o Emílio me conheceu. Ele ficou bem interessado e me chamou para fazer uma ponta com um outro personagem meu, o sexólogo Percival. Passaram dois meses e ele me chamou para fazer o casamento da Wanessa Camargo já como Christian. A partir daí fui convidado a participar da equipe e deu certo.
Guia da Semana: Como você criou o Christian?
Evandro Santo: O Emílio me ligou numa sexta-feira pedindo o personagem para o sábado. Não houve estudo, e sim uma rapidez louca para inventar. Sabia o que ele queria: um personagem que comentasse as roupas das pessoas de forma maldosa. Fiquei pensando logo nos nomes dos estilistas. Yves Saint Laurent virou Ives Sua Anta; Christian Dior, Christian Pior. Achei que poderia pegar e funcionou. Foi uma chance caída do céu embrulhada em papel de presente.
Guia da Semana: Mas quem serviu de inspiração?
Evandro Santo: Tem duas grandes inspirações. Uma foi a Tina Pepper, personagem da Regina Casé na novela Cambalacho (1986). Ela odiava pobre e era muito extravagante. A outra são as bichinhas pobres de bairro, que vivem esse modelo. Sabe aquela bichinha que fica como mariposa em volta das meninas bonitas, esnobam as bichinhas mais pobres, mas que só andam em caravana? O Christian Pior é a bichinha de periferia que quer se dar bem.
Foto: Arquivo Fã Clube Pior Fan
Encarnando Christian Pior na Beauty Fair, em São Paulo
Guia da Semana: Como o personagem lida com o mundo das celebridades?
Evandro Santo: Quando um personagem quer se dar bem socialmente, ele sempre é muito puxa-saco, muito deslumbrado, muito falastrão. O Christian tem problema com pobre porque ele é pobre. É um personagem docemente frustrado, pois ele quer fazer e acontecer, mas vai ficar sempre ali, lambendo os ricos (risos).
Guia da Semana: E como você convive com isso?
Evandro Santo: Eu encaro como um trabalho mesmo, mas já passei por várias fases. Teve uma época em que adorava detonar as pessoas. Numa outra, fiquei meio deslumbrado com elas. Hoje eu tenho olhado com uma certa distância. Ao contrário do meu personagem, não tenho paciência para ficar lambendo muita gente, não tenho saco para ficar preso a essas hierarquias.
Guia da Semana: Esses tipos de relações de interesse e deslumbre são comuns nos bastidores do mundo da televisão?
Evandro Santo: Ninguém que está na televisão é inocente, essa foi uma frase que aprendi. Não há inocentes nesse ambiente. Entendi quando estou como produto e quando estou como pessoa. Quando é trabalho, você vai a festas e eventos para ver, ser visto e fazer contatos. Fica uma hora, toma duas taças de champa e volta para casa. Respeito as pessoas famosas e seus valores, mas eu sou uma pessoa vira-lata. Gosto mesmo é de me divertir muito, tirar a camiseta, dançar, ficar até às oito da manhã e falar muita merda.
Guia da Semana: Como é o ritmo de produção do Pânico na TV?
Evandro Santo: Não existe uma rotina. De uma hora para outra posso ser chamado, alguém marcar uma pauta ou desmarcar. Não existe um horário fixo, as coisas vão acontecendo, e preciso estar preparado para fazê-las. É uma vida de repórter de humor, pois não estamos protegidos dentro de uma sala com ar condicionado. Ficamos na rua em porta de festa que nem uns doidos, suando e fazendo pizza embaixo do braço só para pegar esses artistas. Já no rádio entramos ao vivo todos os dias, das 12h às 14h. Só falto se estou viajando ou gravando.
Guia da Semana: O fato de ser um personagem homossexual facilita a aceitação desse tipo de humor na televisão?
Evandro Santo: Depende de que lado você está posicionando esse personagem gay. Christian Pior é um algoz, não faz a linha vítima. Ele é da turma do fundão, zoa, ataca. Ele não faz a bicha escada do hétero ou que apanha, a bichinha frágil. Ele é maldito, filho da mãe, ataca todo mundo, e claro, também leva as dele. Nesse caso, acho que facilita.
Guia da Semana: Tornar-se conhecido facilitou o trabalho na abordagem com os artistas?
Evandro Santo: Ficou mais fácil sim, o que não pode é ficar fácil demais, senão você perde o foco, já não assusta mais ou as pessoas acham que você não pode zoar porque é amigão demais. Claro que fazer uma piada com a Marieta Severo é diferente da piada que você faz com a Grazi Massafera, até pela questão da idade e da história dessas pessoas. É preciso saber fazer, tem um tom para brincar.
Foto:Arquivo Fã Clube Pior Fan
Fazendo carão em casa
Guia da Semana: Qual foi a experiência mais gratificante na televisão?
Evandro Santo: Foram três: Quando entrevistei a Fernanda Montenegro, a Marieta Severo e quando a Rita Lee me elogiou.
Guia da Semana: E quais você preferia nem lembrar?
Evandro Santo: O quadro Dia de Macho, que envolveu um monte de barata, e o dia em que fizemos o teste de DNA do meu pai e deu negativo.
Guia da Semana: O que o Evandro tem do Christian?
Evandro Santo: Tesão por moda e muita roupa. Só isso.
Guia da Semana: Teremos novidades no Pânico em 2011?
Evandro Santo: Sim, claro, sempre. Mas você vai ter de ver, pois sou muito promíscua para dar uma informação exclusiva! (risos)
Guia da Semana: O que você ainda quer fazer na TV?
Evandro Santo: Eu quero de ter um programa de mulher. Quero chegar à tarde na televisão brasileira e falar para a Dona Carminha que estiver assistindo como ser feliz com R$ 10, passar uma receita de chuchu com carne moída e toques orientais e outras bobagens como essas.
Guia da Semana: Como é o espetáculo Espia Só?
Evandro Santo: É um stand up comigo. Tem um ou dois momentos do Christian, mas no palco eu tiro é sarro dele e do que faço na TV. Eu tenho uma auto-ironia e não fico me poupando. E tem também as pessoas do meu elenco, com participações especialíssimas. A peça é quase um clube sado-masô do humor, com umas piadas bem pesadas. O humor é também exorcismo.
Guia da Semana: Como foi a criação do texto?
Evandro Santo: Ele foi acontecendo e mudando durante esse tempo de estrada. Alguns elementos que ficaram muito bons fui enfiando. Hoje a peça aqui em São Paulo é completamente diferente daquela que lancei em Jundiaí. Dei uma limpada boa para fazer o espetáculo aqui, porque esse povo é mais exigente. Só peguei hits: Borderline, Like a Virgin, Material Girl (risos).
Guia da Semana: Depois da temporada em São Paulo, você já tem agenda?
Evandro Santo: Aqui, a peça vai até 17 de dezembro. E geralmente, quando acaba, ou vou jantar no Paris 6 ou na Bubu Lounge dançar (risos). Na verdade, a peça já está excursionando há um ano e meio. Estou sempre viajando com o espetáculo, fazendo a minha grande ganância tour. É que tô precisando trocar meu fogão, então preciso fazer mais dinheiro agora. (risos)
Atualizado em 10 Abr 2012.