A indústria cultural norte-americana sofre uma crise de criatividade como nunca antes. Uma onda de remakes, reboots e continuações assola as salas de cinema, literatura e séries de televisão.
Apesar de alguns produtos com qualidade boa, como os novos filmes do James Bond, King Kong e Karate Kid, muitos ficam aquém da qualidade de seus originais, sendo possível citar inúmeros exemplos, como Hora do Pesadelo, a nova trilogia de Star Wars e muitos outros.
Não faltam motivos para os fãs terem medo quando anunciam que algumas de suas obras favoritas serão repaginadas. Quando a Warner anunciou que, mais uma vez, fariam um novo desenho dos Looney Tunes, os fãs tremeram de medo.
Parte desse sentimento acontece por medo de as novas versões perderem a graça das antigas se for refeita a ferro e fogo, como aconteceu nas novas e insossas, versões de Tom e Jerry e o Pica Pau. Ou até por medo que o resultado fosse tão medonho como em Loonatics, uma versão "radical" da turma do Pernalonga, feita em 2006. O que ninguém esperava é que O Show dos Looney Tunes pudesse ser tão bom.
Os novos episódios são em formato de sitcom, com 30 minutos de duração, e mostram o cotidiano de Pernalonga e Patolino tendo que dividir um apartamento em um subúrbio norte-americano. Apesar de muito diferente de sua versão antiga, essa visão contemporânea mantém-se muito fiel à essência de seus personagens e as situações são hilárias, dignas de seriados como Two and a Half Men e Friends.
Todos personagens estão lá da forma como aprendemos a gostar deles: Eufrazino, agora, é uma vizinho briguento; o Gaguinho é o amigo loser; e até a Lola Bunny, que surgiu em Space Jam, faz as vias de namorada neurótica. Mesmo os personagens que não se encaixam neste clima mais urbano ganharam espaço em pequenos clipes musicais, claras homenagens aos Merries Melodies que deram origem à turma.
O Show dos Looney Tunes acerta onde a maioria erra: ele não tenta recriar os personagens clássicos, nem dar uma nova cara mas, sim, dá um passo adiante com aqueles personagens que nos familiarizamos na infância. Sobra o apelo para as crianças nas tradicionais gags físicas a la Buster Keaton, e ainda há espaço para encantar os adultos com referências à cultura pop, como a origem do Pernalonga misturada com a do Superman, e piadas de humor negro, como algumas incitações sobre o sadismo do Pernalonga, a amizade da dupla de protagonistas e a orientação sexual do Gaguinho.
No final, fica um bom gosto de nostalgia: saber que nossos personagens favoritos da infância cresceram juntos com a gente, e vê-los ali enfrentando problemas com os vizinhos, contas e o cotidiano. Uma homenagem mais que merecida a estes personagens que foram revividos, e que, se fosse imitado por todos, não haveria nenhum problema nessa onde de remakes, reboots, prequels (histórias que apresentam os personagens em um tempo anterior ao que já conhecemos) e todos esses outros. Por enquanto é só pessoal!
Leia as colunas anteriores de Edson Castro:
Onde correr em São Paulo
Irmãos - O Xingu dos Villas-Bôas
Guerra dos Tronos
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Atualizado em 1 Dez 2011.