Guia da Semana

Foto: TV Globo/Zé Paulo Cardeal


No início da televisão brasileira, a busca por uma programação com a cara do país permitia a produção de atrações jornalísticas diferenciadas, com profissionais respeitáveis e formatos variados. A censura dos anos de chumbo contribuiu para que a inventividade no telejornalismo diminuísse consideravelmente, e o formato que se instituiu a partir daí foi "copiado" da TV norte-americana, com uma postura sisuda, séria e formal.

Tempos mais recentes permitiram que a busca pela informalidade tivesse início. Telejornais matinais ou vespertinos, aos poucos, passaram a ficar menos engessados, permitindo que âncoras e repórteres se mostrassem mais "humanos" diante das câmeras. Já valia risadas, comentários e linguagem mais coloquial, mais próxima do espectador. Em suma, um jornal mais "conversado".

No entanto, a informalidade parecia algo distante dos jornais de horário nobre da televisão brasileira. O Jornal Nacional, por exemplo, telejornal de maior audiência do país, não ousava deixar a seriedade do trato às notícias em segundo plano. Não era possível imaginar William Bonner e Fátima Bernardes fazendo comentários singelos à la Sandra Annenberg e Evaristo Costa, dupla do Jornal Hoje. Entretanto, não é de hoje que o JN tem flertado com uma maior proximidade com o espectador.

Em março deste ano, durante a entrega dos prêmios Melhores do Ano no Domingão do Faustão, William Bonner, que concorria na categoria jornalismo ao lado de Fátima Bernardes e Tiago Leifert, disse que a informalidade deste último influenciou uma linguagem mais direta no Jornal Nacional. Leifert, que apresenta o Globo Esporte de São Paulo e o Central da Copa, imprimiu a informalidade dentro do jornalismo esportivo global que era inimaginável alguns anos atrás. O apresentador dispensa o teleprompter e não deixa de fazer piadinhas entre uma matéria e outra. Deu tão certo em São Paulo que o formato se estendeu para outras praças e o Globo Esporte tem, hoje, outra cara. E que, como o próprio Bonner admitiu, com influência direta no JN, que está bem menos engessado que outrora.

No SBT, também existe esta busca pela informalidade. Tentando dar uma nova identidade ao seu departamento de jornalismo, a emissora de Silvio Santos acaba de reformular seu principal jornal, o SBT Brasil. Orquestradas pelo diretor de jornalismo Alberto Villas, as mudanças incluem uma dupla de âncoras com total liberdade para tecer comentários e pautas que se assemelham às vistas em revistas eletrônicas.

No novo SBT Brasil, há espaço para matérias comportamentais e séries de reportagens com ares de reality show. Numa edição recente, uma longa matéria destacava um desafio à repórter Simone Queiroz: passar um dia inteiro pelas ruas de São Paulo, realizando programas de gastronomia e entretenimento, sem gastar um tostão. Em outra matéria, uma repórter acompanhou um fumante inveterado que prometeu ficar um dia sem fumar. Ou seja, assuntos que poderiam constar nos tradicionais programas matinais da TV. Tudo isso comandado por Rachel Sheherazade, jornalista que ficou famosa por conta de um editorial em que criticava o carnaval que virou hit na internet, e Joseval Peixoto, vindo direto dos domínios da rádio Jovem Pan.

Um jornal com linguagem informal é um desafio para as emissoras: afinal, como equilibrar descontração e credibilidade? A Globo, aos poucos, tem conseguido desengessar seus noticiosos, enquanto o SBT tateia a melhor maneira de falar com seu público. Desde que não prejudique a informação, as tentativas são sempre válidas.

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O que faz: Jornalista e blogueiro.

Melhor lugar do mundo: Minha pequena cidade de Ilha Solteira - SP.

Pecado gastronômico: Filé à parmegiana... e batata frita!

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Atualizado em 10 Abr 2012.