Quando pensamos em um grupo de rap brasileiro que ao mesmo tempo atinge a periferia e a alta sociedade, o primeiro nome que nos vem à mente é a banda Racionais MC´s. Formada em 1988, na região central (bairros do Glicério, Cambuci e Ipiranga), em São Paulo, a proposta do conjunto sempre foi cantar letras que falassem das dificuldades de inclusão social, da violência nas zonas periféricas, além de temas ligados à fome, pobreza e preconceito racial. Inicialmente, o grupo era composto pelos rappers Mano Brow (Pedro Paulo Soares Pereira), Ice Blue (Paulo Eduardo Salvador), Edy Rock (Edivaldo Pereira Alves) e KL Jay (Kleber Geraldo Lelis Simões).
O nome do grupo foi inspirado pelo disco Racional (1972), de Tim Maia. A faixa desse LP, Ela Partiu, também inspirou a canção O Homem na Estrada - um dos maiores hits do Racionais até hoje. Ainda em 1988, eles integraram a trilha da coletânea Consciência Black, Vol I., com as músicas Pânico na Zona Sul e Tempos Difíceis. O primeiro além foi gravado em 1990, Holocausto Urbano. Nessa época, a banda realizou uma série de shows em lugares de baixa renda da Grande São Paulo, além de duas apresentações na Febem (hoje Fundação Casa).
Em 1991, conquistaram um maior reconhecimento com o convite para abrir o show da maior banda de hip hop dos Estados Unidos, o Public Enemy, realizado no Ginásio do Ibirapuera, na capital paulista. A partir daí, passaram a desenvolver projetos em comunidades carentes, entre eles, uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Nesse trabalho, eles visitaram diversas escolas, onde deram palestras sobre racismo, drogas e a questão da violência por parte dos policiais. No ano seguinte, foi lançado o segundo CD, Escolha Seu Caminho.
Em 1993, gravaram o terceiro disco, Raio X Brasil, com show de lançamento na quadra da escola de samba paulistana Rosas de Ouro, para um público de 10 mil pessoas. As canções de destaque desse álbum foram Fim de Semana no Parque e O Homem na Estrada - sucesso absoluto nos tradicionais bailes de hip hop do país. Em 1994, o grupo se envolveu em uma polêmica, ao se apresentarem no festival Rap no Vale, no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. Durante o show, a multidão de fãs se atracou com policiais, que acusavam o grupo de incitar à violência. O resultado virou uma batalha, que culminou na prisão da banda. No mesmo ano, a gravadora Zimbabwe Records lançou a compilação Racionais MC´s.
A resposta do grupo para todos esses acontecimentos aconteceu em 1997, com o lançamento do álbum mais bem-sucedido do grupo e que alavancou a carreira de vez. O disco Sobrevivendo no Inferno foi gravado pelo próprio selo da banda, a Cosa Nostra. O trabalho é uma chuva de protestos do grupo, representada pelas faixas Fórmula Mágica da Paz, Capítulo 4, Versículo 3, Mágico de Oz e Diário de Um Detento - essa última, responsável pelo estouro do grupo na MTV e cujo videoclipe venceu a categoria Escolha da Audiência em 1998. Ao subir ao palco para os agradecimentos, Mano Brown provocou a plateia dizendo que sua mãe já deveria ter lavado um monte de roupa dos "boys" presentes na premiação.
Em 2002, veio o álbum Nada Como um Dia Após o Outro Dia, novamente sucesso de vendas, que trouxe os hits Vida Loka I, Vida Loka II, Nego Drama e Jesus Chorou. Quatro anos depois, foi a vez de gravar o primeiro DVD, 1000 Trutas, 1000 Tretas. No dia 5 de maio de 2007, o conjunto de se envolveu em mais um conflito com a polícia, durante a apresentação na Virada Cultural de São Paulo - pela demora em subirem ao palco, os fãs começaram um quebra-quebra, que resultou em uma batalha com a polícia. Após esse episódio, as apresentações de bandas de rap e hip hop diminuíram drasticamente nas outras edições do evento. A partir de 2010, o Racionais MC´s contava em tempo integral somente com as presenças de Mano Brown e Ice Blue. Atualmente, KL Jay e Edy Rock aparecem em shows esporádicos, por desenvolverem outras parcerias musicais.
Foto: Divulgação / Arquivo RBS
Atualizado em 6 Set 2011.