Guia da Semana

Foto: Getty Images


Em 1993, o paulistano Leandro Neves decidiu abrir uma barraca de hot dog em frente à loja de tintas de seu pai. Na época, com19 anos, montou o negócio para complementar a renda da família. Com o passar do tempo, o comércio do seu pai fechou e o jovem empreendedor passou a viver das vendas dos lanches. Quatro anos depois, começou a trabalhar com um carrinho de cachorro-quente na Avenida Paulista. Como a região sempre foi muito visada pelos fiscais da Prefeitura de São Paulo, ele transferiu a barraca para a Joaquim Eugenio de Lima, uma travessa da Paulista.

Em 2001, com ajuda de empréstimos, ele inaugurava a primeiro ponto fixo. Sempre com opções diferenciadas de molhos e com um hot dog incrementado, o Black Dog, como já chamava desde a primeira barraca, ganhou destaque na madrugada e passou a atrair jovens de várias regiões da cidade. Hoje, aos 35 anos, Leandro Neves é responsável por uma marca forte no mercado. Com duas lojas próprias e nove franquias, sendo uma em Goiânia e outra em Belo Horizonte, atualmente, a rede vende em média 100 mil lanches por mês.

Histórias como a de Leandro servem de exemplo a vários empreendedores e estimulam a abertura do próprio negócio. Mas não é tão simples conquistar o sucesso. Para chegar ao patamar em que está hoje, o dono do Black Dog conta que trilhou um caminho difícil, muitas vezes sem orientação. "Eu cresci sem conhecimento, mal estruturado, e passei por algumas crises. Não é fácil trabalhar por conta própria. É preciso ter persistência e dedicação. Muitas pessoas pensam em abrir o próprio negócio para trabalhar pouco, mas é exatamente o contrário que acontece", conta.

Para ele, existem vários fatores que contribuíram para o êxito do Black Dog. Ele afirma que a persistência, os produtos de qualidade, a localização e o atendimento diferenciado foram fundamentais para o sucesso da empresa. "Uma coisa é vender um pão com salsicha e outra coisa é vender um Black Dog, que é um lanche caprichado, feito de acordo com o gosto do cliente", relata.

Foto: Camila Silveira

Leandro Neves na loja Black Dog dos Jardins, em São Paulo

Como começar

De acordo com a consultora jurídica do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Sandra Regina Fiorentini, antes de abrir o negócio próprio, é necessário planejamento e conhecimento. "O primeiro passo para quem quer abrir a própria empresa é identificar o tipo de atividade que será desenvolvida. A partir daí, o ideal é elaborar um plano de negócio, no qual é feita a pesquisa de mercado. É muito importante também verificar se o que o mercado está necessitando é compatível com sua aptidão", explica.

Depois de escolher o ramo de atividade, o empresário decide se deseja ter um sócio ou se prefere atuar individualmente. Se ele optar por abrir uma empresa sozinho, vai constituir-se como um empresário individual, que significa que a pessoa deve responder ilimitadamente com o seu patrimônio pessoal no caso de insucesso da empresa. Segundo dados do Sebrae-SP, somente no estado de São Paulo há cerca de 3,5 milhões de pessoas que trabalham por conta própria. As regiões metropolitanas de São Paulo concentram 57% desses empreendedores.

Caso o empresário opte por ter um sócio, os investidores respondem pelo insucesso da pessoa jurídica no limite do capital social. Porém, na hora de escolher o sócio é necessário ter cautela para evitar problemas futuros. "É preciso verificar se o sócio compartilha os mesmos objetivos, se ele vai auxiliar na administração e se é alguém confiável. Depois desses pontos serem analisados, eles vão se constituir como sociedade empresária do tipo limitada, que visa a preservação do patrimônio social dos sócios", diz Sandra.

Outro ponto importante para garantir o sucesso da empresa é a escolha do ponto comercial. A consultora do Sebrae-SP afirma que nessa fase é imprescindível verificar se é possível abrir o tipo de negócio escolhido na região desejada. Para isso, é preciso ir à Subprefeitura da região e procurar a Lei de Zoneamento, que mostra quais atividades são permitidas na área.

Depois, é preciso avaliar quais são as condições do imóvel e conferir ele se está regularizado junto à Prefeitura. "A escolha do local é muito importante. É necessário verificar se há lugar para estacionar, se é uma região perigosa, se está em um zona de enchentes, entre outros fatores. Para abrir um negócio, é necessário ter mínimas chances de errar", alerta.

Mortalidade de empresas

De acordo com pesquisas do Sebrae, entre as principais causas que levam ao fechamento das empresas estão a falta de planejamento prévio, a gestão deficiente do negócio e a falta de conhecimento na formação de preço de venda, entre outros fatores. Mas um dos principais erros cometidos pelos empresários é não saber separar o dinheiro da empresa com gastos da pessoa física. "Muitas vezes o empresário usa o caixa da empresa como um banco de crédito ilimitado para a família. Quando chega ao final do mês, não há dinheiro para pagar os gastos da empresa", explica.

O último monitoramento da sobrevivência e mortalidade de empresas feito pelo Sebrae-SP mostra que 27% das empresas paulistas fecham em seu primeiro ano de atividade. Para Sandra Fiorentini, o fechamento das empresas está diretamente ligado com a falta de conhecimento do empresário. "Para garantir o sucesso, é necessário ser o mais profissional possível. É muito importante frequentar cursos, palestras e buscar orientação de um profissional da área. O conhecimento é imprescindível para uma boa administração" pontua.

Segundo pesquisas do Sebrae, 67% das empresas que abrem e não buscam o conhecimento fecham em cinco anos. Entre as empresas que abrem e buscam orientação, só 29% fecham."Fracasso é a falta de dinheiro. E a falta de dinheiro é consequência de uma má administração. Porém, mesmo quando a pessoa está à beira da crise sempre há uma solução", alenta.

Principais erros cometidos por quem abre o próprio negócio:
  • Misturar o dinheiro da empresa com os gastos da pessoa jurídica;
  • Falta de conhecimento na formação de preço de venda;
  • Falta de registro dos funcionários;
  • Não fazer pesquisas de mercado;
  • Trocar cheque pré-datado.

Atualizado em 6 Set 2011.