Uma das pioneiras da dublagem no país, Gessy Fonseca fez a voz da Mulher Gato em Batman, o Retorno
De quem é a voz inconfundível do Pato Donald e do Scooby Do? Quem faz a doce entonação em português da Claire Danes em Romeu e Julieta ou de Christopher Atkins no clássico e tantas vezes reprisado Lagoa Azul?
Você pode até não saber de quem são, mas com certeza quando ouvir terá aquela sensação de conhecer de algum lugar. Timbres que apresentaram o maravilhoso mundo dos desenhos animados e acompanham até hoje as sessões da tarde, de alguma forma ou de outra, têm um espaço na nossa memória.
"A primeira dublagem brasileira que temos registro é a da Branca de Neve e os Sete anões, de 1938. Na época era feita por atores do rádio e foi em cima dessa origem que a arte foi ganhando forma aqui", explica Mario Spatziani, coordenador artístico do curso de dublagem do estúdio digital Belas Artes.
Do rádio para a telinha
Foto: Divulgação
Assim como a maioria das dubladoras, Gessy era uma atriz do rádio
A voz da Branca de Neve ganhou versão brasileira com Dalva de Oliveira, a famosa e querida rainha do rádio. As canções do longa-metragem também ganharam tradução em português, adaptadas pelo compositor João Barro, conhecido como o Braguinha.
Mas o pontapé para o crescimento da arte no país foi dado em 1962, quando o presidente Jânio Quadros determinou, por meio de um decreto, que todos os filmes que fossem transmitidos pela televisão deveriam ser dublados. Em pouco tempo, foi criado um dos primeiros estúdios de dublagem completamente nacional, o Herbert Richers.
Uma das dubladoras pioneiras no país, Gessy Fonseca iniciou sua carreira no rádio antes de participar do primeiro filme nacional dublado Caiçara, de Adolfo Celi, no papel de Eliane Laje. É dela também a voz da Mulher Gato no Batman, o Retorno; a Tia May em Homem-Aranha; a Eileen Essell, em Duplex; a Hazel Foley em Titanic e outros clássicos personagens da telinha.
Foto: IMDB
Gessy Fonseca interpreta a voz da senhora Eileen Essell no filme Duplex
Principais dificuldades
Aos 87 anos, Gessy continua na ativa e acaba de completar 70 anos de carreira. A simpática senhora, que já passou pelo rádio e pela televisão, é até hoje apaixonada pelo trabalho de dubladora, mesmo admitindo a dificuldade do ofício. "Você entra na sala, te dão um papel com tudo o que você tem que falar e não há interação. Às vezes, tem que entrar chorando e não está com esse sentimento, é muito mais difícil para convencer", conta.
Mario Spatizi explica que a dublagem deve passar tudo o que está sendo feito em cena, independente da imagem - uma marca clara deixada pela influência do rádio - exigindo uma interpretação muito maior. Isso explica por que muitas vezes há a sensação de uma entonação caricata, diferente do som original que vem do filme.
De 1938 para cá foram muitas as mudanças. O avanço tecnológico facilitou o sincronismo entre a fala e a imagem, mas, ao mesmo tempo, começou ser exigido um trabalho muito mais rápido do dublador. "Os prazos de gravação são muito curtos, não dá para ensaiar os personagens para gravar ou entender a história do filme", afirma Mario.
Mesmo com as dificuldades, a dublagem brasileira foi aos poucos evoluindo e conquistando elogios do público e da crítica, principalmente nas animações. Com uma liberdade maior para criar expressões e entonações, as vozes nos desenhos animados são queridas pelos que assistem e pelos profissionais, que normalmente tem um gosto maior por esse trabalho. "É mais gostoso e divertido dublar desenhos", afirma Gessy Fonseca, que já participou de Bob Esponja e O Pequeno Urso, divertindo crianças de todas as idades.
Atualizado em 7 Out 2011.