Guia da Semana

Em 2014, mais precisamente no dia 1º de Abril, completam-se 50 anos da ditadura militar no Brasil. O período, que durou pouco mais de duas décadas, foi implantado pelas Forças Armadas, que derrubaram o governo do então presidente constitucional, João Goulart. A sociedade civil, que temia sua aproximação com os ideais esquerdistas, apoiou a ação dos militares.

A censura aos meios de comunicação e a adoção de medidas extremamente autoritárias, como a criação de Atos Institucionais, dava ao governo o controle sobre a população. O período, marcado por violações aos Direitos Humanos, tal como a violenta repressão e as inúmeras mortes, é constantemente retratado em livros, filmes e documentários.

“Trata-se de uma das páginas mais tristes da nossa história, tanto pela aniquilação dos direitos mais fundamentais dos cidadãos brasileiros como pelas inúmeras práticas violentas e assassinatos cometidos pelo Ditadura Militar em nome de uma suposta "ordem nacional”, analisa Fernando Caiafa, historiador e professor do Colégio Objetivo. O historiador realçou também a importância do cinema em abordar assuntos como esse, para que sejam relembrados e possam servir de aprendizado.

Vladimir Herzog, tema do documentário "Vlado, 30 anos depois"

Um exemplo é o documentário “AI-5 – O dia que não existiu”, produzido em 2001. Sua história concentra-se em um episódio curioso do regime militar. O governo esperava licença por parte da Câmara dos Deputados para processar o deputado Márcio Moreira Alves, que havia se pronunciado contra o regime. No dia seguinte, foi instituído pelo então presidente Artur da Costa e Silva o Ato Institucional Nº 5, em represália ao episódio. A partir desse momento, o país conheceria os anos mais pesados de sua história, apelidados de “Anos de Chumbo”.

“É muito difícil interpretar um personagem real, ainda mais quando a pessoa ainda está viva. Foi preciso que eu adotasse um sotaque e uma voz diferentes da minha”, conta Maurício Branco, ator que representou o papel de Márcio Moreira Alves em “AI-5”. Ele relata, ainda, que no Brasil há um grande problema de distribuição de documentários em geral. As pessoas se interessam, mas as distribuidoras não, pois o lucro é pequeno.

Maurício Branco

Adélia Sampaio, codiretora do documentário, viveu a ditadura na pele, por isso, dispensou um estudo aprofundado sobre o tema. “Tivemos acesso às cartas da plenária guardadas por uma funcionária. Não foi preciso pesquisar, eu vivi o terror deste tempo. Tive um marido preso político e sofri agressões da Polícia Militar”, lembra.

A respeito do retorno ao debate que um filme como esse traz, Adélia acredita ser expressivo por parte dos jovens universitários. “Eles se empolgam ao ouvir o que se passou neste país. Foram anos de absoluto silêncio e medo”.

Desde 2012, a Comissão da Verdade vem facilitando a produção de filmes e documentários inéditos. Novos fatos são evidenciados com maior precisão e detalhe. “Estou elaborando um roteiro, onde pretendo mostrar as dificuldades, sofrimentos e humilhações que passamos na época das visitas”, anuncia a cineasta. “Meu marido, hoje ex-marido, foi preso no MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro)”. Foi torturado e perdeu a audição do ouvido esquerdo. Por um ano e meio, ficou rodando de Ilha em Ilha até ser absolvido”, desabafa.

Para Fernando, a ditadura militar é um tema delicado de ser abordado. “Primeiramente é quase impossível não adotar uma posição. Além disso, muitos envolvidos em histórias obscuras do período ainda estão vivos e isso poderia criar uma situação ainda mais complicada”, completa o professor.

Por Thomas Aoki, aluno do 1º semestre do curso de jornalismo da ESPM

Atualizado em 8 Abr 2014.